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O Poço: terror claustrofóbico em tempos de confinamento | Crítica

Durante a época de quarentena é indicado assistir a um filme de enclausuramento? Bom, não sei responder essa pergunta, pois a resposta varia de pessoa para pessoa, mas foi o que eu fiz ao dar play em O Poço, produção espanhola da Netflix, que estreou no final da primeira semana de reclusão devido ao Covid-19.

Na história, que lembra e muito Cubo, filme de 1997, sabemos que pessoas, pelos mais variados motivos, aceitam ser trancafiadas em celas de maneira consciente. Lá, elas ficam em duplas, tendo uma cama cada um, pia, vaso sanitário e “alimentação”. Bem, esse último item é o mais peculiar de todos, uma vez que os compartimentos onde os indivíduos ficam alojados são um em cima do outro, e a comida vem descendo por uma espécie de plataforma que passa por um fosso, que parece não ter fim.

Bom apetite

Eis que nos é apresentado o protagonista do filme, Goreng (Ivan Massagué). Aparentemente, o cara queria apenas parar de fumar, e aceitou ficar no Poço pelo período de meio ano. Seu primeiro parceiro de clausura é um idoso, que está lá por ter cometido um crime contra um imigrante “sem querer”. Aqui a primeira crítica social da película aparece, mostrando um pouco do xenofobismo que ocorre na Europa, e porque não (?), no mundo.

A segunda crítica social vem logo que a plataforma com a comida chega ao nosso protagonista, que a essa altura está em um compartimento intermediário no prédio. Nesse ponto, os alimentos – todos pratos elaborados e granfinos – já estão pela metade e destroçados pelos participantes de andares acima. Ou seja, quanto mais abaixo você está, menos comida chega para você. Aqui nitidamente temos uma reflexão sobre o desperdício de comida no planeta, que se fosse consumida de maneira consciente, menos seres passariam fome. Sem falar no assédio moral que aparentemente os cozinheiros sofrem ao preparar os pratos, demonstrando que a exigência da excelência nem sempre é realizada da maneira correta. 

Você já viu o fundo do poço?

Depois disso, o filme começa a virar um terror psicológico, mostrando como as pessoas podem perder a sanidade ao ficarem muito tempo trancadas, ou como a lei do mais forte impera quando você só pensa no próprio umbigo.

Outro detalhe que vale ser mencionado é o de que os participantes podem escolher levar um objeto para o confinamento, no maior estilo Largados e Pelados. Goreng leva o livro O Engenhoso Dom Quixote, fazendo uma clara referência a loucura do personagem criado por Miguel de Cervantes. No Poço, vemos diferentes graus de loucura, inclusive sendo desmascarados ao longo do filme. Ou será que não? Quem garante que os Dragões não eram realmente Moinhos de Vento?

O que você levaria para o confinamento: uma faca ou um livro?

O Poço possui muito gore, mas também mensagens não tão subliminares quanto o filme que o inspirou (Cubo). A crítica social não é nada velada e ao mesmo tempo, te faz refletir assistindo a um filme claustrofóbico e que fluiu de forma fácil e orgânica. Fácil pelo seu tempo de duração e personagens bem construídos, mesmo com pouco tempo de tela. Porém, difícil de digerir justamente pelo seu final, que mesmo sendo enigmático, que ao meu ver (sem querer dar muito spoiler), utiliza novamente a referência de Dom Quixote para nos deixar com aquela pulguinha atrás da orelha.

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