M3gan chega aos cinemas já sabendo que é franquia
M3gan requenta e aumenta o número de bonecos assassinos da história do terror no cinema
James Wan segue sua sina de “midas do terror blockbuster”. Agora, novamente na produção, ele nos apresenta M3gan, uma boneca assassina que, mesmo não parecendo original em sua proposta, consegue ser boa e honesta o suficiente para entregar o que mais se espera do gênero: entretenimento do início ao fim. E coube ao cineasta Gerard Johnstone definir o pacote completo, com uma direção acertada, sem cair na galhofa que o próprio marketing do filme acaba nos provocando a cada vez que vemos o meme da robô dançarina pelas redes sociais na internet. M3gan não parece, mas é um acerto e fica a milhas à frente de “pseudo” franquias que também ganharam o carimbo de Wan, tais como os sofríveis A Freira, Annabelle e A Maldição da Chorona. Ok, pode não ser muita coisa… mas é.
A trama é muito semelhante ao que vimos no remake de Brinquedo Assassino de 2019. Pois é, o “cadáver” do Chucky eletrônico nem mesmo esfriou e já estamos diante de algo bem parecido. Mas em nenhum momento isso chega a ser um demérito. O cinema está aí para nos provar que uma ideia pode ser utilizada e reutilizada à exaustão, desde que se prove não ser uma simples cópia. E assim como o Chucky de 2019, temos na história uma criança que acaba recebendo um brinquedo. Mas não é um brinquedo normal: M3gan é um super protótipo de um robô que usa sua inteligência artificial para evoluir, com base em um código fonte básico até demais. Importante: ela tem ‘ossos’ de titânio.
Mas M3gan, ao contrário do que já vimos em filmes com bonecos assassinos, não apela para situações sobrenaturais. É quase um terror sci-fi com pitadas de Black Mirror. E o mais legal (e aqui fala a minha vivência atual de pai de duas crianças) é que o filme ainda consegue colocar uma discussão interessante de parentalidade e educação, fazendo com que a relação entre crianças e tecnologia venha à tona de uma forma bem orgânica. Quem é pai vai entender bem o recado: um brinquedo, uma tecnologia, um tablet ou um celular jamais poderá substituir a relação pessoal e social para uma criança com o cérebro ainda em início de formação. Além disso, um drama da vida de pais e mães: o fatídico tempo de exposição de telas (tv, celulares, tablets) que é um tanto ruim para os pequenos. Dá pra tirar várias pequenas lições depois que vemos a pequena Cady (interpretada por Violet McGraw (Viúva Negra e A Maldição da Residência Hill) indo para a casa da tia/madrinha Gemma (Alisson Williams, de Corra!). Uma bela surpresa para um produto quase descartável hoje em dia.
Mas Johnstone conduz essa saga com muita competência. O arco inicial logo de cara nos apresenta um mundo atual com brinquedos um tanto bizarros. A propaganda que abre o filme e já nos insere nesse mundo é divertida, bizarra, e ao mesmo tempo, honesta (até) demais. Depois disso, vemos um acidente importante, mas que parece não ter o peso dramático mais adequado, e a tentativa de uma mulher que optou pela carreira – e não pela família – tendo que lidar com situações que não estava nem um pouco preparada.
O filme também nos ganha por protagonistas carismáticas. Cady, ou melhor Violet, já mostrou sua flexibilidade em outras produções, enquanto Alisson Williams consegue se descolar do papel de namorada racista e psicopata que vimos em Corra!. Ao redor delas temos um elenco enxuto, mas eficaz nas subtramas que precisa desenvolver e contextualizar. Acima de tudo, o longa usa muito bem as novas tecnologias conectadas e a ‘internet das coisas’ para nos amparar e renovar a tal da história de um “boneco” que se transforma em um serial killer. No quesito mortes, temos uma violência interessante, mas nada tão gore como se pode imaginar. Os danos físicos aos seres humanos serão contidos, mas não menos impactantes. E claro, para sensibilizar ainda mais as plateias, temos perdas caninas e de crianças.
E fazendo esse contorno bem básico, um feijão com arroz bem temperado, M3gan, o filme que parecia fadado aos memes da internet, acaba se saindo muito bem. Mesmo sendo expositivo em determinados momentos (o olhar do cinéfilo mais atento logo vai matar a charada de um possível desfecho da trama), o filme nos ganha com o “menos é mais”, entregando tudo é preciso (checklist completo do terro blockbuster) em apenas 1h42. O que vamos combinar (e eu não canso de falar) é um grande mérito. A cena final, como já apontei no título, é eficaz em dizer: M3gan será sim uma franquia.
M3gan é pipoca garantida!