Ford Vs. Ferrari, um filme para todos os amantes de velocidade | Crítica
Mais do que um filme, Ford Vs Ferrari é uma obra sobre paixões. Ao mesmo tempo, é um filme sobre como um sistema focado unicamente em dinheiro (é capitalismo que chama né?) pode ser capaz de transformar todo um universo apaixonante em algo podre. E com esta mescla, o diretor James Mangold nos entrega um produto embalado para presente, pronto para figurar a nossa coleção de grandes filmes de 2019. Ele guia os excelentes Matt Damon e Christian Bale, ao lado de Noah Jupe (Suburbicon), Jon Bernthal (Justiceiro), Caitriona Balfe (Outlander) e Josh Lucas em uma história que reconta um período de verdadeiras lendas. E como falamos de velocidade, nada melhor do que falar da maior e mais perigosa prova de automobilismo do mundo (as 24 horas de Le Mans) e as lendárias empresas Ferrari e Ford, sob a ótica de grandes pilotos, como Ken Miles (Bale) e Carroll Shelby (Damon). Quem gosta de automobilismo, já sabe onde está chegando.
Em Ford vs. Ferrari, tudo começa com uma metáfora. Porque em algum momento a 7000 rpm, o piloto e o carro se soltam e se perdem no espaço-tempo. Esse momento é quase uma fusão entre homem e máquina. Não é pra todo mundo. E nesse momento esteve Carroll Shelby em 1959, ao cruzar a linha de chegada em primeiro lugar na famosa prova das 24 horas de Le Mans, na França. A sua carreira, no entanto, precisou ser abreviada, o que levou a vender carros e conhecer outro grande piloto, mecânico e apaixonado por velocidade: o britânico Ken Miles. A dupla interpretada por Matt Damon e Christian Bale – covardia esse elenco né? – é o grande centro do filme.
Mas é claro, que nem só de paixões é feita a vida. E Jame Mangold aponta a parte podre das corridas colocando duas grandes marcas de carros: Ford vs. Ferrari, como sugere o próprio título. A Ford, consolidada como grande empresa, lucrativa, mas sem alma. Vende carros utilitários, feitos para suprir as necessidades enfadonhas de uma geração criada na revolução industrial. Carros que levam homens para seus empregos e carregam a família no final de semana. Já no charme da Europa, a artesanal Ferrari se consolidada como marca vitoriosa, sinônimo de bom gosto, arrojo, e claro, velocidade, ganhando as maiores provas do automobilismo. Foi preciso convencer o engravatado Henry Ford II a mudar a forma de ver um carro para que a rivalidade fosse despertada.
Conforme conta a história da burocracia, dos engravatados e da morosidade de uma grande empresa, Ford vs. Ferrari nos cativa fortemente pelos personagens. Ken Miles (Bale) é o piloto audacioso, mas que não consegue sustentar a mulher e o filho com sua oficina mecânica. Temperamental, ele vê sua chance na proposta de Shelby, que ganha a confiança dos engravatados para fazer da Ford uma construtora também de carros desejados. Foi dele a criação da lenda norte-americana sob quatro rodas chamada Mustang. E foi dessa dupla que surgiu a possibilidade de reverter o histórico da Ferrari em Le Mans.
Com tudo isso colocado, Mangold guia o público em uma trama dinâmica e bem construída. Os cenários de um Estados Unidos dos anos 60, seus carros, curvas e cores são um verdadeiro colírio aos olhos. E as corridas grandiosamente ilustradas, colocando no espectador a sensação de estar a mais de 240 km/h e em rotação máxima. Mangold inclusive repete muitos acertos de Ron Howard em Rush – No Limite da Emoção, outra grande obra do cinema de automobilismo, e os seu próprios acertos vistos em Johnny e June (2005). Ao remontar épocas, ele mostra suas melhores facetas como diretor.
Pra quem não conhece a história real que é dramatizada, o impacto com certeza será maior. Mas os fãs desse episódio histórico também serão chamados pela emoção. Tudo está na fórmula quase perfeita e na harmonia de roteiro, condução, edição, interpretações, fotografia e som (o ronco do motor é importante até mesmo para acalmar os ânimos dos pilotos). Por tudo isso, Ford vs. Ferrari torna-se uma sessão indispensável.
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