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Midsommar – O Mal Não Espera a Noite | Crítica

O cineasta Ari Aster segue sua trajetória de criar terror com clima de arte visual. Quase como se estivéssemos entrando em uma grande vernissage em forma de filme. Essa comparação pode soar em tom de cinismo, mas assistindo a Midsommar – O Mal Não Espera a Noite, que estreia dia 19 de setembro no Brasil, você perceberá que não. Nesse novo filme, ele repete um pouco do que fez no excelente Hereditário (2018), mas desta vez, sem jogo de sombras. Agora tudo é colorido e iluminado, e florido ao extremo, amparado em um grande festival de solstício de verão em um país nórdico, onde todos são assustadoramente loiros, ruivos, de olhos e roupas claras, subvertendo o estereótipo de tudo que você já viu em um filme feito para assustar. E assim como em Hereditário, Aster chega a estes sustos de forma impactante, incômoda e perturbadora de nossas mentes. Ao assistir Midsommar tenha isso na cabeça: nada é parecido com as fórmulas hollywoodianas de terror com o qual se está acostumado pela influência do cinema norte-americano. E mesmo com quase 100% de luminosidade, temos provavelmente um dos melhores filmes de terror deste ano.

No início de tudo, parece que vamos caminhar para um drama urbano, com personagens mostrando suas dificuldades de relacionamento, tal qual muitas obras já vistas. Mas não. Passada a apresentação de Dani (Florence Pugh, que estará no filme da Viúva Negra), seu namorado Christian (Jack Reynor), e seus amigos Pelle (Vilhelm Blomgren), Josh (William Jackson Harper) e Mark (Will Poulter do filme Black Mirror, “Bandersnatch”) e o trauma inicial de grandes perdas e os diferentes motivos que levam os jovens pesquisadores para a Europa, Aster faz questão de colocar tudo de cabeça para baixo – e de forma bem literal, como na transição de câmera da chegada do grupo à remota Vila na Suécia.

Todos de branco, com olhos azuis e bonzinhos demais. Alguma coisa não está certa aqui…

É nesta Vila que tudo vai começar a ser subvertido. Mas até chegar aqui, tente ficar atento a tudo que ele nos joga na telona desde o primeiro frame de filme. Em várias pinturas de telas, quadros nas paredes e elementos de fundo de cena, temos símbolos, pistas, e até mesmo pequenos spoilers do que virá pela frente nas próximas 2 horas e 27 minutos. Vale o destaque desde já para a atuação de Florence Pugh, que em pouco tempo de tela já nos deixa realmente preocupados. Quase comovidos.

O que seria um festival de verão para solteiros, acaba virando uma saída de campo para algumas ideias de teses de mestrado. O que poderia ser também uma viagem de conhecimento, vai aos poucos desmoronando. Primeiro no relacionamento do casal Christian e Dani, que sempre se mostrou titubeante por parte do rapaz, e depois, no ciclo de amizades que também é esquecido por todo o contexto do novo ambiente, culturas e pessoas ao redor dos jovens. A tal vila sueca vai mexer com a mente de todos os visitantes (e claro, com a sua também). E logo na primeira amostra mais visceral, nem mesmo a reação mais esperada será suficiente para salvar os visitantes.

Amigos amigos, dissertações à parte!

Midsommar pode ser visto em vários contextos. As camadas vão surgindo conforme se vai pensando cada vez mais na obra. Você pode fazer várias leituras. É um filme surrealista sobre a família (e seus diferentes tipos). É um filme sobre relacionamentos. Ou ainda, pode ser um filme sobre uma sociedade que se vende perfeita, mas no fundo, é muito podre. E tudo isso é contado de forma que mescla a boa atuação dos protagonistas e antagonistas (você realmente vai se assustar com eles), a cor, as flores, as alucinações, e o jogo de câmeras, que vai te colocar dentro da vila nórdica. A câmera, por vezes, torna-se quase um novo personagem. Sob essa lente, começaremos a ver cada vez mais os detalhes que tornarão um ambiente amigável em uma colônia de férias de horrores. Um festival que você jamais imagina como pode terminar.

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Veredito da Vigilia

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