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The Witcher: A Origem acerta por ser uma minissérie. E era isso.

The Witcher: A Origem, da Netflix, tinha uma boa ideia para desenvolver, mas o resultado não foi dos melhores

A HBO Max tem A Casa do Dragão e os derivados de Game of Thrones. O Prime Video tem O Senhor dos Anéis. E a Netflix tem The Witcher (e os derivados de Vikings). Todos os canais de streaming estão de certa forma, bem amparados em propriedades intelectuais com sagas dramáticas medievais e de capa e espada. No entanto, nem todas conseguem o mesmo alcance e o mesmo peso para suas produções. A Netflix é o canal que fica mais atrás neste aspecto (na modesta opinião deste que vos escreve). Embora com uma boa ideia para desenvolver, The Witcher: A Origem (The Witcher: Blood Origins), é um prequel que não desenvolve todo seu potencial, misturando muitos temas, tramas e mitologias em apenas quatro episódios. A minissérie estreia no dia 25 de dezembro, embalada em um pacote visualmente competente.

A ideia é contar como era o mundo élfico 1200 anos antes do que vemos em The Witcher – série que deve enfraquecer bastante com a saída de Henry Cavill do papel de Geralt de Rivia. Em seu lugar, Liam Hemsworth terá a difícil missão de encampar a terceira temporada -. Para isso, a Netflix reuniu no elenco a incrível Michelle Yeoh (O Tigre e o Dragão, Shang-Chi), Francesca Mill (Pistol), Mirren Mack (Sex Education), Sophia Brown (Marcella) e Laurence O’Fuarain (Vikings, Game of Thrones). Mas nem mesmo essa mistura interessante foi capaz de elevar a trama. Alguns deles, é importante ressaltar, até mesmo atrapalham.

The Witcher: Fjall em luta
Lutas e cenários medievais são as melhores coisas em The Wticher: A Origem

É claro, a combinação de boa ideia com bom elenco precisa de um elemento ainda maior que tudo isso, que é um bom roteiro. Afinal, de boas intenções, o inferno está cheio. A série começa interessante, retomando o personagem Jaskier (o bardo) como ouvinte de uma grande saga, a qual deverá contar a partir de então. A participação especial do ator Joey Batey, por mais que possa animar os fãs das temporadas de The Witcher, no final das contas, é mal conduzida. Uma pena. A partir de então, a provável história que ouviremos poderia ser narrada de forma mais contundente, de forma a situar melhor o espectador que não tem a mitologia dos livros e games na ponta da língua. Ninguém é obrigado, não é mesmo? E reside nessa função de jogar tantos elementos em tela (e em poucos capítulos) o maior problema de The Witcher: A Origem.

The Witcher: A Origem tem o combo de personagens estilo RPG
Francesca Mill é Meldof, que cumpre o check-list das tramas medievais como a anã carismática

E esse problema nos leva a um dos ensinamentos mais básicos do audiovisual, o clássico “mostre, não conte”. São muitas situações importantes apenas postas em diálogos e narrações ‘em off’ que temos que engolir a seco. E isso abala até mesmo a construção dos personagens. A suspensão da descrença precisa estar ampliada na potência máxima, pois argumentos, criaturas e ações nem sempre estarão justificadas da melhor forma. É preciso um certo nível de paciência para relevar esse apanhado todo e aceitar tudo que está se passando.

Outro ponto que não é  convincente está na motivação dos vilões. O desenrolar da história acontece “porque sim”, e vamos encarando uma sequência de absurdos (até bem amparados visualmente), sem qualquer preocupação. O papel de Mirren Mack com a elfa Merwyn é o mais prejudicado de todos, e sua atuação também não ajuda. Nem seu figurino, mais preocupado em “chocar” do que necessariamente ser minimamente aceitável perante todos os demais.

Talvez a grande explicação do “não funcionamento” em quase nada de The Witcher: A Origem esteja no grande responsável por reger a orquestra. Difícil estabelecer esse parâmetro, afinal, série ou cinema é sempre um trabalho coletivo, mas no currículo do criador Declan De Barra temos exemplos que ilustram isso, como a própria série The Witcher (que está longe de ser uma unanimidade) e a desastrosa adaptação de Punho de Ferro (da Marvel) para série em live-action. Esse último exemplo fala por si só.

 

Mas, para não dizer que há algum mérito por aqui, vale destacar que uma série com quatro episódios é sempre bem-vinda. E aquele espectador menos exigente, que gosta de ver lutas, piadinhas e efeitos especiais em tela, pode até ter um bom passatempo. Obviamente, como estamos falando de um prequel, a dica é ficar até o final dos créditos para ter aquele sorriso arrancado do rosto. Mas calma, não exagere nas expectativas.

The Witcher: A Origem poderia ter simplificado a vida e calibrado melhor sua história como um todo. Mas resolveu extrapolar e não soube construir uma narrativa envolvente com tantos personagens em tela. No final das contas, é mais uma adição sem graça ao catálogo da Netflix.

Veredito da Vigilia

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