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Um Animal Amarelo: uma fábula sobre passado e futuro | Crítica

Um jovem cineasta falido decide contar a história de seu avô no cinema, mas para isso, percorre uma jornada cheia de percalços e fantasia. Esse é o tom de Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, terceiro longa nacional exibido na edição de 2020 do Festival de Cinema de Gramado.

Com nomes conhecidos no elenco, o longa tem uma forma peculiar de apresentar seus acontecimentos. Uma narradora, com sotaque de Portugal, vai contando as desgraças e tropeços do protagonista Fernando (Higor Campagnaro), desde a época de seu avô Sebastião (Herson Capri) até os dias atuais. Fernando carrega consigo três coisas durante toda a vida: o osso de fêmur que o avô lhe deixou, um animal amarelo que só ele vê e azar. O rapaz é azarado e não deixa por menos: cava cada vez mais fundo a chance de se dar mal na vida.

Higor Campagnaro consegue fazer bem o papel de cineasta falido, mas Fernando não é cativante. O protagonista não cria empatia com o público em nenhuma de suas fases. Não desperta nenhum sentimento. Cansamos das suas mentiras, ditas uma atrás da outra, da tentativa de usar seu “jeitinho brasileiro” e da sua insegurança. Faltou algo na personalidade dele para se tornar um personagem atrativo.

Higor Campagnaro é um cineasta falido em Um Animal Amarelo

Usada em demasia durante toda a exibição, a narração impacta diretamente no ritmo do filme. O recurso é interessante, mas é tão explorado que cansa o espectador. Ao invés de uma narração de sustentação, os diálogos poderiam ser melhor desenvolvidos. Nem o elenco especial puxa o longa totalmente para cima. As cenas deles são ótimas, mas poucas. Como participação especial temos Thiago Lacerda e Sophie Charlotte. Mas com um detalhe: o pouquíssimo tempo em tela que esses grandes atores, assim como Herson Capri, têm. Se fossem melhores explorados, o filme teria muito a ganhar.

Um Animal Amarelo traz reflexões importantes sobre o passado e o futuro do Brasil, viajando para Portugal e para Moçambique, explorando situações que aconteceram nos anos 1980 e também o que ocorre até 2019. O recurso do rádio e da televisão ligados no telejornal informando o que está acontecendo é interessante e complementa o que está sendo dito e vivido pelos personagens. O longa provoca uma reflexão de onde viemos e para onde vamos se não fizermos nada para mudar e entendermos nossos fantasmas do passado.

Com uma premissa interessante, mas com escolhas arriscadas, Um Animal Amarelo é um filme diferente do que estamos habituados. Por isso, ele nos tira da zona de conforto e faz pensar.

Veredito da Vigilia

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