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Pacarrete, de Alan Deberton, é arte pura | Crítica

Toda cidade tem seus personagens tradicionais e místicos. Pacarrete é essa personagem na cidade de Russas, no interior do Ceará. Repleto de arte e poesia, o filme teve sua premiére nacional na terça-feira, dia 20 de agosto, no 47º Festival de Cinema de Gramado (de 2019). No circuito aberto, o filme chegou no dia 26 de novembro de 2020.

De encher os olhos, o longa de Alan Deberton é um feito inesquecível ao cinema brasileiro. Dividido em três atos, acompanhamos a vida de Pacarrete, uma ex-bailarina, que não deixa a finessede lado, que é tida como louca pelos moradores da cidade. Mas, acompanhando o íntimo de Pacarrete, vemos que ela é um ser humano incrível, cheio de nuances. Tudo que ela queria era dar de presente à população uma apresentação de ballet pelos 200 anos da cidade. E é aí que a jornada começa.

É importante ressaltar que a história é baseada em uma personagem real. Pacarrete existiu, na cidade de Russos, e foi na história dela que o diretor se inspirou para fazer o filme.

Marcélia Cartaxo dá uma doce e surpreendente vida ao filme. Uma protagonista forte, que mostra toda a arte em sua personificação. Repetindo o sucesso que fez em A Hora da Estrela, Marcélia dá tudo de si em sua melhor forma. Ela enche a tela e acalenta os corações de quem assiste.

Atuação “monstra” de Marcélia Catarxo

Impressiona o fato de que todos os atores e atrizes estão em sua melhor forma. João Miguel dá vida a Miguel e mostra, mais uma vez, que pode ser tudo o que ele quiser no cinema e em qualquer papel, como fez em 3%. O crush supremo de Pacarrete é um dono de bar amável e delicado, que se preocupa com aquela personagem.

João Miguel dá uma aula de atuação.

A casa e o ballet são outros dois personagens do longa. Afinal, aquela casa amarela faz parte de quem Pacarrete é, guardando todas as suas memórias e todas os segredos dela. Segredos que não são revelados, mas que ficam implícitos e acabam bem resolvidos. E o ballet é a grande paixão de Pacarrete, o que teria dado a ela todo o palco que sempre sonhou e que tanto gostava. O final então, pode ser visto como uma grande metáfora e como uma bela homenagem ao teatro.

O ritmo do filme é muito interessante. Com um primeiro ato hilário, que arranca muitas risadas da plateia. Depois o filme vai para um segundo ato de luto e tem uma redenção lindíssima.

Pacarrete é um grande acerto em várias áreas. Elenco, direção, trilha sonora e, principalmente, direção de arte. O visual é tão bem feito que todos os cenários se conversam. Cada um dos três atos tem uma tonalidade diferente, de acordo com a alteração de humor da personagem. Existe um cuidado também em coordenar a cor da roupa de Pacarrete com elementos cenográficos. A trilha sonora também faz sentido com o visual das cenas. Tudo combina, tudo faz sentido, tudo é arte.

Pacarrete é lindo. É inspirador. É arte. A mais pura arte. Que esse seja apenas o início da carreira de Alan Deberton. Aplaudido de pé no Palácio de Festivais, o filme nos faz acreditar, ainda mais no nosso cinema. Vida longa ao cinema brasileiro!

Veredito da Vigilia

Foto destaque: Edison Vara / Agência Pressphoto

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