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O medo ganha forma em O Páramo, novo terror da Netflix

Quando somos crianças, tudo o que é novo nos causa alguma sensação no momento em que descobrimos, seja positiva ou negativamente. Ao crescermos, o novo nos causa muito mais incômodo do que admiração, e isso na maioria das vezes é fruto da ignorância, cegando a nossa capacidade de discernimento de certo ou errado.

E é nesse misto de ignorância, medo e desconhecido que se resume O Páramo (El Páramo), novo filme de terror espanhol da Netflix, dirigido por David Casademunt e que estreou no dia 6 de janeiro. A história conta com poucos personagens, tendo destaque uma família formada pelo pai Salvador (Roberto Álamo), Lucía (Inma Cuesta) e Diego (Asier Flores). Os três vivem isolados em um lugar distante, contando apenas com uma casa simples, uma colheita de milho e coelhos para comer. Por estarmos no século 19, a Guerra Civil Espanhola está em alta. Para proteger sua família, Salvador coloca uma barreira em volta de suas terras, representada por diversos espantalhos e cruzes, delimitando assim, o espaço “seguro” para Lúcia e Diego.

Diego aprendeu que não é seguro lá fora

O garoto não tem amigos, a não ser os coelhos, que mais tarde, são utilizados como prato de comida para a família. Por não ter conhecimento do mundo lá fora, o menino tem medo de muitas coisas, fazendo com que o seu pai sempre o encoraje a aprender como atirar, matar animais e por aí vai. É sempre na figura materna que o pequeno Diego encontra um porto seguro, já que ela procura lhe ensinar coisas mais apropriadas a sua idade e também como aproveitar realmente a infância, sem pular etapas.

Tudo muda quando seu pai conta uma história assustadora sobre um ser que se alimenta do medo e que foi o responsável pela morte da sua irmã, muitos anos atrás. Ao mesmo tempo, um soldado acaba aparecendo nas terras da família, morrendo logo em seguida. Salvador decide então levar o corpo para os parentes do militar, ultrapassando a barreira “segura” e deixando sua mulher e seu filho sozinhos em casa.

Uma visita inesperada

É neste momento em que O Páramo explora todos os caminhos do medo, mudando o comportamento de Lúcia, que aos poucos, começa a deixar de ser um porto seguro para Diego e assume o mesmo comportamento de Salvador. Tudo porque acredita que a tal entidade está rondando a sua casa e precisa combatê-la a todo custo. 

O Mal está rondando a casa de Diego e Lúcia

O interessante em O Páramo é a retratação de como a ignorância e o medo são uma combinação perigosa. Ainda mais agora, que estamos vivendo uma pandemia, notamos um pouco de semelhança entre a ficção e a realidade e de como precisamos cuidar bem de nossa saúde mental. Nunca sabemos o quanto a desinformação pode criar um monstro em nossa mente, tornando concreto aquilo que é puramente abstrato. 

Diego precisa enfrentar os seus medos para ficar vivo

Outro detalhe interessante é o de como podemos alienar um ser desde cedo. Diego não tem amigos, só tem a referência dos pais e não sabe nada sobre o mundo que fica além das barreiras impostas por seu pai. Mesmo assim, em alguns momentos ele tende a ser desobediente, justamente porque tem esse anseio de saber mais do que apenas até onde a sua vista alcança. 

As crianças são esponjas. Cuidado com o que você ensina para elas

O Páramo tenta emular algumas coisas que já vimos dar certo em outros filmes, como a ignorância em A Bruxa e as prisões impostas pela sociedade que teima em não interagir com o mundo de A Vila, e até mesmo uma pitada de loucura provocada pelo isolamento vista em O Iluminado. Porém, seu ritmo cadenciado e o não tão bom aproveitamento da entidade criada para essa mitologia deixa esse filme bem abaixo dos citados. Mesmo assim, é uma boa pedida para quem curte um terror sensorial. 

Veredito da Vigilia

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