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Jesus Kid: crítica e irreverência em um semi-western brasileiro

Aly Muritiba, diretor de Ferrugem, vencedor do Melhor Filme do Festival de Gramado de 2018, retornou ao Festival em 2021 com Jesus Kid. O longa foi exibido na última sessão da Mostra Competitiva, mostrando que ele encara qualquer gênero com muito entusiasmo. Se em Ferrugem tínhamos um drama adolescente pesado, em Jesus Kid temos uma comédia ácida, cheia de camadas, metáforas e críticas políticas. Tudo isso embalado em uma roupagem de cinema pop, com várias influências fáceis de identificar, que vão desde o Western Spaghetti (ou quase isso), passando por Tarantino e os irmãos Coen. Para melhorar o combo, o diretor curitibano recheou o longa com dois rostos bem conhecidos do público: Paulo Miklos (que também volta ao Festival) e Sérgio Marone.

https://youtu.be/Ix6VwQLq5eU

Em Jesus Kid, a aposta é na trama de Eugenio (Paulo Miklos), um escritor com dificuldades criativas e financeiras. Para seu espanto, uma nova oferta de trabalho surge: ele precisa escrever um roteiro de um filme para que seu ‘mecenas’ lance um amigo (não a toa publicitário) como diretor de cinema. E claro, as coisas nunca são tão simples como se imagina. 

A ideia nos joga para um filme que basicamente se passa dentro de um hotel. Aliás, não por acaso. O filme Jesus Kid é baseado no livro homônimo de Lourenço Mutarelli, que joga o autor de Jesus Kid para uma imersão total. Ele precisa passar três meses hospedado no hotel luxuoso com o intuito de terminar o roteiro. Sem poder sair ou ter contato com o mundo, Muritiba cria um cenário perfeito para uma crítica voraz ao atual governo do Brasil. É nessa linha que temos algumas das melhores piadas. O problema é que às vezes a gente pode rir é de nervoso, tamanha a ‘surrealidade’ de acontecimentos. É fácil imaginar que a vida vai imitar a ficção criada no filme. Tudo graças a incapacidade, imperícia e falta de noção do atual presidente.

jesus kid tem sérgio marone
Sérgio Marone está quase irreconhecível em sua versão de cowboy

Ao mesmo tempo em que conta a história da saga para escrever o roteiro, Jesus Kid, o personagem, começa a interagir com Eugenio em cena. E as misturas do que é pensamento, do que é história, e do que realmente está se passando fazem crescer a ficção, e a própria ficção de dentro da cabeça do autor. Jesus Kid, na pele de Sergio Marone (sua primeira experiência cinematográfica) tem inserções pontuais. Vestido com todo o clichê de um cowboy norte-americano – veja a capa de um gibi do Tex e estará vendo a caracterização dele – ele tem a fala forçada e vários chavões em suas participações.

Outro ponto importante em Jesus Kid é a participação do porteiro do hotel (interpretado por Leandro Daniel Colombo). Em uma briga contínua, ele rivaliza com Paulo Miklos o tempo todo, aumentando a maluquice que se torna a história, que ainda terá sangue e muita comédia pastelão (mas muito bem empregada).

Jesus Kid encerrou o Festival de Cinema de Gramado com um filme colorido e atual. Embora tenha sido editado em 2020, ao assistir, a impressão é de que foi finalizado ontem, dada a precisão de algumas piadas e críticas. E mostrou que Aly Muritiba, que também foi o diretor do documentário sobre o Caso Evandro, transita bem por vários tipos de cinema. Ficarei triste se Jesus Kid sair sem algum prêmio importante este ano.

Veredito da Vigilia

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