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O Rei Leão é lindo, mas não tem espírito | Crítica

Chegou a hora que jamais tínhamos imaginado aqui na Vigília. A hora de começar uma crítica de um filme da Disney e com direção de Jon Favreau (já falamos várias vezes que somos fãs do cara) puxando pelos aspectos negativos. Isso porque estreou o tão aguardado remake de O Rei Leão. O clássico das animações da casa do Mickey lá de 1994 ganhou uma roupagem super realista (não é live-action!) com o melhor do que se pode imaginar em efeitos especiais. Aliás, o impulso dele foi o ótimo Mogli, o Menino Lobo, de 2016, e do mesmo Jon Favreau. A diferença é que neste filme tínhamos pelo menos um ator em cena. Agora, profusão de texturas, animais e natureza. Tudo da melhor forma, mas falta algo por ali. O Rei Leão perdeu seu espírito.

O fato de ser um remake que repete quase 89% do original também ajuda a enfraquecer o impacto do filme. Mas há de considerar também que muito do público que vai assistir agora não tem lá o mesmo apego que a geração que cresceu com o original, que ficou meses em cartaz e depois foi gasto a exaustão com as clássicas fitas VHS da cor verde (na época isso era até um diferencial). Para muita gente, esse novo O Rei Leão será uma primeira visão da história. E claro, esse povo todo não está proibido de adorar esse filme, que em seus quesitos técnicos, pouco ou quase nada pode se apontar falhas.

É lindo não é mesmo? Mas é isso.

Assistir O Rei Leão é realmente a sensação de figurinha repetida. Infelizmente, não há como se surpreender com uma história em que podemos contar os diálogos de trás para frente (algo só possível com Friends e Chaves com uma proporção absurdamente diferente). Mas é bem provável que você ouça um cinema inteiro chorando com a – SPOILER DE 25 ANOS – morte de Mufasa e a fuga de Simba. E por incrível que pareça, mesmo a beleza da recriação dos animais em computação gráfica nos faz perder a simpatia pelo que acontece. A dublagem (brasileira) ajuda a nos tirar um pouco mais da experiência, mesmo que um elenco tão competente tenha sido escalado. Isso fica latente em momentos que mostram o jovem Simba dando lugar ao Simba já adulto. É proposital, mas não é agradável. Ícaro Silva (Legalize Já: Amizade Nunca Morre) é o responsável pelo personagem principal, enquanto a cantora Iza personifica a amiga e par romântico Nala, mas nitidamente crua na nova função.

Os números musicais também perderam o impacto na versão dublada. Normal. Ter que encarnar Elton John e Beyoncé é quase covardia. Destaque para a dupla Timão e Pumba, que mantém o espírito e o humor do original, embora fique difícil se convencer com um javali tão real. Ivan Parente e Glauco Marques são os responsáveis por isso na versão brasileira, respectivamente.

Zazu e o jovem Simba antes dos maiores desastres do filme

Mesmo com tudo lindo e no seu lugar, infelizmente O Rei Leão renasce nas mãos de Jon Favreau sem seu peso de outros tempos. Ainda assim, alguns acréscimos são interessantes destacar: Nala, que chama as “leoas” para a briga, e o revide ao bullying com Pumba por causa de seu peso são momentos importantes, mas que podem ser vistos também apenas como movimentos para se seguir uma proposta fria e de “manual de redação”, onde é possível encaixar cenas com estes propósitos, sem ser tão orgânico para a trama e tudo que ela colocou desde seu início (e vale reforçar, é quase uma refilmagem).

O final é bonito e marcante, como tem que ser, mas O Rei Leão perdeu seu espírito. Nem mesmo Mufasa ajudou dessa vez.

Veredito da Vigilia


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