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King Kong em Asunción: drama existencial falado em guarani | Crítica

King Kong em Asunción é uma produção que pode dar um nó na cabeça do mais desavisado. Principalmente num contexto de longa que concorre como Filme Brasileiro no 48º Festival de Cinema de Gramado. Explico: apesar do nome em português e ser uma produção nacional, o longa do diretor Camilo Cavalcante, tem sua narração toda feita na língua guarani (ainda muito usada no Paraguai), e ainda mescla português brasileiro e espanhol. Quem assiste sem saber, certamente colocaria a produção na mostra de filmes estrangeiros.

O último filme do festival é uma mistura de drama existencial com road-movie, sempre com uma pegada muito melancólica reforçada pela trilha sonora marcante do músico argentino Shaman Herrera. Na história, acompanhamos um velho (e assim ele é creditado no filme) que é matador de aluguel. Escondido no interior da Bolívia, na região desértica do Salar de Uyuni. Ele acaba de cumprir sua última missão da “profissão” e depois de meses, ele embarca numa viagem para o Paraguai para conhecer sua filha.

King Kong em Asunción e os caminhos da vida

Dos filmes concorrentes esse ano em Gramado (é necessário destacar que não assisti a todos), King Kong em Asunción parece o mais bem acabado visualmente, trazendo uma fotografia incrível, planos emoldurados por cenários excelentes (as tomadas no Salar de Uyuni são destaque) e pelos trilhos e caminhos por onde anda o velho. Tudo é muito caprichado. Aliás, o velho, interpretado por Andrade Júnior, na minha modesta opinião já pode receber o Kikito de Melhor Ator, embora lamentavelmente ele tenha falecido em 2019, aos 74 anos, sem assistir ao filme pronto. Júnior leva o filme nas costas, com uma entrega física e emocional que poucas vezes vemos em tela. Ele carrega em seu semblante toda a carga de um ex-matador, cujos pecados jamais serão perdoados. É dele também o físico de homem-gorila, que batiza o filme.

Outro destaque da película é a aparição da atriz Ana Ivanova, que já levou Kikitos para casa na edição de 2018, com o sucesso Las Herederas (As Herdeiras). Na ocasião o filme de Marcelo Martinessi só não venceu em três categorias. Mas não se engane, você não verá ela em tela. É dela a voz da narração de todo o longa, que é tão presente quanto o próprio protagonista. Toda em guarani, ela mescla estranhamento e drama na medida certa.

King Kong em Asunción é rico também pela sua vasta gama de países que mostra, e, consequentemente, a mescla que faz com profissionais de Brasil, Bolívia, Argentina e Paraguai. A construção da logística de ter sido realmente uma verdadeira gincana. Ao mesmo tempo ele é experimental, deixando a trajetória do personagem fluir sem dar certeza ao que estar por vir. Um pouco de como é a vida, afinal. 

Veredito da Vigilia

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