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Orange is the new black – quinta temporada | Crítica

Texto escrito por Bruna Monteiro

O texto abaixo contém spoilers da quinta temporada de Orange Is The New Black

Lançada em 9 de junho e começando exatamente do ponto em que a quarta temporada acabou, os 13 episódios se passam em um período de três dias, durante uma rebelião dentro da prisão de Litchfield.

Logo nos primeiros minutos temos Daya atirando na perna do guarda Humphrey – que, cá entre nós, merecia coisa bem pior por tudo que fez -. Aos poucos, a mulherada começa a dominar o local, entendendo que de agora em diante elas poderiam fazer as suas próprias regras.

Ao longo da temporada, como de costume, temos as cenas de flashbacks que tanto adicionam profundidade às personagens. Promovida ao elenco regular, temos a história de Frieda Berlin (interpretada por Dale Soules) que começa no segundo episódio. Uma escoteira-mirim um tanto fora dos padrões, treinada pelo pai para ser uma sobrevivente. Assim, os seus conhecimentos diversificados sobre botânica, caça e métodos de assassinato mostrados durante toda a série, começam a fazer mais sentido.

Ainda no segundo episódio temos uma inversão de papéis: os guardas agora são prisioneiros e merecem punição. Chegou a hora das inmates se vingarem de toda a humilhação causada pelos guardas nos últimos anos. Abrindo um parênteses para mencionar o quarto episódio, devo dizer o quão divertido foi o Litchfield’s Got Talent, a versão de reality show de talentos cujos desafiantes eram os próprios guardas.

Voltando ao terceiro episódio, temos o que, para mim, é um dos principais destaques da temporada: a união entre todas as presidiárias. Por mais que houvessem grupos com opiniões diversas a respeito da rebelião, todas concordaram em se unir e adotar o momento como uma oportunidade de mudança. Ao longo da temporada temos latinas e neonazistas juntas botando em funcionamento um café, Janae treinando Soso, Piper juntando-se ao grupo de Taystee pelos seus direitos, etc. É uma verdadeira lição de sororidade. Apesar de alguns atritos e de na hora da invasão dos guardas nem todas terem permanecido unidas, essa temporada foi de longe a que mais proporcionou a chance de todas agirem por um único objetivo: elas mesmas. Tendo os guardas como reféns, elas teriam como barganhar com o governo ou com a própria empresa responsável por Litchfield. Por voto, uma série de exigências foram eleitas. Elas compreendiam uma série de necessidades para uma convivência mais humana dentro da prisão. Quando cumpridas, os guardas seriam liberados.

O grupo liderado por Taystee tratou, ao longo dos três dias, de negociar essas exigências da forma mais civilizada possível com os mandachuvas lá de fora. Danielle Brooks deu um show de atuação nesse momento tão importante para a sua personagem. E é aí que a série nos dá um verdadeiro tapa na cara. Não foi preciso utilizar linguagem subjetiva para fazer uma série de críticas tão fortes sobre todo o sistema penitenciário, que humilha e menospreza todos os dias. A justiça pela morte de Poussey – #rip – foi um dos tópicos mais abordados por Taystee, que, em frente às câmeras de jornalistas profere um discurso de encher os olhos de lágrimas, exaltando algo muito importante: “a nossa luta é contra um sistema que não dá a mínima para quem é pobre, quem é negro e quem é pobre e negro”.

O episódio 5 foi, de longe, um dos meus preferidos. Além do discurso dado por Taystee, temos um flashback da juventude de Janae Watson, vivida por Vicky Jeudy. Em um passeio escolar para um colégio particular, Janae observa todas as oportunidades que não estão ao seu alcance. Em uma conversa com a professora, após o passeio, a garota, claramente indignada, questiona os métodos de ensino de sua escola. Enquanto do outro lado da cidade eles estudam para vestibulares, possuem laptops e galerias de arte; eles não estudam para vestibulares e nem mais possuem uma biblioteca. “Eles têm tanta cultura que nem sabem que roubaram a nossa”, ela diz à professora, após presenciar um ensaio para o musical Dreamgirls com um elenco constituído somente por meninas brancas. A revolta da jovem Janae está na falta de representatividade, na falta de oportunidades. Ela sabia, naquele momento, que não importa o quanto batalhasse, ela jamais chegaria ao mesmo patamar daqueles que já nascem favorecidos. Sua professora discorda e diz que isso não é motivo para desistir.

Enquanto isso, no mundo real, milhares de jovens sentem a mesma coisa. Eles veem o mundo como ele lhes é mostrado. Por que lutar? Por que tentar? É o que a série nos mostra. A realidade de milhares de pessoas (normalmente mulheres), com questionamentos, problemas e lutas reais, que precisam ser combatidas dia após dia.

Mais à frente, após a celebridade Judy King ter saído de Litchfield, ela e Aleida dão uma entrevista à uma apresentadora em um programa. Enquanto a mídia mascarava a situação chamando de “movimento” o que estava acontecendo, Aleida deixa bem claro que é uma rebelião; que tudo aquilo estava acontecendo por culpa de todo o assédio cometido por guardas, por elas não terem chances de educação e reabilitação no mundo fora da cadeia. Uma curiosidade interessante: nesse mesmo episódio da entrevista de Aleida, temos um flashback de Dayanara. Ali podemos ver uma parte de sua adolescência e do relacionamento com a mãe e com alguns amigos. Enquanto assistia, era impossível não reparar que não era Dascha Polanco interpretando Daya, mas sim uma garota incrivelmente parecida com ela. Após uma rápida pesquisa, descobri que a atriz é filha de Dascha, Dasany Kristal Gonzalez, de apenas 16 anos!

O flashback de Red, no episódio 9, também é vital para entendermos mais sobre a personagem e refletirmos sobre alguns temas. Antes uma pacata operária em uma fábrica, Galina começa um relacionamento com Pavel, um rebelde contra os ideais soviéticos que vendia calças jeans. Galina, então, junta-se ao movimento e sonha com liberdade em seu país, não largando de suas novas diretrizes quando Pavel desiste de continuar. E foi isso que a trouxe para a América: um sonho por liberdade. Unindo-se ao seu ex, Dmitri, ela vem buscando uma vida melhor.

Um dos pontos altos da temporada, com certeza também foi o novo capítulo de novela mexicana de Lorna e Nicky. Casada, Morello cede à tentação e transa com Nichols, partindo o seu coração mais uma vez ao dizer que só o fez por culpa dos hormônios resultantes de sua gravidez. Nicky não acredita, considerando o número de vezes em que Lorna já inventou histórias e se convenceu de que eram verdades. Mais para frente, vemos Nicky repaginada e quase irreconhecível sem seu clássico lápis de olho e cabelo bagunçado, tentando superar o acontecido. Descobre-se, então, que Morello realmente está grávida, resultante de uma visita conjugal do marido após seu casamento.

O que deixa tudo mais emocionante é ver Nicky engolindo seu orgulho e sua dor para fazer o melhor para a sua amada: conversar com Vinnie, marido de Lorna, para convencê-lo de que a gravidez é real e que ele não deve desistir dela e dessa chance de ter alguém que tanto o ama ao seu lado. Essa, na verdade, foi uma temporada muito importante para Nicky, que se manteve sóbria e inclusive ajudou a sua “mãe”, Red, a lidar com o seu próprio caso com drogas.

Red esteve completamente obcecada em descobrir a verdade sobre o guarda Piscatella, o brutamontes que a humilha desde a sua chegada em Litchfield. Unindo forças com Blanca Flores, elas descobriram que ele havia matado um inmate em uma outra prisão. Assim, tentaram o atrair para dentro da prisão para conseguir obter uma confissão. Essa foi a sua ruína. Piscatella sequestrou e amordaçou as duas, Nicky, Piper, Alex e Boo, somente para ensinar uma lição à Galina. Em uma cena de cortar o coração, ele raspa uma parte do cabelo da mãezona do grupo, somente para mostrar que ninguém é tão forte assim. Intercalando com o seu forte flashback em uma outra prisão, onde se apaixonou por um dos presos, Piscatella comenta o quanto homens respondem à dor como ameaça, mas que as mulheres parecem precisar de mais do que isso para ceder; assim, explicando o seu método de tortura com Red. Confesso que as cenas estilo horror em que Piscatella ia atrás de cada uma acabaram sendo bem divertidas e ótimas referências aos clássicos do terror, mas toda a violência psicológica – e física – feita pelo guarda foram extremamente tensas. Estapear Nicky e quebrar o braço de Alex somente aumentaram o nível de aflição.

Uma luz no fim do túnel surge quando Frieda e o resto de seu grupo, escondidas no que costumava ser a área da piscina – extremamente bem equipada pela ex-boazinha, que mostrou muito de si ao convidar suas amigas para juntarem-se a ela nesse espaço especial – atraem a atenção de Piscatella. Ágil como sempre, Frieda “apaga” o guarda com um dardo.

O que nos leva ao final dessa saga insana que durou apenas três dias, que foram muito bem contados. O nosso elenco regular detém o guarda e continuam no seu esconderijo. Em um momento de humanidade, Red o libera para ir, já que conseguiu o que precisava: um vídeo provando o que ele fez à elas. Piscatella teve um final digno da segunda temporada – quando Rosa atropela Vee – ao sair do esconderijo e ser morto, acidentalmente, por um tiro do grupo de guardas que estava acabando com a rebelião.

Com o resto da prisão sendo separadas – inclusive o melhor casal/não casal Flaritza – em vários ônibus com destinos à outras prisões, o nosso tão amado grupo é descoberto no esconderijo da piscina, em um momento de simplicidade, com todas de mãos dadas.

E agora, o que será de Piper, Alex, Suzanne, Taystee, Cindy, Red, Nicky, Gloria, Blanca e Frieda? Impossível acreditar que serão aniquiladas pelo grupo de guardas. Serão todas separadas? Será um adeus à algumas personagens, considerando que todas estão sendo encaminhadas para lugares diferentes? Irão todas para uma prisão de segurança máxima?

Irá a próxima temporada ser em mais de uma prisão? Aguardaremos, ansiosos, as cenas dos próximos episódios! Enquanto isso, a gente pode conferir a bela estampa que a Chico Rei criou para a série https://goo.gl/Yx1U68.

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