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Vice: a força e a polêmica vida dos bastidores da política | Crítica

O diretor Adam McKay reconstrói a essência de A Grande Aposta (2015) e mostra novamente toda sua acidez ao contar a biografia de Dick Cheney em “Vice”. O longa chega aos cinemas brasileiros no dia 31 de janeiro, já com oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Edição, Melhor Roteiro Original e Melhor Maquiagem. Não é pouco.

Acompanhando toda a trajetória do ex-vice-presidente dos Estados Unidos na era George W. Bush, ele lança sobre o espectador uma crônica visceral, travestida na cinebiografia de um dos homens mais poderosos do mundo em um passado muito recente. E com a mão de quem deu vida à “A Grande Aposta”, ele refaz sua narrativa, dessa vez com um viés muito claro da mensagem que quer passar, seja para o norte-americano, ou seja para o mundo, nem que isso venha só lá no final do filme. E ele faz tudo isso ancorado nas excelentes atuações de Christian Bale, que já virou figurinha carimbada no Oscar, e já levou o Globo de Ouro por sua atuação, além de Amy Adams (A Chegada), e o também recém-oscarizado Sam Rockwell (Três Anúncios para Um Crime). Acrescente ainda ao time Steve Carell e Jesse Plemons (Black Mirror, A Noite do Jogo), e pronto. Aperte os cintos e se deixe atingir por uma enxurrada de informações pelas próximas duas horas e 12 minutos.

Mesmo sempre longe dos holofotes, Dick Cheney foi um dos políticos que mais teve impacto na política norte-americana. Sempre agindo “nas sombras”, vemos ele desde uma época pouco favorável, quando quase perdeu a mulher de sua vida em função de bebedeiras e constantes brigas, sua expulsão da faculdade e até mesmo sua “carreira” nas arriscadas obras de instalação de postes de luz. Graças ao empurrão de Lynne (Amy Adams) ele superou as dificuldades e em pouco tempo estava envolvido com a política até o pescoço. Em 1970, aos 29 anos, o republicano já era Chefe de Gabinete da Casa Branca, e começava sua ascensão.

Camaleão: Christian Bale passa dos 30 aos 60 anos no mesmo filme.

De forma esperta e com uma narrativa/edição bem dinâmica, Adam McKay vai brincando com o espectador ao mostrar as tomadas de decisões de Cheney, vivido por um Christian Bale que, como de costume, entra de corpo e alma em seus trabalhos. E essas decisões, apesar de sempre parecerem firmes e serenas por parte do político, na verdade acarretaram em situações constantemente favoráveis a ele e sua visão de mundo. Não por acaso, foi Cheney que driblou a todos construindo a relação dos ataques de 11 de Setembro ao líder iraquiano Saddam Hussein – lembre-se que era Osama Bin Laden – e que em seu país estavam instaladas bases com armas de destruição em massa, que nunca ficaram provadas. E para isso usou ferramentas pra lá de polêmicas, usando manobras jurídicas para conseguir até mesmo autorização para a tortura em interrogatórios. Cheney era discreto, mas eficaz.

Mas até chegarmos a esses momentos grandiosos, a panela vai esquentando ora em fogo brando, ora em fogo alto. As alternâncias de momentos mais tradicionais com as inserções de um narrador que quebra a quarta parede vão se tornando cada vez mais constantes, revezando ainda um espaço grandioso com recortes reais da época. E como a política mundial era movimentada, uma enorme quantidades de informações são jogadas na tela, podendo afetar o rimo de compreensão de quem assiste. Vice é portanto, uma obra que vale ser conferida mais de uma vez em função de tantas coisas que a história desse “vice” pouco decorativo nos deixou.

Amy Adams como Lynne Cheney e Christian Bale como Dick Cheney. Créditos: Matt Kennedy

Dentro dessas idas e vindas, temos momentos que mostram Dick Cheney como um pai de família com coração. Que nos faz ter um certo apego a ele. Até que isso vai mudando, e você muda sua opinião. Um parênteses importante é também a participação de Sam Rockwell na pele de George W. Bush. Com sua costumeira cara de sacana e deboche, ele acaba dando brilho ao filme (não à toa ganhou mais uma indicação para ator coadjuvante), e mesmo que de forma pontual, cumpre a função de entregar um Bush caricato. Tal qual ele é na vida real. Ficarei feliz se tanto Bale quanto Rockwell levarem as estatuetas para casa em função do que eles nos proporcionam em tela.

Sam Rockwell novamente marcante, desta vez como George W. Bush Crédito: Matt Kennedy

Vice é realmente um filme que entrega boas sacadas, boas atuações, boa edição, e aquela crítica ácida, que vai ficar ainda mais evidente em uma rápida e certeira cena após os créditos oficiais. Fique esperto e não levante-se da cadeira tão rápido. Adam McKay entrega uma obra com assinatura e atitude. E a Vigília Recomenda!


Veredito da Vigilia

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