Tudo Bem no Natal que Vem é Leandro Hassum sendo ele mesmo (ou o que conhecemos dele)
Chegou no catálogo da Netflix mais um filme de natal. Mas desta vez, é um filme de natal brasileiro e estrelado por Leandro Hassum. Tudo Bem no Natal que Vem é aquele mix que já sabemos que Leandro Hassum pode nos proporcionar: piadas batidas e repetidas até a exaustão, porém, a mensagem que o longa passa é interessante. O primeiro filme de natal da Netflix deixa a desejar em comparação ao primeiro filme de natal que estreou nos cinemas, 10 Horas para o Natal, de Luis Lobianco (seria uma briga de comediantes pelo natal?).
Jorge (Leandro Hassum) é um pai de família que faz aniversário justamente no natal. Esse evento é tão traumático para ele que o deixa extremamente rabugento. Mas, depois de cair do telhado tendo que fazer as vezes de Papai Noel, Jorge passa a viver um ciclo inteiro de natais. Cada dia que ele acorda, é um novo natal e ele precisa se inteirar de tudo o que está acontecendo na vida da família e, inclusive, o que ele mesmo está aprontando. É basicamente um Dia da Marmota natalino e tupiniquim.
Tudo Bem no Natal que Vem poderia ter tudo para ser um filme interessante, se não fosse pelas esquetes de humor que já vimos muitas e muitas vezes em qualquer programa de humor da Rede Globo que Hassum já fez, porém sem o timing da comédia. Inclusive, neste filme o diretor Roberto Santucci e o roteirista Paulo Cursino repetem a parceria com Hassum, com quem trabalharam em muitas obras, destacando Até que a Sorte nos Separe e O Candidato Honesto. Tem a piada do pavê (inúmeras vezes), temos piadas com “o peru do Tio Vítor”, temos cenas com Hassum batendo o seu órgão genital em algumas coisas e reclamando de dor. É uma mistura de humor de pai com quinta série que não cativa e não anima.
Laura (Elisa Pinheiro) é uma esposa paciente e até mesmo, submissa, afinal, mesmo com Jorge tendo saído de casa para morar com a amante (Danielle Winits), ela o espera por mais de um ano e retoma a vida do casal. E falando em Danielle, ela faz mais do mesmo: uma mulher linda e sexy que deixa Jorge embasbacado, como já vimos outras tantas vezes.
O que pode deixar o público mais confortável é o retrato fiel da família tradicional brasileira nesta data. Tem tia querendo ver o Roberto Carlos, tem tio pedindo dinheiro emprestado, tem um mala querendo discutir política, tem a polêmica maçã na maionese (nota do editor: devia ser proibido) e a prima que traz um namorado novo para ceia todo ano. Além disso, nos diálogos temos referências à cultura pop, quando eles falam de Shrek, Gremlins, Chaves e Mario Bros.
Tecnicamente, o filme peca em alguns aspectos, como o chroma key (o fundo verde) mal feito nas viagens em família. Mas, o mais gritante, é o fato de se passar cerca de vinte anos (ou seja, eles estariam em 2030 ou 2031) e nada tecnologicamente apontar isso. Sem contar o fato de que apenas a maquiagem utilizada para envelhecer os atores não foi convincente. Outro aspecto interessante de se observar é que Jorge decide dormir em vários natais e justamente acorda no natal de 2021 e não de 2020, como era esperado. Não é feita menção à pandemia e nem nada do tipo. Curioso.
O filme vai em um ritmo fluido e parece se encaminhar para o final depois de passados 60 minutos. Aí, infelizmente temos uma “barriga dramática”, nada usual em um filme de natal, que transforma o longa de comédia para um drama pesado e difícil para muitos espectadores. Mas claro, é a partir daí que se tira a maior lição do filme.
Sabe aquela máxima de “nem vi o ano passar”? É o que metaforicamente acontece com Jorge e que nos lembra que, às vezes, nem vemos a vida passar e, quando menos percebemos, já é natal novamente. E lá se foram anos e anos, os filhos cresceram, os tios, pais e avós morreram e nós estávamos ocupados. Trabalhamos demais, nos preocupamos demais, reclamamos demais, quando o que realmente importa é estar ali, na confusão de natal, na piada do pavê, na gritaria das crianças. E a vida, geralmente, não nos dá novas chances. Aproveite todos os dias e não faça como o Jorge, que acorda apenas nos natais.
Contudo, apesar da bela mensagem, Tudo Bem no Natal que Vem poderia entregar muito mais se acertasse melhor o timing das piadas e não as repetisse a exaustão. Diferente de 10 Horas para o Natal, Tudo Bem não é leve e divertido do início ao fim. O filme de Hassum termina pesado e não deixa gostinho de quero mais.