CríticaFilmes

O triste fim de Sai de Baixo | Crítica

Os que acompanham programas de humor brasileiros, séries, sitcoms e outras vertentes sabem que “Sai de Baixo” marcou uma, duas (ou até três gerações). A série teatral da Globo fez história na TV, de 1996 a 2002, e chegou aos cinemas com o que parecia uma grande homenagem aos tempos de ouro dos atores e humoristas marcados pelos personagens Magda (Marisa Orth), Caco Antibes (Miguel Falabella), Vavá (Luis Gustavo), Cassandra (Aracy Balabanian) e Ribamar (Tom Cavalcante). Mas infelizmente, essa ideia não se concretizou e de várias (e problemáticas) formas vai decepcionar o fã que esperava por momentos de nostalgia que poderiam aquecer seus corações. Isso porque o filme dirigido por Cris D’Amato com roteiro de Miguel Falabella é um golpe digno do louro, alto dinamarquês e (ex) praticante do canguru perneta.

Sai de Baixo sofre dos grandes problemas das comédias e “Globo Filmes”, que se baseiam em improvisos e bordões para sustentar uma trama quase inexistente. Fora o fato de que o que funcionava muito bem no final dos anos 90 e início dos 2000 já não soa bem aos ouvidos, tampouco lubrifica nossas pupilas. É um filme fora de tom e fora de época. A turma caloteira do Arouche já inicia desmontada pela falta de uma Edileusa (imortalizada por Cláudia Jimenez) ou uma Neide (Márcia Cabrita, que faleceu em 2017). A tentativa é colocar Cacau Protásio como Cibalena na cena, e, mais tarde, Katiuscia Canoro como Sunday. Não funciona.

Marisa Orth, Miguel Falabella, Aracy Balabanian, Cacau Protásio, Tom Cavalcante e Katiuscia Canoro

A trama começa quando Caco Antibes está saindo da prisão. Atualmente, seu filho Caquinho (Rafael Canedo) já faz seus trambiques, a Vavá Tur não existe mais e, adivinhe? Todos serão despejados da Arouche Tower. Para tentar jogar a trama para estrada e fazer fluir algum senso de urgência, os personagens do Juiz Nicolau Antibes (Castrinho), Angelina e Banqueta (ambos por Lúcio Mauro Filho) também entram no esquema, impondo que a prima Magda leve pedras preciosas para o Paraguai para salvar uma fortuna desviada do povo brasileiro em um investimento que deveria servir para uma importante estrada transnacional. Até que isso aconteça, perdemos tempo com algumas apresentações desnecessárias e uma série de situações para honrar os bordões de cada um dos personagens. Aliás, temos ainda a tia de Ribamar, a dona Jaula, que também é interpretada por Tom Cavalcante em mais uma tentativa de humor fácil e caricato. O tempo parece não passar durante o filme, e você pode ter certeza que o crítico aqui estava com o coração aberto e louco para gostar do filme.

As poucas piadas que se salvam ficam com Magda e Cassandra, que, como o próprio roteiro sugere, participou apenas de três externas de gravação, aparecendo e desaparecendo do filme sem qualquer tipo de explicação. Tudo que é feito na história serve para tirar os personagens de um lugar para outro e conduzir uma série de perseguições que mais cansam a nossa beleza do que propõem alguma piada importante. E depois do desfile de situações absurdas a gente vai se dando conta de que tudo tem seu tempo e, de certa forma, precisa evoluir. O fato positivo é que os atuais programas humorísticos estão muito mais afiados e refinados do que os de um passado recente calcados em clichês, bordões e frases soltas, ainda que ela funcione para grande parte do público capaz de investir em um ingresso de cinema para assistir Sai de Baixo. Detalhe, na minha sessão, não ouvi qualquer risada.

Magda com seus tracadalhos, que ainda funcionam

A grande homenagem a um dos programas mais legais de um passado recente realmente parecia uma excelente ideia. Mas algo se perdeu no caminho, e o tempo realmente não fez bem para atores, carreiras e tipo de humor utilizado. Além das três diárias de Aracy Balabanian, Vavá, o nosso querido Paulo Gustavo, surge apenas aos 46 minutos do segundo tempo. Aos 85 anos, ele teve um recente diagnóstico de câncer, que o fez se distanciar do longa.

Quase como uma desculpa esfarrapada, Sai de Baixo termina com um triste número musical, feito daquele jeito, ‘onde dava para chegar de bicicleta’. Apesar de todo o esforço, foi um triste fim para essa turma que tanto alegrou o Brasil.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *