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Wandinha: Tim Burton traz novos ares para a Família Addams

A fórmula que une Tim Burton com Wandinha, a filha mais velha de Gomez e Mortícia, em uma série original da Netflix sempre pareceu ser a equação perfeita. Por toda sua carreira, Tim Burton realmente parece ser a pessoa perfeita para conduzir uma obra, mesmo que um spin-off, da Família Addams. Seu estilo muito próprio sempre nos mostrou isso, ao ponto de conseguirmos perceber sua assinatura visual de muito longe.

Por tudo isso, a produção parecia realmente estar nas mãos do showrunner e diretor mais corretos que poderíamos imaginar. Infelizmente, essa condução fica pelo meio do caminho. A série da Wandinha é uma diversão escapista, com aquele perfil clássico que já vimos em todas as demais produções audiovisuais da família criada nas tiras de jornais dos anos 30. A estreia do catálogo da Netflix faz jus e uma bela homenagem à sátira criada por Charles Addams, mas nos dá a impressão de que poderia ter chegado mais longe.

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A recriação da Família Addams na série é bem sucedida, e a ideia de focar a história em Wandinha é um acerto. Temos no papel principal a talentosa Jenna Ortega, que este ano também pode ser vista em duas obras de terror (Pânico e X – A Marca da Morte). Seu rosto realmente parece ser feito para os tons em preto e branco da personagem. Além disso, temos as participações pontuais de Luis Gusmán como Gomez e Catherine Zeta-Jones como Mortícia. Essas presenças são acertadas, mas, infelizmente, parece que a produção encontrou uma desculpa ruim para inseri-los no meio da temporada. O que tinha tudo para ser um charme da série acabou virando um dos piores episódios da série. No elenco regular ainda temos a presença sempre marcante de Gwendoline Christie (Game of Thrones, Sandman) como a diretora da Escola Nunca Mais, Larissa Weems, e a própria Wandinha dos anos 90, Christina Ricci, como a Marilyn Thornhill, uma das professoras do local que é o palco principal da série.

Luis Gusmán e Catherine Zeta-Jones também estão no elenco de Wandinha
Luis Guzmán e Catherine Zeta-Jones são as participações especiais como Gomez e Mortícia Addams. Issac Ordonez é Feioso.

Apesar de ser um grande acerto em vários pontos, Wandinha (a série) parece perder fôlego conforme o passar dos episódios. Temos na trama um mistério investigativo. Um clássico jogo de Agatha Christie, onde a nossa protagonista precisa descobrir quem é o assassino que está cercando os alunos e a cidade de uma forma geral. Isso coloca no tabuleiro vários de seus colegas, que são chamados de “excluídos” (todos tem um dom especial e vinculado a uma figura do terror), o xerife, e também o prefeito da cidade. Nessa pegada, todos acontecimentos estranhos são jogados de forma com que Wandinha se envolva ao máximo, e claro, invariavelmente ela estará conectada às principais tretas que vão surgir.

Os primeiros episódios são empolgantes, mas fica muito fácil descobrir quem é o monstro (um dos vilões principais). Quando a história está centrada no caso principal, ela flui perfeitamente. O problema é que a série se vê obrigada a desenvolver alguns personagens pouco interessantes como os novos colegas de classe de Wandinha, e se amparar em uma sub-trama pouco atrativa. E isso realmente atrapalha a experiência de acompanhar (ou mesmo maratonar) a série de oito episódios com cerca de 40 a 50 minutos de duração. Esses desvios, quase que desnecessários, tiram nossa atenção de um desenrolar que, se não fosse uma grande revolução no cenário das séries adolescentes atuais, seria um feijão com arroz bem feitinho, quase que sem defeitos. Até mesmo a grande homenagem, de colocar Christina Ricci na série, acaba sendo prejudicada. Coincidência ou não, os melhores episódios são os conduzidos pelo icônico diretor Tim Burton. Outro ponto que pode incomodar são os desempenhos dos dois “pretendentes” de Wandinha – Percy Hynes White como Xavier, e Hunter Doohan como Tyler -, que não funcionam e ainda estragam a provável surpresa do caso principal.

Wandinha acerta na trilha sonora, na ambientação, nos seus cenários e efeitos visuais. É nítido que a produção ganhou um toque especial por todos seus nomes envolvidos, e esses aspectos técnicos ressaltam aos olhos. O problema todo, como normalmente acontece na Netflix, é esticar uma trama que cumpriria seu papel de forma perfeita em 5 ou 6 episódios, e colocar no formato atual. A ousadia de cenas mais “pesadas” fica restrito ao que vimos nos trailers, não dando a série uma “censura” para maiores, como ocorreu com Stranger Things, deixando Wandinha como o selo de “a partir de 12 anos”. E no final das contas, o spin-off promissor ficou no mesmo tom dos projetos anteriores da Família Addams: nada mais do que um divertimento morno. Mas vale pela sua primeira metade.

Veredito da Vigilia

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