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“A Mãe”: realidade e emoção abrem o 50º Festival de Gramado

Até onde uma mãe pode ir atrás do seu filho desaparecido? Maria (Marcélia Catarxo) mostra que essa busca é infinita em “A Mãe”, filme de Cristiano Burlan, que foi escolhido para abrir o 50º Festival de Cinema de Gramado. E, se a escolha da curadoria ou da programação foi para chocar ou emocionar logo na abertura, podemos dizer que a tarefa foi concluída com sucesso.

Como diria Glória Perez, em Pacto Brutal: O assassinato de Daniella Perez (HBO Max), o dia que muda a sua vida se apresenta como um dia comum, um dia normal. Maria seguiu sua rotina. Acordou 5h40 da manhã, despertou seu filho, eles conversaram e ela foi para o trabalho. Passou o dia entre transportes públicos e o centro de São Paulo, onde trabalhava como camelô. Antes de chegar em casa, passou na mercearia do bairro. Ao abrir a porta, teve uma surpresa. Valdo (Dunstin Farias), seu filho adolescente, não estava em casa. Aí vemos começar uma busca incessante e emocionante. Maria enfrenta quem precisar enfrentar para encontrar o filho, vivo ou morto, segundo ela.

A Vigília entrevistou o diretor Cristiano Burlan, que falou sobre “A Mãe”

E aí começamos em uma catarse. Afinal, acompanhamos a vida de Maria em todas as suas vãs tentativas. Começa também a genialidade da atuação da brilhante Marcélia Catarxo. Ela, que foi uma solar Pacarrete, papel que rendeu um Kikito de Melhor Atriz em 2019, entrega uma atuação tão boa quanto no filme de Alan Deberton, mas agora em um papel totalmente diferente. Marcélia, inclusive, avisou para o público antes do filme começar: Maria e Pacarrete são diferentes. Mas ambas são protagonistas de histórias potentes. 

Montado com precisão, o filme possui um vai e vem bem feito. O trabalho da equipe de figurino e produção é encantador. A louça se acumulando na pia, os detalhes das casas brasileiras, a panela no fogão. Quando vemos a casa de Maria, vemos a casa de muitas Marias. Quando conhecemos a história de Maria, lembramos da história de muitas outras Marias. 

Maria é uma mãe que perde o filho. Assim como as Mães da Sé e as Mães de Maio, grupos reais, com participações importantes no filme. Em cenas que mesclam ficção e realidade, documentário com interpretação, conhecemos histórias e nos emocionamos com as perdas. E o mais importante: lembramos que existem muitas e muitas mães, todos os dias, que choram a morte de seus filhos. Muitas mães que voltam para casa depois de um dia comum e nunca mais conseguem retomar as suas vidas. Porque quando uma mãe perde um filho, ela perde parte dela mesma, como bem apontado durante o filme. E Maria mostra isso brilhantemente. Débora, uma Mãe de Maio real, que esteve inclusive em Gramado e aparece no filme, contou que continua lutando para evitar que mais mães chorem essa inversão triste e arrasadora. 

Débora, uma das Mães de Maio, inclusive esteve em Gramado para exibição de A Mãe. Foto: Bruna Monteiro/Vigília Nerd
Débora, uma das Mães de Maio, esteve em Gramado para exibição de A Mãe. Cred.: Bruna Monteiro/Vigília Nerd

Assistindo A Mãe, percebemos que todos devemos lutar para que mães não percam seus filhos. Para que mães não chorem a morte daqueles que geraram, amaram, educaram. Principalmente se essa morte precoce vier das mãos daqueles que deveriam proteger a população. Enquanto a polícia continuar matando jovens periféricos, mães vão continuar chorando. É isso que o excelente A Mãe conta de forma brilhante. Vale a pena assistir!

Veredito da Vigilia

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