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No Portal da Eternidade | Crítica

Estranhamente enquanto começava a rabiscar anotações sobre “No Portal da Eternidade”, meu spotify, em uma playlist aleatória, começa a tocar a música “Vincent”, de Don McLean. Nunca havia prestado atenção em sua letra, porém quando o fiz, tudo fez sentido.

Don McLean escreveu a música em 1971, após ter lido uma biografia sobre Vincent Van Gogh. Segundo ele, queria transmitir em sua música que Vincent não era louco, mas sim uma pessoa transtornada por uma doença, que estava muito à frente do seu tempo.

Na Letra de Vincent, um recorte da história do artista

Feita a introdução, chegamos no longa “No Portal da Eternidade”, dirigido por Julian Schnabel, que trata justamente sobre isso, os transtornos de um artista não compreendido em sua época. O filme, que estreou dia 7 de fevereiro, acompanha os acontecimentos da vida de Vincent (Willem Dafoe, indicado ao Oscar de Melhor Ator) a partir de, mais ou menos, 1888, quando mudou-se para o sul da França, até o momento de sua morte, em 1890.

A obra retrata a ligação do artista com a natureza, a ligação entre vida e eternidade. Entre cenas de diálogo que contam a sua relação com seu irmão Theo (Rupert Friend), com o artista Paul Gauguin (Oscar Isaac) e com as outras pessoas ao seu redor, temos, de forma intercalada, várias cenas com somente a trilha sonora de fundo. Nesses momentos, acompanhamos Vincent explorando a natureza, percorrendo longos caminhos para encontrar o local perfeito para ser pintado em tela. Aqui podemos vislumbrar um pouco da intensidade do artista, que verdadeiramente parecia sentir o mundo ao seu redor para, posteriormente, expressar tudo isso em sua arte.

Willem Dafoe como Vincent Van Gogh

A sua dita loucura, inicialmente é retratada como uma incompreensão geral das pessoas à sua volta. Porém, com o desenrolar da trama, seus episódios psicóticos começaram a se intensificar, trazendo momentos de violência posteriormente incompreendidos por Vincent.

Por meio dos movimentos de câmera e enquadramentos de tela, o longa transmite a intensidade de Van Gogh, com uma esplêndida atuação de Dafoe. Por vezes, somos os olhos do artista, em outros momentos, uma espécie de “câmera nervosa” que acompanhava a história, transmitindo a tensão da cena. Acompanhamos, assim, alguns dos mais difíceis momentos de sua vida, adentrando em sua mente de forma vívida.

As relações de Vincent são muito bem exploradas, dentre elas a bela afeição pelo irmão, a difícil amizade com Paul Gauguin e a leve companhia do doutor Paul Gachet (Mathieu Amalric), esse que posou para a obra “Retrato de Doutor Gachet”.

Obra “Retrato do Dr. Gachet”, de Vincent Van Gogh (1890)

O personagem de Van Gogh fala, em certo ponto, sobre existência provida de razão. Mais adiante, por suas próprias revelações, vemos que a sua razão de viver era a pintura, algo muito bem retratado na tela do cinema. As batalhas internas do personagem também são exploradas de forma sublime por uma espécie de conflito: o lado das cores e da essência da vida versus a escuridão dentro de si.

“No Portal da Eternidade” traz, assim, um olhar melancólico da difícil vida do hoje prestigiado artista Vincent Van Gogh. Entretanto, é preciso, ao assistir, estar ciente de que trata-se de um filme de drama biográfico e que, ao final do filme, a sensação é de injustiça e tristeza.

Mas a Vigília Recomenda!

Veredito da Vigilia

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