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Space Force: comédia frustra as expectativas | Crítica

“Extra, 15 pessoas enganadas… Extra, Extra!”. Vou me amparar na frase do Chaves vendedor de jornais (perdão pela referência de idoso) para resumir um pouco da experiência que é assistir Space Force, nova comédia da Netflix. Afinal, como não subir a expectativa em uma série que conta com criação de Steve Carell e Greg Daniels, dupla que marcou época com o excelente The Office ??? O nível de exigência ainda sobe mais tendo John Malkovich como coadjuvante de luxo e Lisa Kudrow (a Phoebe de Friends) como participação especial. Diana Silvers (do terror Ma e da ótima comédia Fora de Série) completa o time principal, que tem ao seu redor uma produção linda de se ver. Pena que a frase do Chaves já nos alerta para outro sentido.

Mas vamos à crítica de Space Force.

Talvez o principal problema de Space Force seja a sua concepção. Durante a campanha de divulgação (que a Netflix faz como ninguém), o próprio Steve Carell afirmou que a produção foi baseada em “nada”, literalmente nada. “Não existia um programa, não havia uma ideia, além do título. A Netflix perguntou: ‘você quer fazer uma série chamada Space Force?’ E eu imediatamente disse: ‘Bem, sim, claro. Isso parece ótimo’. E então eu liguei para Greg e disse: ‘Ei, você quer fazer uma série chamada Space Force?’ E ele disse: ‘Sim, isso parece bom. Vamos fazer’. E foi realmente baseado em nada, exceto neste nome que fez todo mundo rir”. Essa colocação de Carell, mesmo que possa ser um golpe de marketing, afinal estamos falando de uma série de comédia, também acaba dizendo muito.

Baseados em nada além de um nome legal – quem não aceitaria fazer uma série chamada Space Force, não é mesmo? – somos jogados na trama de Mark Neird (Carell), que assume uma importante e nova divisão do exército norte-americano. Sua missão é criar a Space Force e, de alguma forma, colonizar a lua. Mesmo a contragosto, ele assume e leva a filha Erin (Diana Silvers) e a esposa Maggie (Lisa Kudrow) para o Colorado, que também é conhecido por muitos como o ‘fim do mundo’ dos Estados Unidos. Mark é o chefe preocupado, com currículo em várias guerras e bem sucedido. Erin é a filha ‘adolescente-problema’ e Maggie é uma esposa que, sem muita explicação, vai passar boa parte da sua vida na prisão (ou não). Na nova base, o veterano de guerra vai ter a difícil tarefa de administrar um dos maiores projetos espaciais do seu país. No meio disso tudo, a terrível concorrência de seu antigo chefe das Forças Aéreas e da guerra espacial com a China (!). Ah, e é claro, uma equipe brilhantemente disfuncional.

John Malkovich em Space Force
John Malkovich é um coadjuvante de luxo

Por mais que tudo conspire pela simpatia com a série, ela vai nos perdendo a cada episódio. E mesmo que você insista, afinal, todos aqueles ingredientes colocados na mesma panela tinham tudo para fazer uma comédia excelente, a paciência vai se perdendo. Space Force não se arrisca tanto como The Office. Parece às vezes envergonhada em se amparar em velhas bengalas (por vezes polêmicas) da comédia norte-americana. Tenta fazer graça com o embate “autoritarismo x ciência” e com tudo que rola no mundo atual, mas em poucas vezes tem sucesso. Tenta também se amparar na questão “geração antiga x nova geração”, mas também tem poucos acertos, acabando no máximo nos mantendo atentos para saber como a saga de Mark vai terminar. Até porque isso, mais cedo ou mais tarde, vai realmente acabar na superfície da lua.

Mesmo a presença sempre brilhante de John Malkovich custa a engrenar, chegando ao cúmulo de algumas decisões que são como uma ponte no deserto, ligando o nada ao lugar algum. O mesmo pode se dizer da relação paternal de Mark e Erin. Logo de início parecem nos vender uma boa aluna e boa filha, para que, sem mais nem menos, essa imagem desapareça sem uma boa explicação.

Space Force: comédia acaba frustrando as expectativas

Ainda que não nos pegue de vez, é fácil perceber o investimento em produção feito para Space Force. A qualidade de cenários, efeitos especiais e fotografia nos colocam dentro de um cenário lindo de se ver. Dignos de cinema. Mas, algumas vezes, o grande orçamento leva produtores e roteiristas a decisões pouco criativas. Aqui o comparativo com The Office é evidente. Enquanto na série dos anos 2000 Greg Daniels tinha basicamente um escritório fechado e sabia divertir com seu formato, em Space Force, literalmente o céu não é o limite. Mas a história espacial, com direito a foguetes e combate lunar, não alcança o que foi feito entre as escrivaninhas, fotocopiadores e computadores dos vendedores de papel interpretados pelo próprio Steve Carell, Johhn Krasinski e Rain Wilson.

De qualquer forma, a esperança é que (se possível), Space Force amadureça com o passar do tempo. Se formos comparar (novamente) com a primeira temporada de The Office, dá pra perceber que a dupla criativa ainda estava longe de acertar a mão e marcar época. É o tipo de comédia que as vezes precisa de um amadurecimento, principalmente na relação personagens com espectadores. Mas se teremos mais Space Force, só o futuro dirá.

Veredito da Vigilia

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