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Elite muda personalidades por conveniência na 4ª temporada

A Netflix deixou todo mundo no hype de Elite ao lançar diariamente os quatro episódios de Histórias Breves. Essa estratégia fez a quarta temporada do seriado chegar cheia de expectativas, imaginando como seria essa “nova fase” da história, uma vez que as pontas soltas foram amarradas nesses especiais, deixando o caminho livre para uma virada de página na trama. 

Pois o quarto ano de Elite manteve a sua essência no enredo, trazendo adolescentes que possuem a vida mais agitada do que muito adulto por aí. A galerinha saí praticamente todas as noites para beber, farrear e azarar, chegando bem e belos (e fashions) no outro dia de manhã para estudar no Colégio Las Encinas, em Madrid. Bom, essa essência foi mantida, mas de resto, o quarto ano de Elite mudou muitas coisas.

A primeira delas foi a direção. Ao demitir, logo nos primeiros minutos do episódio piloto, a administradora do Colégio, Azucena (Elisabet Gelabert), ou como alguns conhecem, a mãe do Ander (Arón Piper). Em seu lugar assume o diretor Benjamín Blanco (Diego Martín), que chega revolucionando, querendo acabar com a onda de “acontecimentos estranhos” que cerca o Las Encinas (já estava mais do que na hora mesmo). Junto dele temos os seus três filhos: Ari (Carla Díaz), Patrick (Manu Rios) e Mencia (Martina Cariddi). O trio, junto do príncipe francês e recém transferido para o Las Encinas, Philipe (Pol Granch), interagem com cada um dos protagonistas remanescentes, dando a dinâmica da nova temporada. 

Ari, Benjamín, Mencia e Patrick chegaram para agitar as coisas em Elite

Essa dinâmica é bem organizada no enredo, colocando Ari, a convencida e, pelo que parece, filha preferida e mais responsável do diretor, dividida entre os amores (e amassos) de Samuel (Itzan Escamilla) e Guzmán (Miguel Bernardeau). Aqui já percebemos como Elite mudou drasticamente a personalidade de seus antigos protagonistas, por pura conveniência de roteiro. Se estamos assistindo uma rivalidade se tornar uma forte amizade há três temporadas, não havia necessidade de colocar tudo por água abaixo agora. A disputa dos dois pela nova garota soa ridícula toda vez que Guzmán sabota Samuel das maneiras mais desonestas possíveis, fazendo a “brotheragem” voltar à tona somente em momentos específicos, de um jeito quase esquizofrênico. O que se salva nesse núcleo são as discussões de classe promovidas por Samu.  Só para não encerrar o papel de Ari na trama, ela está diretamente envolvida no mistério que o “espectador precisa resolver”, e, por incrível que pareça, teve uma resolução bem surpreendente. 

Samu e Guzmán: amigos e rivais

O segundo filho do diretor e gêmeo de Ari, Patrick, está nesta quarta temporada somente para dar alguma função ao casal OmAnder. Omar (Omar Ayuso) e seu parceiro Ander são o casal favorito do público na série, mas por algum motivo, os roteiristas sempre inventam algum motivo para separá-los. Depois de superarem juntos o câncer de Ander – motivo suficiente para os seus laços criarem raízes fortes – os dois acham ser uma boa ideia “brincar” de trisal, convidando Patrick para a brincadeira. Pronto! Depois disso, vemos apenas um vai não vai, promovendo muitas cenas de chuveiro e um revezamento de quem gosta de quem. 

Esses dois sempre inventam um motivo para estragar o namoro

A caçula (e mesmo assim) colega de classe dos irmãos e de todos os outros protagonistas de Elite, Mencia, talvez aborde os temas mais sérios dos quatro núcleos. A garota ajuda Rebeka (Claudia Salas) a se descobrir lésbica, criando uma relação forte entre as duas, que passam maus bocados em alguns momentos da série. Aliado a isso, vemos questões como prostituição, assédio sexual contra menores de idade e também assuntos familiares, que muitas vezes são negligenciadas por pais autoritários, que não conseguem dialogar com os seus filhos, preferindo puni-los como forma de educação. 

Mencia e Rebe se descobriram na 4ª temporada

Por fim, temos o tema que Elite adora, colocando alguém da realeza namorando uma pessoa plebeia. O príncipe francês Philipe se envolve com a agora faxineira do colégio Cayetana (Georgina Amorós), proporcionando à garota, que aparentemente aprendeu com os seus erros cometidos na temporada passada, uma convivência com o mundo da moda, o grande sonho da adolescente. Porém, esse glamour tem o seu lado obscuro. Mesmo assim, vemos uma Caye bem mais honrada, não se submetendo a certas situações apenas para chegar ao seu objetivo. 

Caye parece estar vivendo um Conto de Fadas nesta temporada

Assim como em Histórias Breves, a quarta temporada de Elite acerta em dividir especificamente as tramas, além de mudar um pouco a dinâmica do mistério, que aqui está bem menos presente durante o tempo de duração dos episódios. Falando em tempo de tela, parece que neste último ano, as inserções com os familiares dos jovens foram substituídas por mais tempo de pegação na frente da telinha. Quase não vemos os pais da garotada como víamos antes, dando a impressão de que o Guzmán more no quarto dele e faça as refeições na Casa do Lago, bar que o Samuel e Omar trabalham. Aliás, o roteiro dá um jeito de colocar os dois garçons em todas as festas, dando a impressão de que só eles podem anotar o seu pedido em Madrid. Sem falar na Caye, que limpa sozinha o Colégio, que mais parece um shopping center de tão grande. 

Ari está envolvida no principal mistério da série

A quarta temporada de Elite levanta questões relevantes como a disputa de classes por um lugar ao sol, relacionamentos conturbados entre pais autoritários e filhos rebeldes, envolvimentos abusivos, o valor da amizade em situações extremas e de como se aproveitar a vida depois de um acontecimento impactante. Sua estética é muito bonita, com ângulos de câmera sensacionais, figurinos únicos e cenários visualmente deslumbrantes. Porém, as amarras propostas, apenas pensando nos novos personagens, ignorando o que alguns protagonistas fizeram no passado, dá sinais de que a série está aí mais para causar do que deixar um legado com o que vinha construindo até aqui. 

Veredito da Vigilia

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