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A Freira, a derrota da empolgação | Crítica

Sabe aquele time que tá com toda pinta de campeão e entrega o campeonato nas últimas rodadas por pura vaidade? Pois é (infelizmente) o que aconteceu com A Freira e o universo do terror liderado por James Wan com a New Line e a Warner Bros. Pictures. Afinal, depois de uma boa costura feita com dois títulos de A Invocação do Mal e a temida boneca Annabelle, o produtor apostou na expansão desse universo, contando mais um prequel (história que antecede os capítulos já lançados) com A Freira. E nas mãos do diretor Corin Hardy (A Maldição na Floresta), eles podem ter colocado tudo a perder. E olha que quem escreve aqui é um entusiasta do trabalho da linha de terror seguida por Wan. Cheguei a falar várias vezes no nosso podcast que ele deveria ter sido o líder do Universo Expandido da DC nos cinemas. Mas depois de A Freira, vou ter que conter minha empolgação.

Embora siga preceitos interessantes de costura desse universo do terror, como envolver o casal Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) em introduções e desfechos, A Freira nem de longe parece com seus bons antecessores. Roteiro, atores (nem todos), trilha sonora e o abuso de clichês prejudicam e muito a experiência nesse filme. Não a toa, os melhores filmes de terror dos últimos anos foram aqueles que conseguiram fugir completamente desses estereótipos que cercam o gênero, tais como Corra!, IT: A coisa (esse um pouco menos) e o excelente Hereditário.

A Freira acaba sendo mais do mesmo, e uma clara derrota da empolgação. O time tinha a vantagem, com tudo que foi feito anteriormente, até de jogar pelo empate, mas foi lá e entregou tudo nos últimos minutos de jogo. Aliás, correção, se a metáfora, for um jogo, o time não entregou no final, mas logo no início, não deixando chances para que, nem no segundo tempo, alguma reação fosse possível. Tudo começa com um enrolado plot de uma freira, Irmã Vitória (Charlotte Hope, de Game Of Thrones) que comete suicídio ao fugir de uma maldição que, sabe-se lá de onde saiu. Mas enfim, é uma freira do mal que está lá assombrando ela. O padre Burke (Damian Bichir) é enviado pelo Vaticano junto com uma noviça, a irmã Irene (Taissa Farmiga, irmã mais nova de Vera Farmiga) para investigar a situação, em um castelo longínquo no interior da Romênia. Até aí, tudo bem, mas a seguir, temos um aglomerado de situações que fogem a qualquer narrativa competente. Soma-se a dupla principal Franchie (Jonas Bloquet) um guia galanteador metido a francês (mas é  franco-canadense) que terá as piores cenas, desde o flerte com a irmã Irene até uma quase redenção.

A freira (interpretada por Boonie Aarons) é assustadora, mas perderam a chance de um novo ícone do terror.

Nada tem grandes explicações, e o filme nos joga direto para os momentos de susto. Ou tentativas disso. E a falta de um roteiro mais apurado e esmiuçado acaba criando uma atmosfera de quase comédia, com cenas que quase acertam na vergonha alheia. E na maioria das vezes, elas acabam sempre com Frenchie. Em determinado momento suas ações chegam a ter uma trilha sonora heroica do tipo “vejam ele salvou o dia”. Sério, pra quê isso? Por outro lado, Bichir e Taissa Farmiga até criam uma certa empatia com o público, mas nada que segure uma sequência de situações sem explicações, apenas com o propósito de exarcebar clichês e estereótipos do terror (eu sei, eu já falei isso…). Temos vultos? Temos. Temos crianças assustadoras? Temos… mas pera, não era um filme com uma Freira? Temos visões? Temos. Temos alucinações e exorcismos? Temos. Temos o sangue de Cristo? Sim, até isso temos, e, novamente, não tem o menor sentido.

A Freira foi um grande deslize do universo de “A Invocação do Mal”, um jogo que estava bem administrado e vitorioso. Mas, infelizmente, o time conheceu a derrota, e da pior forma.

Veredito da Vigilia

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