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Infiltrado na Klan: um pouco de realidade na nossa cara | Crítica

Reserve duas horas e 14 minutos de sua vida para assistir Infiltrado na Klan (Blackkklansman), novo longa de Spike Lee baseado no livro homônimo de Ron Stallworth. Essa verdadeira obra do cinema em 2018 entra em cartaz no dia 22 de novembro, mostrando a clássica faceta de Spike Lee: crítica social, mensagem e um filme esperto, que mexe com nossos sentimentos e dá aquela injeção de realidade que, infelizmente, ainda precisamos e muito no nosso mundo.

 

Pra quem julga o livro pela capa (ou o filme pelo pôster), o longa é realmente surpreendente. Mas para aquele que ultrapassa a primeira camada, sabe bem do que o filme trata. O livro de Ron Stallworth foi lançado em 2014, muitos anos depois de suas vivências reais na década de 70. Do que se trata? Bem, o Stallworth é praticamente um herói vivo. Ele quebrou barreiras. Foi o primeiro detetive afro-americano do departamento de polícia de Colorado Springs. Se isso já não fosse o suficiente, foi dele umas das maiores investigações contra o grupo de ódio e extremista Ku Klux Kan (KKK). A história é tão impactante, que o rapaz negro foi membro de carteirinha da auto-proclamada “Organização”. Sente-se na cadeira e prepare-se.

Adam Driver é Flip Zimmerman e John David Washington vive Ron Stallworth, o negro que tirou carteirinha na Ku Klux Kan

Os obstáculos já intrínsecos na vida de um negro na década de 70 só mostram o quão grandioso foi o feito do policial, que no filme é vivido por John David Washington. Uma curiosidade é que ele fez uma ponta no filme Malcom X (também de Spike Lee, de 1992). Junto de seu parceiro de polícia Flip Zimmerman (Adam Drive, de Star Wars: Os últimos Jedi), ele passa a frequentar a “Organização” de dentro, levando diálogos próprios por telefone e com o parceiro se passando pelo próprio (e com o nome verdadeiro do policial) durante os eventos presenciais. Fica melhor? Fica. Stallworth passou a estabelecer uma relação pessoal com David Duke (Topher Grace), o grande líder da KKK.

Topher Grace vive David Duke, um completo idiota

O interessante de Infiltrado na Klan é a forma como Spike Lee conduz um filme de investigação policial que oscila entre o humor e as críticas sociais ácidas, divertindo e incomodando o público ao mesmo tempo. Fazendo refletir. A ambientação, interpretações e personagens só melhoram a experiência toda, que faz valer todo o longo filme, sem que ele pareça arrastado. O ritmo e o clima são essenciais. Destaques também para as participações de Topher Grace, Laura Harrier (a Liz de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) e um quase irreconhecível Jasper Pääkkönen (se você assiste Vikings, você sabe do que estou falando) e Paul Walter Hauser (que quase repete seu papel visto em Eu, Tonya). Enfim, o elenco é praticamente excelente.

John David Washington se interessa pela liderança de Patrice (Laura Harrier)

Detalhar um pouco mais cada tempero colocado nessa receita de Spike Lee e Stallworth pode sim estragar sua experiência. Então o importante é não dar muitos spoilers por aqui. Basta você saber que tudo aquilo realmente aconteceu. Ao final da sessão, aquela sensação de embrulhar o estômago vai lhe mostrar que você tem empatia e escancarar (em cenas ainda mais marcantes e reais) que tudo que vivemos em um passado recente e imaginávamos, por algum instante, contornado, ainda existe e bizarramente se fortalece ainda nos dias de hoje. Mas assista, essa é uma das grandes obras do cinema em 2018 e ainda leva a assinatura de boa parte dos envolvidos no oscarizado Corra!, de 2017.

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