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Gramado aplaude Simonal | Crítica

O novo palco de Wilson Simonal é a tela grande. Passados 18 anos de sua morte, o novo longa biográfico brasileiro conta a diferente história de um artista consagrado, cheio de suingue, mas que teve uma derrocada nunca superada. E foi com o misto de musical e de história, que o filme Simonal, primeira obra do diretor Leonardo Domingues foi aplaudido no 46º Festival de Cinema de Gramado. No auditório, os filhos Wilson Simoninha e Max de Castro, diretamente envolvidos no longa, também presenciaram e aprovaram a obra. Junto deles, o elenco formado por Fabrício Boliveira, Isis Valverde e Caco Ciocler.

Desde o princípio, Simonal se mostra um clássico exemplo dos filmes brasileiros feitos para o circuito comercial. E as melhores cenas estão também logo na apresentação dos personagens. O longa já começa com todo o suingue conhecido do artista, bons planos sequências e uma bela reconstrução dos anos 50 e 60, com bons figurinos e releituras. Com a liberdade artística que a música permite, também romantiza com excesso a relação de Simonal (Boliveira) e a esposa Tereza (Isis). E tudo no início remete muito a um feel good movie que abrange uma cena musical que traz Erasmo Carlos e o empresário musical Carlos Imperial (Leandro Hassum).

O elenco do filme e os filhos de Wilson Simonal durante o tapete vermelho do Festival de Cinema de Gramado. Foto: Edison Vara / Pressphoto

É importante dizer que Boliveira se mostra em grande fase, encarnando com ginga e malandragem o personagem principal. O elenco de apoio, apesar de caricato, é o que se espera em uma produção com todos os carimbos que a envolvem. A música é certeira, concentrando todos os grandes sucessos do músico, costurando a narrativa ainda com o apoio de um trabalho que remonta manchetes de jornais e revistas da época, além de projeções gráficas que misturam cenas reais de Simonal em vídeos, programas de TV, e fotos e capas de discos, remontadas em detalhes na tela. O auge do filme é contado com um plano sequência em que Simonal orquestra sua plateia na gravação de seu programa de TV. Ele sai do palco e deixa todos cantando. Sai do teatro, vai até o bar ao lado, toma um trago, e volta no tempo da música e com a platéia em sua mão.

Mas aos poucos o feel good movie passa para sua parte mais conflituosa, mostrando que após sua ascensão, Simonal cometeu erros (muitos) ao gerenciar sua carreira. Entre uma ou outra ponta de músicos (reinterpretados) como Jorge Ben Jor e Elis Regina, o cantor mostra sua faceta cafajeste, traindo Tereza, que se descontrola, mas mantém sua relação com o cantor, além de uma rápida pincelada no racismo, exibicionismo com a relação de falsas riquezas e valores centrados no consumo, e uma passada pelo vício de Tereza em remédios.

A parte maior do conflito ainda envolve uma visita de Simonal ao Departamento de Censura, no auge da ditadura. É quando temos a participação especial de Caco Ciocler, que se diz fã de Simonal, mas efetivamente só parece prejudicar o músico. Era o começo do descontrole financeiro de Simonal, que culpou um de seus contadores. A guerra judicial enfezou o cantor, que foi acusado de tortura e sequestro do antigo funcionário. A partir daí, o fundo do poço contou com vaias e acusações de traidor da classe cultural e musical, fechando a narrativa em um tom que atenua seu declínio, mas de forma esperta com a semente plantada nos créditos iniciais.

Assim como Cazuza – O Tempo não para, Simonal tem tudo para agradar o grande público. Vale pela história musical e política, e claro, pelo suingue.

No nosso canal do YouTube você confere também uma entrevista especial com o diretor Leonardo Domingues.

Veredito da Vigilia

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