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Entre bebedeiras e amizades, Druk – Mais Uma Rodada tem muito o que falar

O filme dinamarquês Druk, adaptado para o Brasil como Druk – Mais uma Rodada, é, desde o seu título, uma sequência de gatilhos para quem assiste. E focando na droga lícita mais consumida no mundo, o álcool, temos um drama que iguala esses mesmos gatilhos a uma série de ensinamentos. Ainda não completei a minha maratona de todos os indicados ao Oscar, mas, desde já, começo a corrida nutrindo uma grande simpatia pelo filme do (também dinamarquês) diretor Thomas Vinterberg. Druk entra em temas rotineiros, presentes na vida de qualquer pessoa, e logo de cara nos coloca em uma posição de empatia por vários dos personagens. 

Tudo gira em torno de Martin (Mads Mikkelsen, de Doutor Estranho) um professor em crise. A rotina o fez invisível para seus alunos e também para sua família. No modo automático, ele passa a receber críticas e se depara em um momento de profunda tristeza. Até que em um aniversário, ele e um grupo de amigos começam a se abrir em relação ao tempo que está passando e o sentido de tudo que fazem. Um deles relembra de uma teoria pregada por um psiquiatra norueguês chamado Finn Skarderud. Segundo ele, o ser humano em suas condições normais, vive sempre com uma espécie de déficit de álcool no sangue. Buscando equilibrar esse déficit para se tornarem mais ativos, felizes e bem-sucedidos, eles suprem essa “deficiência”, sempre em, digamos assim, horário comercial. É claro, já dá pra deixar claro aqui, que você não deve fazer esse teste prático.

druk amizade e bebidas
Druk: o começo de uma experiência bem interessante

A tese realmente existiu, e no filme, vemos que a ideia é espelhada em personalidades que fizeram história. Martin usa suas aulas para ilustrar – aos alunos e aos espectadores – como mentes tidas como brilhantes, como a do primeiro-ministro britânico Winston Churchill e do escritor Ernest Hemingway se relacionavam com a bebida. Todos levavam um estilo de vida onde copos e garrafas estavam sempre presentes. E claro, de imediato, a experiência dos amigos vai se mostrando exitosa. O brilho causado pelo álcool tem impacto direto nas relações sociais, profissionais e pessoais de todos eles. Confesso que é fácil ficar tentado a colocar em prática essa ideia.

druk martin ilustra bem a teoria
Druk: as aulas de Martin são um grande exemplo para quem assiste

Acontece que a ideia vai ultrapassando alguns limites da lógica e da razão (quem nunca?). É quando temos os detalhes explorados durante todo o andamento do filme aparecendo não só como um formador de contexto, mas, impactando negativamente em tudo que os, agora quase alcoólatras, estão fazendo. Mas não entrarei em território de spoilers por aqui. Basta dizer que a reviravolta poderá te fazer chorar em pelo menos dois momentos. E neles, vemos que Thomas Vinterberg conduz sua narrativa de uma forma muito homogênea. As sutilezas estão presentes e ele não precisa ser tão explícito, causando o incômodo necessário para colocar um ponto final na experiência dos professores.

druk mais uma rodada
Druk: momentos de amizade e de gatilhos

Druk acerta ao explorar a amizade e a contextualizar o marasmo que nossas vidas, invariavelmente passarão, em algum ponto da nossa trajetória neste plano. O que podemos fazer para que rotinas não nos vençam e não nos ceguem diante das pessoas mais queridas que temos à nossa volta? Tudo isso aparece em Druk, casado com uma ótima fotografia e atuações. Vários componentes trabalhando à favor da narrativa, que acaba no mesmo ritmo musical em que começa.

Vale a pena conferir. E talvez com uma taça de vinho do lado. Ou cerveja. Ou o aperitivo que lhe for de agrado. Mas, novamente… não repita essa experiência em sua vida. Cuidado com os gatilhos.

Saúde!

*Druk estreia nos cinemas que estiverem abertos e nas plataformas de aluguel digital no dia 25 de março.

Veredito da Vigilia

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