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Glow: a volta por cima das lutadoras | Crítica da 2ª temporada

Glow, a série que reúne polainas, collants, anos 80 e glam rock voltou melhorada em sua segunda temporada. E isso era imprescindível para a produção original da Netflix ter uma sobrevida, já que na primeira, tivemos muito barulho por nada. Expectativas lá em cima, e uma série bem mediana. Mas, felizmente, isso ficou para trás.

Na segunda temporada, com todo o elenco de volta e o acréscimo de mais uma lutadora, a série finalmente conseguiu o objetivo vendido pelas suas divulgações, colocando drama, diversão, referências e agendas de uma forma muito mais inventiva e menos forçada. Seguimos com a amizade abalada das protagonistas Ruth Wilder (Alisson Brie) e Debbie Eagan (Betty Gilpin) no centro de tudo, mas agora, todas as ações começam a tomar mais sentido e urgência, fazendo o público pensar no que cada uma delas fez para que um relacionamento incrível entre amigas fosse para o fundo do poço, trazendo o debate da sororidade à tona. Ainda que essa relação seja o motor da série e tenha sido melhor explorada, ficou a lacuna de uma grave decisão de Ruth no final da primeira temporada, que sequer é mencionada nesta segunda. Fica a dica para retomarem a questão do aborto feito por ela em uma provável terceira temporada.

Deleite oitentista: na segunda temporada de Glow, as lutadoras com polainas deram a volta por cima.

O principal ponto reconstruído pela nova temporada de Glow é o girlpower, que tanto se vendeu e não se viu em 2017. Agora sim, embora as personagens ainda cometam seus deslizes que joguem contra o termo, vemos sim que a agenda feminista ganha uma veia mais forte e mais marcante, seja fazendo o contraponto do que as mulheres são capazes de fazer, tanto no trabalho quanto em casa.  Agora, as Gorgeous Ladies Of Wrestling são de verdade uma família. Uma das cenas mais marcantes retrata uma terrível cultura vivida em Hollywood e que tanto se destacou nos últimos dois anos (caso Harvey Weinstein), que são os abusos cometidos por executivos para com as atrizes/atores. E o fato é visto pelo ponto de vista de duas mulheres que acabam tendo versões distintas do fato, o que na época deveria ser uma realidade rotineira. Algo muito parecido com o que se convencionou chamar por estas bandas de “teste do sofá”, que por si só já mostra o quão machista pode ser a cultura do nosso país (e claro, de muitos outros).

O girlpower também está marcado por vários momentos em que são as mulheres as reais protagonistas do show (e não só em cima dos ringues). Afinal, é com Ruth que saem as melhores ideias, tanto de roteiro quanto de direção, enquanto os homens e o diretor, que voltou a ser um dos pontos altos da série, Sam Sylvia (Marc Maron), roubam todo esse esforço e ganham os créditos. Além disso, todas as protagonistas conseguem, vez ou outra, mostrar que seus talentos não estão totalmente atrelados ao corpo.

As melhorias são tantas que até as lutas estão mais convincentes.

Embora uma série cômica, Glow toca em assuntos fortes e não é indicada para crianças. A nova temporada também trouxe uma veia um pouco mais crua, abusando um pouco mais do uso de drogas e uma marcante cena de nudez e violência (tudo em um episódio só, um dos melhores). Temos também a dinâmica da descoberta de que a orientação sexual (por uma das personagens), que percebe que não precisa se encaixar nos padrões para se sentir “normal”, enquanto outra está mais do que bem resolvida com suas escolhas.

Se é anos 80, tem que ter tudo, até videoclipe temático!

Mas talvez o mais legal dessa revigorada em Glow, tenha sido a noção de que esse plot de um show de TV com mulheres lutadoras de Wrestling pode ter sim mais histórias para contar. Na verdade, é quase um milagre direcionar uma trama tão simples como esse para uma terceira temporada onde quase tudo está em aberto. Nota-se também a criatividade dos roteiristas em alongar uma temporada sem que isso seja percebido como uma grande barriga ou lacuna, que tradicionalmente vemos nas séries da Netflix. Impossível deixar de destacar também os episódios onde os anos 80 chegam com tudo na trilha sonora, com direito a dois videoclipes marcantes e uma sátira de We Are The World (clássico do Live Aid). Por tudo que mostrou em seus novos capítulos, Glow já é um verdadeiro trunfo.

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