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Rebecca – A Mulher Inesquecível é um remake morno | Crítica

Rebecca – A Mulher Inesquecível é uma das grandes produções do ano da Netflix. Grande pelo escopo, investimento e elenco, mas, infelizmente, essa grandiosidade parece ficar por aqui. O filme dirigido por Ben Wheatley (Free Fire) e que adapta o romance gótico de Daphne du Maurier, de 1938, estreia no dia 21 de outubro no serviço de streaming, e acaba ficando naquela média morna, não entregando todo o potencial que a trama teria e que no trailer oficial parece tão promissora. A responsabilidade aumenta ainda mais se lembrarmos que Rebecca – A Mulher Inesquecível já foi adaptada para o cinema em 1940, pelas mãos de ninguém menos do que Alfred Hitchcock, com direito a Joan Fontaine e Laurence Olivier.

A releitura começa muito bem, apresentando a protagonista, a futura Sra. de Winter, vivida pela excelente atriz Lily James (Em Ritmo de Fuga, Mamma Mia 2 e Yesterday). Ela é uma dama de companhia que vai para todo e qualquer canto que a sua chefe, a Sra. Van Hopper (Ann Dowd) anda. Em um período de férias em Monte Carlo, sua superior adoece e ela fica livre em um dos hotéis mais chiques da cidade, onde se depara com o belo viúvo Maxim de Winter, vivido pelo também ótimo Armie Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome). A relação dos dois logo engrena, apesar do viúvo esconder um mistério que envolve Rebecca, sua falecida esposa. Isso inicialmente não parece abalar o casal, e o primeiro terço do filme flui muito bem, mesclando o belo casal com as paisagens ainda mais belas do distrito do principado de Mônaco. Aqui presenciamos quase que um filme de romance, recriando a década de 40 com figurinos, cores, fotografia e encenações quase que perfeitas. Não por acaso, pois a produção é a mesma do longa O Destino de Uma Nação (de 2017), que recebeu indicações ao Oscar por alguns desses quesitos. Mas claro, sabemos que um romance gótico não ficará à luz do dia por muito tempo.

Rebecca: A governanta (Kristin Scott Thomas) confronta a Sra. de Winter (Lily James). Foto: Kerry Brown/Netflix

É quando entramos na segunda parte do filme, onde o jovem casal segue para Manderley, um castelo no interior da Inglaterra, local onde Maxim de Winter vivia com a ex-mulher. A partir dessa manobra, a sombra, ou fantasma de Rebecca, passa a atormentar em níveis crescentes a jovem (e nova) Sra. de Winter. Soma-se à brusca mudança de cenários, o ingresso da governanta, a Sra. Danvers, interpretada pela (também ótima) Kristin Scott Thomas (Fleabag, O Destino de Uma Nação). Em toda sua plenitude, ela encarna a clássica vilã misteriosa e uma das poucas que conhece o passado de Maxim.

Neste segundo momento do filme, as coisas começam a dar errado para a nova duquesa de Manderley. Todos os funcionários da mansão escondem alguma coisa dela, que busca respostas, mas só consegue reunir mais perguntas. O mistério cresce ainda mais com a mudança de comportamento do marido, chegando a alguns níveis bem previsíveis. Principalmente quando em uma grande festa na mansão, buscando agradar o marido, a Sra. de Winter (seu nome não é revelado na trama) comete um erro mais do que amador. É claro, um erro amparado no ardiloso comportamento de quem a cerca.

rebecca a mulher inesquecível
Rebecca flerta com um thriller de terror… mas só flerta!

Aos poucos o filme para de crescer e abraça uma espécie de crise de identidade. Toda a edição nos faz criar algumas teorias em relação à Rebecca. A principal pode até mesmo nos remeter a um filme de terror. Mas entrando no arco final, vemos que o desfecho parece destoar do restante da história. A narrativa foca tanto no mistério, ao ponto de não ter opções para solucioná-lo, trazendo situações mal elaboradas e expositivas demais para desfazer os nós da trama. Tão expositivas que nos levam a duvidar do que está se passando. Em rápidos momentos mudamos de um thriller psicológico envolvente para uma história capenga de crime policial e tribunal. É quando toda a estrutura montada anteriormente desaba, sem que ela tenha uma séria consequência para o desvendar desse grande mistério. Na verdade, a resolução é atropelada, levando a um último ato em que o espectador pouco ou quase nada vai se importar. Aliás, por termos uma confissão quase ao final do filme, até mesmo a nossa torcida por personagem A ou B fica comprometida.

Rebecca – A Mulher Inesquecível, por tudo que constrói, acaba sendo uma grande decepção pelo seu arco final, onde sabemos, é o momento mais decisivo de uma obra audiovisual. É no final que se encanta ou se perde o público. E nessa nova adaptação e remake, infelizmente, o filme tende a frustrar sua audiência.

Veredito da Vigilia

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