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Sergio: filme da Netflix relembra que o Brasil já teve bons líderes | Crítica

Sergio é o novo filme do momento na Netflix. Na verdade, ele estreia na sexta-feira, dia 17 de abril, mas em tempos de pandemia, os lançamentos do streaming estão se consolidando como os temas principais para se debater no mundo da sétima arte. Foi assim recentemente com O Poço, e não poderia ser diferente. Temos estreias importantes ao alcance do controle remoto, e sem sair de casa. Obviamente, nem todos os filmes do canal merecem tanta atenção, mas com Sergio, a importância cresce por uma série de motivos. O longa relembra que o Brasil já teve um dos grandes líderes de coalização mundial da história política contemporânea. Sergio Vieira de Mello era o alto comissário dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a ONU. E isso nunca será pouca coisa.

Basicamente estamos diante da história do homem que poderia naturalmente ser o primeiro brasileiro no principal cargo da entidade. Interpretado por Wagner Moura (que também é um dos produtores), Sergio é a prova também que o mundo já teve representantes mais dignos em diferentes frentes de trabalho. O filme é dirigido por Greg Barker, que já tinha assinado um documentário sobre Sergio. E, após se emocionar com o longa (ou não), vale muito zapear novamente pela Netflix e conferir essa obra, que é provavelmente ainda mais marcante. Completa o elenco Ana de Armas (Blade Runner 2049 e Entre Facas e Segredos) como Carolina Larriera, noiva de Sérgio.

Como todo filme biográfico (ou quase todo), temos em Sergio a clássica montagem que vai e volta na linha cronológica. A técnica é certeira, e você já deve ter visto ela em longas musicais, como Bohemian Rhapsody e Rocketman. Ela é quase padrão para filmes desse gênero, pois consegue manter a curiosidade do expectador, a tensão sobre o que poderá vir, além de basicamente entregar o final em sua forma certa, apontando a emoção e clímax da obra. Mas em Sergio, essa técnica tenha sido usada com um pouco de exaustão. Afinal, as idas e vindas costuram o filme todo, e acabam enrolando o seu desfecho. Outro ponto explorado com certa demasia é o ardor da relação entre Sergio (Wagner Moura) e Carolina (Ana de Armas). Algumas cenas entre os dois talvez pudessem ser cortadas sem afetar a importância de um para o outro. Até porque o legado de Sergio vem de seu trabalho.

Foi de Sergio algumas das conquistas mais expressivas das missões humanitárias da ONU em toda a sua história. Sergio era uma espécie de James Bond desarmado. Conseguia dialogar com, desde grandes líderes mundiais, até históricos vilões e guerrilheiros terroristas escondidos em uma mata fechada. Foi ele quem ajudou a eliminar conflitos importantes regiões em guerra, além de devolver muitas famílias refugiadas para suas casas antes usurpadas por sanguinários ditadores. E foi esse trabalho todo que o colocou em sua última missão. Nada mais, nada menos do que devolver a soberania ao Iraque logo após a morte de seu principal líder, Saddam Hussein, assassinado e brutalmente deposto pelas forças armadas dos Estados Unidos. Se você viveu essa época, sabe bem do quão complicada era a situação. Mas como cumpridor de suas tarefas, ele aceitou o trabalho, que (spoiler da vida real) lhe custou a vida.

Ana de Armas e Wagner Moura: um romance exagerado no filme

Wagner Moura consegue dar uma boa interpretação para Sergio, embora fique fácil entender que ele era muito mais carismático na vida real. Ana de Armas também está bem em sua função, na pele da argentina que conhece o representante da ONU em uma de suas tantas andanças. Temos ainda rápidas pinceladas de sua vida no Brasil e sua relação conturbada com os filhos, que, em função do trabalho, pouco ou quase nunca se encontravam.

A produção e a parte técnica de Sergio não deixam a desejar, recriando de forma competente todo o cenário do antigo Hotel Canal, local que serviu como base da ONU na missão de paz em 2003 no Iraque. Pontos positivos também para a edição de cenas reais mescladas às dramatizações, que lembram os bons momentos da série Narcos em suas primeiras temporadas. Vale novamente a dica para assistir ao documentário Sergio na Netflix e perceber que tudo que vemos no longa ficcional realmente aconteceu. E de maneiras bem próximas do que é montado por Greg Barker. A cena inicial, por exemplo, é toda copiada de um vídeo institucional gravado pelo representante brasileiro na ONU. O filme fica ainda mais impactante por esses e outros detalhes que são fielmente mostrados no documentário. A vantagem, no entanto, ainda é do documentário, que faz muito mais justiça ao líder que perdemos.

Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) e seus filhos no Rio de Janeiro: relação conturbada.

Por tudo que carrega em importância e simbolismos, além de boa montagem e caprichos técnicos, Sergio é um filme acima da média. Acima dos padrões que a Netflix infelizmente insiste em nos apresentar. E claro, em uma época em que vivemos uma crise de líderes e representantes no Brasil e no mundo, a Vigília Recomenda!

Veredito da Vigilia

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