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3%, a primeira série brasileira original da Netflix | Crítica

Não há nada de novo sob o Sol. É assim que podemos definir 3%, a primeira série brasileira da Netflix, que estreou dia 25 de novembro. Na série, existe o continente e o Mar Alto. O continente é a vala comum, um lugar marginalizado, onde vive 97% da população. Lá, todo mundo está sempre sujo, faltam comida e água e os crimes são comuns. Tudo parece ruína. Porém, quando um jovem atinge 20 anos pode entrar no Processo para ir para o Mar Alto, uma espécie de paraíso.

É mais uma história de distopia juvenil, que já vimos em filmes como Maze Runner e Divergente. Na realidade, parece um Jogos Vorazes filmado com direção de novela (com direito a bebida envenenada). Grande parte dos episódios giram em torno do Processo e suas provas de seleção, que testam os candidatos de diversas maneiras e flashbacks contextualizando um pouco da vida dos personagens.

A ideia dessa série surgiu a partir de um piloto independente que pode ser conferido na íntegra no Youtube:

Nesse piloto, vemos que os nomes, a ideia de processo e as perguntas se mantiveram as mesmas, inclusive, alguns nomes do elenco e da direção atuaram na série da Netflix. A maior diferença é que, no piloto original, os elementos são menos tecnológicos e tudo é mais cinza e mais sombrio do que o 3% do serviço de streaming.

A série e seus questionamentos

E é nos primeiros segundos que já conseguimos ver quem vai protagonizar essa série (mais um resquício das novelas). Michele (Bianca Comparato), Fernando (Michel Gomes), Joana (Vaneza Oliveira), Rafael (Rodolfo Valente) e Marco (Rafael Lozano) são alguns dos concorrentes do processo, que pretendem chegar no Mar Alto. Pela idade e pela forma em que a série foi filmada, os atores poderiam protagonizar mais uma temporada de Malhação.

Um dos maiores furos dessa série é não mostrar o Mar Alto, nem explicar quem é o casal fundador ou o porquê o local foi criado. Ficamos curiosos para saber o que tem “do lado de lá”. Não vemos nem uma prévia de nada, não conseguimos perceber para onde vão os selecionados do Processo. O casal fundador também é um buraco no enredo que não foi desvendado. Quem eles são? Mar Alto é uma espécie de seita? Mas, talvez tudo isso seja a deixa para uma segunda temporada.

Outro ponto que deixou dúvidas e foi pouco explorado foi “A Causa”. Teoricamente, esse seria um grupo que combateria o Processo. Esperava que A Causa fosse atuar mais contra o Processo ou que, pelo menos, nós soubéssemos o que motivou ou quem liderava esse grupo. Fica mais um questionamento a ser respondido.

Ezequiel (João Miguel) é um dos melhores personagens da série no quesito construção de personagem. João Miguel realiza uma das grandes atuações de 3%. Ele foi casado com Júlia (a lindíssima Mel Fronckowiak, parabéns Rodrigo Santoro), a primeira pessoa a se suicidar no Mar Alto. O gerente do Processo prega que “Você é criador do seu próprio mérito”, frase que Júlia falou para ele (descobrimos isso nos mini-flashbacks-gigantes). Ele convence, todos os anos, centenas de jovens a se envolverem com as provas do Processo. Provas essas que testam os candidatos de diversas formas. Uma, inclusive, lembra muito O ensaio sobre a cegueira, de José Saramago. Confinados, eles precisam lidar com os instintos mais primitivos.

“3%” tem alguns erros, não traz nenhum elemento muito surpreendente, mas cumpre a sua função, serve como entretenimento. O formato da Netflix, com todos os episódios liberados, permite com que o público se empolgue e assista todos os capítulos em maratona, nem que seja para descobrir quem vai para o Mar Alto. Vale a pena assistir a primeira série brasileira no Netflix!

Veredito da Vigilia

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