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Três décadas de Dragon Ball Z

No dia 26 de abril de 2019, o anime que certamente é unânime entre os apreciadores de animações japonesas, completou 30 anos. Dragon Ball Z certamente é a obra mais reconhecida de Akira Toriyama, talvez sendo só superada em números pela mesma franquia, já que Dragon Ball é um dos três mangás mais vendidos da história da revista Shonen Jump, ao lado de One Piece e Naruto.

Mas por que tanto sucesso? A resposta pode estar em seu protagonista. O carisma de Son Goku é algo que superou até mesmo o planejamento de seu próprio criador, que em várias oportunidades, pensou em aposentá-lo dentro de Dragon Ball Z, como vimos no final da saga Cell, assim também como ficou subentendido no encerramento do anime, em Boo.

Goku, o protagonista mais carismático

Toriyama já confessou que a ideia era encerrar no final da saga Freeza, mas a Toei Animation, produtora do anime o convenceu a continuar. Mesma proposta que foi oferecida após os guerreiros Z derrotarem o androide Cell. Porém, o autor não quis mais dar novas aventuras a Goku e companhia ao eliminarem de vez o mal da Terra, derrotando Majin Boo. A Toei teimou, sem a benção dele, e criou Dragon Ball GT. E isso explica muita coisa.

Em 2015 novas aventuras dos Guerreiros Z foram lançadas com a estreia de Dragon Ball Super, que nada mais é do que a velha fórmula Dragon Ball Z, mas como cabelos e inimigos diferentes. Por isso o sucesso.

Mas então como um anime repetitivo faz tanto sucesso? Será que é somente pelo protagonista? Nem sempre Dragon Ball Z foi repetitivo. Em seu início, tivemos várias alterações na história já conhecida de Son Goku apresentada em Dragon Ball. A principal delas foi a descoberta da origem de seu rabo de macaco e de seu nome, Kakaroto. Eis que temos início a saga dos Saiyajins, mostrando Radditz, Vegeta, Nappa e todo o passado do povo guerreiro. Uma baita sacada explicar algo que já estávamos tão acostumados de ver, que acabamos normalizando, nem nos importando mais o porquê de Goku se tornar um macaco gigante. Isso despertou novamente o interesse do público, atiçando a curiosidade.

Depois disso ficamos sabendo que existiam outras esferas do dragão. Desta vez, em um planeta chamado Namekusei. Outra boa ideia, explicando a assim a origem de Kami Sama e de seu lado maléfico: Piccolo Daimaoh.

E assim inicia a saga Freeza, mostrando um vilão tirano, poderoso e aparentemente invencível, uma vez que possuía um poder bélico imenso com as suas tropas. Melhor ainda, ele evoluía para vários níveis diferentes e parecia mais invencível. Só que então chegou Goku, para salvar o dia pela enésima vez e mostrar que poderia ser mais forte de um jeito nunca visto antes. Mas, surge também o Super Saiyajin. Único, indestrutível e lendário. Tudo novo até aqui e ótimas idéias e escolhas de roteiro.

Freeza, o eterno nêmesis de Goku

Depois… Bom, depois vimos tudo isso apenas se repetindo nas sagas seguintes. Cell possuía várias transformações e o Super Saiyajin se banalizou. Porém, Gohan se tornou o primeiro e único a atingir a segunda forma. Ótimo jeito de passar o bastão para o herdeiro de Goku.

Refém de Goku

Achou que não ia ter mais Goku? Achou errado! Mesmo depois de morto, nosso protagonista não conseguiu sair de cena, e foi mais uma vez o único a ter uma transformação exclusiva (com o super Saiyajin 3) e mais um inimigo que evolui para várias formas (Majin Boo).

Mas cadê o tal legado dos Saiyajins e seus rabos de macacos; as esferas do dragão super raras e que era um privilégio poder ver Shen Long (em cada especial de DBZ vemos as esferas sendo reunidas com a maior facilidade); Gohan sendo o sucessor de Goku, como vimos desde o início da série; as pessoas podendo somente reviver uma vez (com a descoberta de novas esferas, a morte se tornou algo trivial, já que sempre haveria a possibilidade de alguém voltar a vida de algum jeito); o lendário super Saiyajin (que no final das contas qualquer um podia se transformar)? Tudo esquecido. O fato de Goku ser carismático ao extremo deixou Toriyama refém de sua própria criação, tornando repetitiva a história, mesmo que em certos momentos flertando com uma aposentadoria de Goku, ele sempre foi obrigado a trazê-lo de volta, deixando a tarefa de salvar o mundo, ser o mais forte do universo e ofuscar os demais personagens, por simples apelo popular. Mas a culpa é nossa. Nós gostamos demais desse Goku!

Goku até que tentou se aposentar, mas…

Outros protagonistas

Mas então você está sugerindo que Dragon Ball Z seria melhor sem Goku? Não, longe disso. Como citei acima, DBZ só é o que é hoje graças a seu protagonista. Porém, em vários momentos nos foi sugerido que teríamos, ou poderíamos ter uma passagem de bastão. Son Gohan, por exemplo. Logo nos primeiros episódios do anime – na luta contra Radditz – é sugerido que ele era muito forte, mesmo com pouca idade, e que poderia superar até mesmo o seu pai. Logo após a morte de Goku, acompanhamos o treinamento dado a Gohan por Picollo (que foi uma figura mais paterna do que o próprio Goku para o menino), e vários episódios com o garoto assumindo o protagonismo.

Um pouco mais tarde, quando Goku ainda não havia voltado de Namekusei, temos um filler (bem mais ou menos), com Gohan, Piccolo e Kuririm enfrentando Garlick Jr. (esse filler é inspirado no primeiro especial de Dragon Ball Z). Mais uma oportunidade de vermos o filho de Kakaroto segurando as pontas. Na Saga Cell nem se fala. O garoto se torna super Saiyajin 2, na transformação mais bonita de todas no anime e bota pra quebrar. Antes de o vermos crescido, no início da saga Boo, temos outro especial mostrando Gohan como líder dos Guerreiros Z, com todo o seu potencial.

Gohan: o melhor exemplo de potencial perdido dentro de uma série

Aí, na fase de Majin Boo, uma das mais indecisas do anime – todo mundo luta contra o vilão e perde, Goku chega no seu ápice como Super Saiyajin 3, só que quase não usa essa transformação (era muito demorado para animar essas cenas, além de caro para a Toei), e no final das contas vencem Boo com uma Genki Dama e a ajuda do Mr. Satan. Somos apresentados a adolescência de Gohan e ao seu alter ego Super Saiyaman. Ali tudo parecia que levaria para um anime encabeçado pelo filho de Goku. Ledo engano! O meio Saiyajin, mesmo treinando com a espada Z e tudo, vira no final das contas, um personagem facilmente derrotado. Em GT e Super nem se fala. Uma pena.

Outro possível protagonista, que poderia resultar em um spin- off é Trunks. O filho de Vegeta com Bulma aparece pela primeira vez já metendo o pé na porta e matando nada mais, nada menos do que Freeza e seu pai Rei Cold, no início da saga Cell. Trunks é o personagem com mais camadas e melhor construído de Dragon Ball Z (ele foi inspirado em O Exterminador do Futuro), com todo o seu drama de ter vindo do futuro para impedir que Goku morresse e assim o caos estaria instaurado na Terra.

Trunks teve a sua história inspirada em O Exterminador do Futuro

Mais uma vez a importância de Goku se mostra vital para a trama, impedindo outros personagens de alçarem voos maiores. Ainda falando dessa realidade alternativa, temos o especial no qual é mostrado em detalhes esse futuro pós apocalíptico, criado pela força dos androides N° 17 e N° 18, oriundos do Dr. Maki Gero. Nela, apenas Gohan (olha ele de novo aí) e um jovem Trunks sobrevivem a tragédia. Trunks voltaria a ter destaque em Dragon Ball GT, que o utilizou pois a série é um compilado das melhores coisas de Dragon Ball (Goku criança, Trunks adulto, Vegeta vendendo a alma para ficar mais forte do que Goku; Macaco Gigante, uma nova transformação para Goku, fusão com dancinha…), mas mesmo assim, não chega aos pés de Z. Mas a música da abertura brasileira é sensacional!

Por fim, no último episódio de Dragon Ball Z, Goku enfrenta um garoto negro em mais um dos inúmeros torneios de artes marciais da série, que descobrimos ser a reencarnação de Majin Boo (o nome do menino é Oob, Boo ao contrário). Goku simplesmente desiste da luta e voa com o seu adversário para longe e decide treiná-lo. Toriyama admitiu que a ideia inicial era usar Oob como novo protagonista, mesmo sem uma continuação em vista, mas logo descartou essa possibilidade. Oob voltaria a aparecer em Dragon Ball GT, mas não foi grande coisa.

Oob quase foi o sucessor de Goku

No final das contas, Dragon Ball Z se aproveitou de uma fórmula criada e se apegou em sua repetição, já que o sucesso era garantido (como nas várias aparições de Freeza, por exemplo, desgastando o personagem). Mesmo criando uma ótima mitologia, se deixou levar pelo fator comercial, deixando vários conceitos de lado, simplesmente para agradar ao público e vender bonecos. Prova viva disso é a saga Super, que não apresenta nada do que já não vimos antes. Pelo menos GT foi mais inventivo nas transformações e vilões.

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