Os Últimos Dias de Gilda: uma saga de intolerância religiosa, milícias e protagonismo feminino
Gustavo Pizzi, o diretor de Benzinho, repete sua parceria com Karine Teles (Bacurau) e Os Últimos Dias de Gilda chega às telas do Canal Brasil e da Globoplay com uma nova série, com a cara do canal. A estreia é no dia 27 de novembro, às 22h30.
Os Últimos Dias de Gilda foi, durante anos, um monólogo teatral interpretado por Karine Teles e escrito por Rodrigo de Roure. Agora, o texto ganha as telas, em quatro episódios, e é mais atual do que se imagina. As milícias, a polícia, os religiosos fervorosos e a liberdade da mulher são assuntos que devemos refletir e debater sempre.
Gilda (Karine Teles) é uma mulher forte, independente e sexualmente livre. Com um galinheiro e um chiqueiro atrás de casa, ela ganha a vida vendendo galinhas e porcos (tanto mortos quanto vivos) e é conhecida por toda a comunidade onde vive. Porém, a liberdade de Gilda incomoda, principalmente Cacilda, sua vizinha, vivida por Júlia Stockler. Religiosa fervorosa, Cacilda é casada com Ismael (Higor Campagnaro), candidato a vereador que pretende fazer parte da bancada evangélica.
Com um terreiro destruído e os religiosos fervorosos, unidos à milícia, a história mostra de forma muito nítida como qualquer fanatismo cega e faz mal. E também, que muitas pessoas usam o nome de Deus para pregar o mal e a violência. No caso dessa obra, até mesmo, matar.
A veia teatral do monólogo está presente em diversas cenas. Muitas sequências saem da sua ambientação e vão para um fundo preto, com um foco de luz em Gilda, que quebra a quarta parede e parece encarar o público que está atrás da tela. É um recurso muito interessante para quebrar o ritmo e dar uma nova perspectiva sobre a cena. Esse recurso volta a ser utilizado também com frases, que aparecem na frente de um fundo preto. Nessas situações, é interessante observar que o humor de Gilda vai mudando pouco a pouco, sempre para pior.
Quase todo gravado na Casa dos Artistas, a série mescla poucas alocações, mas todas bem delimitadas. A casa de Gilda tem cores vibrantes e escuras, que combinam com a personalidade da personagem, que carrega toda a história. Tudo permeia Gilda, e só sabemos o que está acontecendo quando ela Gilda está presente de alguma forma. É tudo sob a ótica da protagonista.
Os Últimos Dias de Gilda traz à tona debates muito importantes em todos os seus episódios, de maneira muito sutil. Porém, quem espera a mesma leveza de Benzinho, por ficar surpreso. A série é mais densa e muito mais forte. Irene, a matriarca de Benzinho e Gilda, são duas mulheres extremamente marcantes. Porém, enquanto Irene batalha para organizar a sua vida e o “caos familiar”, Gilda luta para se manter uma mulher livre. Gustavo Pizzi, vencedor do Kikito de Melhor Filme pelo Júri Popular por Benzinho (que também arrecadou o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante para Adriana Esteves e de Melhor Atriz para Karine Teles), explorou dois universos totalmente diferentes, apesar de ter duas obras protagonizadas por mulheres (a mesma, inclusive).
Mas tudo combina muito com o tom das novas séries do Canal Brasil, como Noturnos. Vale a pena conferir!