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The Eddy: Damien Chazelle usa o jazz como força dramática na nova superprodução da Netflix | Crítica

The Eddy chega na Netflix já com uma estampa incrível de qualidade. Isso porque a série tem direção Damien Chazelle, que já nos presenteou com grandes filmes que têm em seu DNA a música. O mais recente deles foi La la Land, que causou um incidente marcante no Oscar de 2017. Apesar de levar seis estatuetas, naquele ano, quem levou o prêmio de Melhor Filme foi Moonlight. E antes disso, Chazelle já havia impressionado o mundo com Whiplash: Em Busca da Perfeição. Mais recentemente, ele saiu da sua área musical com O Primeiro Homem. Com toda essa excelente bagagem, é impossível não subir a expectativa com sua primeira experiência em um original da Netflix. E claro, ele não decepciona, contando uma história que novamente traz a música como um de seus principais componentes dramáticos, não esquecendo de uma história bem dividida e com personagens fortes. Já arrisco a dizer que The Eddy desfilará tranquilamente nas nossas listas de melhores séries do ano. Chazelle dá outro sentido para a arte de filmar, dirigir e musicar as cenas.

Para dar vida à história, Damien Chazelle contou ainda com o vencedor do Emmy® Alan Poul (Contos da cidade), Houda Benyamina (Divines) e Laïla Marrakchi (Le Bureau des Légendes). Na trama, vemos um grande pianista, com um passado que será contado aos poucos, tentando ganhar a vida com um clube de Jazz em Paris. A capital francesa dá todo um toque diferenciado para a série, o que para muitos pode destoar bastante daquelas séries mais básicas da Netflix. Com um ar mais erudito (quase esnobe), The Eddy talvez não caia no gosto popular, se me permitem também uma pitada desse ar que a novidade carrega. Mesmo assim, Chazelle carrega algumas de suas principais influências para a tela, mostrando uma cultura diferente no agir, falar e em como se contar uma história. E esse pianista, interpretado pelo excelente André Holland (The Knick), vai ter sua vida virada de cabeça para baixo ao tentar empreender e se distanciar dos palcos. Isso tudo porque seu melhor amigo e sócio acaba lhe deixando uma herança bem ingrata que vai se misturar com o submundo da charmosa capital francesa.

Damien Chazelle e André Holland nos bastidores de The Eddy

The Eddy é também o nome do clube dirigido pelo músico Elliot Udo (André Holland) e a banda por ele empresariada. Banda aliás, que é formada por músicos experientes da vida real. E tanto a banda quanto o clube são importantes personagens na montagem da engrenagem. Tudo acontece em sua órbita. E nela, os astros que por ali circundam são pessoas complexas, diversas, mas com algo importante em comum: o amor ao jazz. Maja (a também ótima Joanna Kulig de Guerra Fria) é a intérprete/cantora e principal elo do grupo. Julie (Amanda Stenberg, de Mentes Sombrias, Tudo e Todas as Coisas e O ódio Que Você Semeia) é a filha problema de Elliot. Farid (Tahar Rahim) é o sócio e melhor amigo, e temos ainda o pianista Randy (Randy Kerber), o baixista Jude (Damian Nueva), a baterista Katarina (Lada Obradovic) e os “metais” Ludo (Ludovic Louis) e Jawee (Jowee Omicil). Note que parte dos músicos carregam os seus próprios nomes reais.

The Eddy: Elenco e banda completos!

Chazelle mostra sua faceta mais brilhante ao contar a saga de cada um desses personagens a cada episódio, mesmo sem perder o fio condutor da trama principal. Ninguém tem um papel fácil e isso complica demais o diálogo franco entre eles, principalmente Elliot, que erra frequentemente. E essa falta de sintonia impacta negativamente em cada um desses personagens (e na banda e no clube). A câmera, por vezes agitada, de Chazelle se une ao virtuoso som do jazz para criar o tom de cada cena.

A trilha sonora da série é feita pela banda do clube. Não da forma tradicional, mas quase como se fosse tocada ao vivo durante as gravações, sejam elas durante as apresentações no bar, sejam elas fora do ambiente musical. Todo o som de apoio que ouvimos surge assim. Quando a edição de som não traz a banda oficial, é porque outro músico ou artista está musicando na cena. Basicamente não existe inserção de som, trilha ou efeito, que não seja feita por alguém que apareça tocando na frente da câmera. As músicas preencham a narrativa. Isso vale para um concerto incrível na casa noturna ou até mesmo em um velório muçulmano. E claro, assim como vimos em Whiplash, elas conseguem ser um ingrediente forte, causando tensão, apreensão ou mesmo momentos mais leves e alegres. A pegada e a essência musical rende até uma piada entre músicos mais eruditos e seus preconceitos com a música pop (mais precisamente uma música do cantor Mika). Afinal, tem algumas canções que as pessoas se recusam a encarar, não é mesmo?

A relação de Julie (Amanda Stenberg) e seu pai Elliot (André Holland) é um dos temas centrais

Em The Eddy a mistura Jazz + Chazelle + drama se transforma em arte, de forma crua e visceral, mesmo que se possa torcer o nariz para determinados movimentos no tabuleiro movido pelos personagens, suas características e impulsos. Assim como em suas passagens em obras na tela grande, o diretor joga a sonoridade ao seu favor, transforma música em tensão e consegue até mesmo fazer um dueto de bateria ter todo o sentido em dos momento mais cruciais da trama. O final (são oito episódios de uma hora) deixa a possibilidade para mais temporadas, mas isso não é expressamente uma necessidade.

Veredito da Vigilia

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