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Black Mirror | Crítica da 5ª Temporada

Como sempre a nova temporada de Black Mirror chegou de repente, sem anúncio muito prévio e já chamou a atenção dos fãs de futuros distópicos, plot-twists memoráveis e histórias malucas da cabeça do escritor Charlie Brooker.

Neste ano, tivemos um episódio especial com Bandersnatch (leia a crítica aqui), que foi um episódio polêmico (se não for não tem graça) e inovador. Ele trouxe diversas discussões, e é isso que Black Mirror fomenta, mesmo a história não explodindo nossas cabeças (pelo menos foi o meu caso).

O elenco dos novos capítulos da antologia, que sempre traz artistas conhecidos, dessa vez puxou ninguém menos que a popstar Miley Cyrus (a Hannah Montana da Disney) e também dos Vingadores Anthony Mackie (Falcão) e Pom Klementieff (Mantis) em um episódio pra lá de estranho. Mas vamos aos episódios:

Striking Vipers

Dos três episódios dessa ‘temporada’ é o mais “futurístico”, se formos comparar com os outros dois.

Roxette (Pom Klementieff partindo pra “porrada”).

Na trama, dois grandes amigos perdem o contato após um deles se casar e ter um filho. Passados alguns anos, Danny (Anthony Mackie) retoma a amizade com Karl (Yahya Abdul-Mateen II, o Manta Negra de Aquaman) , e os dois voltam a seu passatempo preferido: games de lutas no melhor estilo Street Fighter. Só que agora, eles não podem estar sempre juntos por necessidades da vida adulta. Com isso, Karl  presenteia Danny com uma cópia de realidade virtual do jogo, no qual cada um joga de sua casa. Nesse game versão futurista, a pessoa realmente entra na dimensão do jogo e sente o que acontece durante ele, então sensações vão também para o mundo real. E no mundo virtual, tudo é livre, quase como o mundo paralelo que vimos em Matrix.

O interessante aqui é perceber que tem algo mais nesse jogo, que deixa de ser apenas um passatempo para ser outra realidade em que as pessoas assumem “personagens” (ou avatares, como preferir). Karl, acaba emulando a personagem Roxy/Roxette (interpretada por Pom Klementieff, bizarramente encantadora) e Danny o personagem Lance (Ludi Lin). Mas o que era contato físico brutal (atenção aos spoilers) dos personagens no jogo, acaba se transformando em um caso amoroso baseado puramente no sexo. Ao invés da porradaria, os personagens acabam se beijando e não conseguem resistir a sensação virtual. E aí acaba a trama “Black Mirror” e entramos em um drama em que Karl e Danny negam a homossexualidade (ainda que os personagens do game sejam homem e mulher) “virtual” da família e dos amigos, até finalmente resolverem a questão de forma muito semelhante aos games. É um episódio morno onde se espera aquele plot-twist, mas o final entrega algo plenamente esperado e pouco arriscado, sem muitos aspectos filosóficos, como em alguns episódios antigos da série que nos faziam pirar. Mesmo assim, vale como episódio mediano da série.

Nota 3,0

Smithereens

Melhor episódio da temporada. Nesse sim temos muito o que falar. Vivemos muito essa história nos dias de hoje, e vou dizer que me emocionei em certos momentos, pensando no quanto o ser humano é estúpido e banal. Vamos à história!

Tensão e toques de realidade com Andrew Scott e Damson Idris.

Chris (o ótimo Andrew Scott, o Moriarty de SHERLOCK) é um motorista de aplicativo que espera os clientes sempre na frente da empresa Smithereen, uma gigante criadora de uma rede social “como a gente conhece”.

Atrapalhado, ele sequestra um funcionário da empresa, e após uma fuga desastrada da polícia, faz o que pretende com o sequestro: falar com o criador da rede social Marc… ops Billy Bauer (o nosso querido Topher Grace de The 70’s Show). Percebendo que o funcionário sequestrado (Damson Idris) é apenas um estagiário e não tem contato nenhum com o criador da multinacional, o contato se torna cada vez mais complicado, o que rende uma porção de pessoas, entidades, empresas e órgãos governamentais envolvidos.

E é aí que começam as críticas à nossa sociedade atual. Em certo momento, a polícia não tem todas as informações da pessoa, mas a rede social sim. E a empresa proprietária da rede social mais ainda. Isso é real e assusta. Situações vividas pelos personagens permeiam e muito a realidade. E isso chega a doer. Billy, ligando o modo “Deus” do seu sistema, é ameaçador, mesmo para um cara “zen”, do tipo que faz retiro no meio das montanhas. Ele simplesmente desliga os órgãos do governo no meio da negociação, mostrando que pode realmente ser “Deus”. O final, apesar de óbvio, nos deixa muitas reflexões sobre como estamos levando as nossas vidas. Aproveitando o momento, aconselho o episódio 195 do podcast Segurança Legal, onde é discutido o livro “Dez Argumentos para Você  Deletar Agora Suas Redes Sociais”.

Nota 4,5

Rachel, Jack and Ashley Too

Esse episódio deve ser a porta de entrada para o universo Black Mirror para muita gente. Com a presença de Miley Cyrus em um dos papeis principais da trama, muitos fãs devem conferir essa participação. Sejam bem-vindos, e não se apavorem, pois esse episódio é o mais receptivo possível, sem maluquices como sexo com porcos, abelhas robôs ou ainda Inteligência Artificial (IA) de alguém morto implantada em um robô.

Poster de divulgação do Episódio com Miley Cyrus

O episódio conta a história de Rachel (Angourie Rice, a Betty de Homem-Aranha de Volta ao Lar) e Jack (Madison Davenport) duas irmãs novas na cidade. Cada uma, no seu estilo, tenta se enturmar no novo loval. Rachel é fã de Ashley (Cyrus fazendo um papel que parece ter relação com a sua vida, fãs me ajudem…) e Jack é fã de rock vintage dos anos 80-90. Com o lançamento da boneca robô que contém a IA de Ashley, Rachel começa uma relação de amizade muito forte com a robô (que poderia até ser melhor explorada). Mas a nova “amiga” lhe faz passar por um momento vexatório, e ela desiste da robô temporariamente.

No meio disso tudo, Ashley está sendo explorada pela tia (Susan Pourfar) e empresária, e, sem muitos spoilers, vai levar a trama para uma semi-aventura que reúne as irmãs com a personagem de Cyrus.

Não há grandes teorias ou ainda discussões filosóficas sobre esse episódio, além de abuso e fama, assuntos que já estão bem batidos para os fãs de Cyrus (que está muito bem na atuação). É o episódio que Charlie Brooker provavelmente escreveu justamente para trazer mais espectadores, com um ritmo aventuresco. Mesmo interessante, faltou melhorar a discussão de onde a tecnologia influencia a vida. E no plot-twist (adoramos plot-twists!), o rock vence no final.

Nota 2,5


Éderson Nunes

@elnunes

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