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O terror claustrofóbico de O Farol | Crítica

Ficou para a primeira quinta-feira de 2020 no Brasil a estreia do filme que causou no mundo todo durante o ano de 2019. O Farol, de Robert Eggers (A Bruxa, 2015) rodou o globo por diversos festivais, abocanhando importantes prêmios e convencendo críticos renomados de seu potencial de terror artístico. Todo rodado em preto e branco, em tela quadrada, O Farol mostra (assim como em A Bruxa) que nem só de jump-scares vive o terror. Pelo contrário. O terror vive na mente das pessoas, em seus traumas, vidas e relações, transformando seus personagens de quase parceiros à grandes inimigos. Tudo isso com uma pitada alucinante – e quem sabe sobrenatural? – em uma não desproposital caixa claustrofóbica de dois vigilantes de um farol distante em uma remota ilha na Inglaterra dos anos 1890.

O Farol repete A Bruxa em alguns pontos, mas traz uma gama ainda maior de interpretações para tudo que vai se passar em 1 hora e 49 minutos de projeção. Para melhorar a minha experiência particular com o filme, a cabine de imprensa foi realizada na Cinemateca Capitólio, no Centro de Porto Alegre. O último cinema de rua da Capital Gaúcha ampara em sua arquitetura e ambientação um tom de antiguidade que o filme de Robert Eggers consegue retratar em sua película. Viajar no tempo e resgatar ares antigos acabou sendo parte importante da aclimatação para o que estava por vir. 

Em tela, na maior parte do tempo, temos um duelo de atuações dos vigilantes da ilha, que são interpretados por Willem Dafoe (que dispensa comentários) e o futuro Batman das telonas, Robert Pattinson, que já provou ser muito mais do que o vampiro da saga Crepúsculo (vide exemplos como ‘Bom Comportamento’). A chegada dos dois na rocha isolada logo de cara nos traz algumas dúvidas sobre o que exatamente estará por vir. Acredite, você jamais vai imaginar.

A fotografia quadrada e um duelo de atuações em ‘O Farol’

Como “marinheiro” mais velho, Dafoe comanda o jovem. Ambos parecem esconder suas histórias e seus passados, mesclando momentos de confraternização com os de uma quase violência. O isolamento (não sabemos claramente o número de dias, semanas ou meses, que se passam) realmente mexe com os personagens, principalmente Pattinson, o responsável por quase todo o trabalho braçal que se exige. Mas a carga pesada é mesmo mental. Uma imagem de uma sereia feita de cerâmica ronda o confinado, assim como devaneios e sonhos (pesadelos?) e as rodadas de refeições regadas a álcool, item quase essencial na realidade fria em que se encontram.

O clima frio, chuvoso e barroso da ilha esquenta somente quando também se elevam os tons das relações entre os dois, ou mesmo suas crises internas. Nesse aspecto, Eggers mescla tons de devaneios com seres marítimos, violência e uma dose ainda mais sufocante de terror com seres e mitos tais quais H. P. Lovecraft poderia ter feito, trazendo o tom mais assombroso (e até poético) do longa.

O Farol é um filme de atuação, conflitos internos, e paciência. Respire fundo antes e depois da sessão.

Veredito da Vigilia

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