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Nós, o novo terror temático de Jordan Peele | Crítica

Depois que um diretor tem um filme de estreia beirando ao genial, a pressão (nem que seja só do público e da crítica) e as grandes expectativas para sua próxima obra sobem na mesma proporção. Essa talvez seja uma regra para quase tudo na vida. E com Jordan Peele não foi diferente. O responsável por Corra! (Get Out) que levou o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018, agora ataca com Nós (Us, no original). E de forma marcante, ele consegue repetir o que nos conquistou em seu primeiro filme. Nós, que estreia no dia 21 de março no Brasil é um terror com significado, temático, com ótimas atuações e que vai te fazer sair do cinema digerindo a produção por muito tempo.

Embora “Nós” entregue do início ao fim um filme de terror, Peele consegue telegrafar vários recados ao longo do tempo. Desde os créditos iniciais, das primeiras cenas, até seu ápice e desfecho. Mesmo que você não se preocupe em fazer todas essas leituras, e assistir de uma forma menos analítica, ainda assim o produto funciona perfeitamente. O desconforto causado por várias cenas e situações, tal qual vimos em Corra, volta forte nesse novo filme.

Em Nós, de cara conhecemos a personagem Adelaide (ou Addy). E nessa primeira inserção, nos anos 80 – sim temos novamente os anos 80 por aqui, mas ele serve muito bem à narrativa e não é só uma bengala ou moda saudosista – vale ficar muito atento. Ela desfila em um clássico parque de diversões com seus pais, onde, não por acaso, ganha uma camiseta do clássico “Thriller”, de Michael Jackson.

Cenas e imagens marcantes, as assinaturas de Jordan Peele

Depois disso, vemos a personagem já adulta, na pele da excelente Lupita Nyong’o (Star Wars) e com sua família. Os filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) e o marido Gabe (Winston Duke, de Pantera Negra). Todos igualmente ótimos. Duke com a precisão das piadas que até tentam cortar a tensão do filme, e as crianças, dois prodígios que certamente vão ganhar sua simpatia. Saindo para um pacato fim de semana na praia, eles não imaginam o que está por vir (e nem você). Antes de subir a tensão, também somos apresentados ao casal de amigos na praia de Santa Clara, na Califórnia. Não por acaso, o mesmo cenário – o parque de diversões. São eles Josh (Tim Heidecker) e Kitty (Elizabeth Moss, de The Handmaid’s Tale). Mais um parênteses para destacar a atuação de Elizabeth, mesmo com pouquíssimo tempo de tela.

Duke, Lupita e Evan Alex: o perigo bate à porta

Cenários e transformações

Tudo vai muito bem até chegar a noite. Peele nos joga de um cenário colorido e intenso para outro perigoso e escuro. É quando uma família cerca a casa dos protagonistas. A partir daí, o terror aparece. Isso porque a tal família é composta por duplicatas dos nossos personagens. Eis um mistério a se resolver. Todos vestem um simbólico macacão vermelho e carregam tesouras, e querem não só tomar o lugar da família. Querem ser ouvidos. Aqui temos novamente as mensagens sociais que consagraram Peele em Corra. Mas “Nós” não é um filme sobre racismo. É um filme sobre os norte-americanos. Sobre acorrentados e livres. Sobre paralelos, espelhamentos de realidades e dualidades. As mensagens passam a ser até bem escancaradas.

Que tal confrontar o seu outro “eu”?

Com o conflito estabelecido, os protagonistas “do bem” buscam a fuga, mas só encontraram algum alento ao se deparar com a forma mais violenta de seus sósias. Embora tenhamos bastante sangue, Nós não chega a ser gore, ou mesmo um slasher. É um filme de terror tenso, com ótimos escapes de humor, onde até mesmo a trilha sonora te joga mensagens… mas ainda assim violento. Peele é um caso incrível de ator e produtor de comédia (quase pastelão) que se encontrou de vez fazendo filmes de terror. Ele estará à frente também da nova versão da série clássica “Além da Imaginação” (Twilight Zone). É divertido e ao mesmo tempo angustiante acompanhar a saga da família em fuga. Em paralelo a todos os acontecimentos, você estará se perguntando: “Mas que P***% é essa?”.

Senta aqui, vamos ter uma conversa reveladora!

Você vai ficar grudado na poltrona esperando os desfechos. Muitos deles acontecem, muitas respostas surgem. Outras não. Outras ficam escancaradamente em aberto, para ótimos exercícios de interpretação. Assim como os sinais e metáforas usados durante todo o tempo de filme. Espelhos, relógios, cores, enquadramentos, tudo é usado para informar. E tudo culmina na transformação da protagonista de Lupita. O sangue em sua roupa será mais um sinal claro do final dessa jornada, que acaba… onde começou.

A Vigília – mais do que – recomenda!

Veredito da Vigilia

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