CríticaFilmes

Em “Moonfall: Ameaça Lunar” Roland Emmerich consegue superar “2012”. E isto não é uma boa notícia.

Não é segredo para ninguém que o diretor Roland Emmerich gosta de fazer filmes sobre o fim do mundo, sobretudo com destruições bem exageradas. O responsável por 2012, Um dia depois de amanhã e Independence Day voltou e agora lança Moonfall, que no Brasil ganhou o subtítulo de Ameaça Lunar.

Repleto de clichês e seguindo seu próprio modelo de fazer cinema, o diretor apresenta agora o filme que deve ser o mais preguiçoso e presunçoso de sua carreira. Com personagens rasos, atuações fracas e cenas sem sentido, o filme parece que só repete chavões e ainda dá voz para movimentos e situações lamentáveis.

Podemos começar pelo protagonista. John Bradley-West (o Sam Tarly de Game Of Thrones) é o que seria considerado o “nerd da cadeira”, por Ned na nova saga do Homem-Aranha. Na tentativa de colocá-lo como alívio cômico, o roteiro reforça estereótipos e faz piadas gordofóbicas repetidamente. A paixão dele por Elon Musk, o fato dele viver trancado em um quarto ou até mesmo um de seus empregos ser em uma lanchonete de fast-food (recurso comum em produções audiovisuais: unir a pessoa gorda à cozinha, como vimos também em Verdades Secretas) podem até parecer, mas não são o pior na construção desse personagem. Aquele que descobre uma teoria para salvar o mundo de uma ameaça fatal acredita em teorias da conspiração e em extraterrestres. Um absurdo se formos levar em consideração que estamos em plena pandemia de Coronavírus e o movimento anti-vacina está levando tantas pessoas à óbito. Isso ainda fica mais agravado se formos pensar na realidade do nosso país. Nenhum herói pode ser apresentado como alguém que duvida da ciência.

Mas se você pensa que esse personagem é um ponto fora da curva, está enganado. Jocinda (Halle Berry) e Brian (Patrick Wilson) não ficam para trás. Ambos têm histórias superficiais, confusas e desdobramentos rápidos. A relação dos dois com os filhos, com os casamentos fracassados e com os anos sem contato é rapidamente resolvida. Tudo muito raso. As atuações também não ajudam. Para o elenco infantil, faltou preparo – deviam aprender com Daniel Rezende em Turma da Mônica. Tramas aleatórias surgem a todo momento sem explicação, pessoas são adicionadas e o que deveria ser desenvolvido, fica quase esquecido.

Os efeitos visuais, que deveriam ser um carro-chefe, também deixam muito a desejar. Uma produção com investimento poderia ter caprichado mais e dedicado mais tempo à suas finalizações. Em uma das cenas, a lua aparece rapidamente. A forma em que tudo acontece é tão tosca que parece ter sido feita no Windows Movie Maker do início dos anos 2000. 

Atenção: a partir de agora, os parágrafos a seguir podem conter spoilers. 

Quando disse, na introdução deste texto, que o filme era presunçoso, preciso desenvolver um pouco sobre seu roteiro. Segundo Moonfall: Ameaça Lunar, a lua seria criada por HUMANOS, nossos antepassados, e gerenciada por uma inteligência artificial “do bem”. Ou seja, até a lua e a inteligência que gerenciaria ela, foram humanos que criaram. Porém, os problemas começaram quando essa inteligência se rebelou e virou maléfica.

Por “maléfica” entenda: visualmente muito parecida com os demogorgons de Stranger Things. Isso mesmo. Parece que o diretor se inspirou livremente. Até a forma de ataque é similar. Além disso, a lua exigia um “sacrifício humano” para que tudo voltasse à órbita. Um tanto quanto bizarro.

Para falar que não falei só de espinhos, preciso dizer que a trilha sonora é ótima. Você vai querer sair do cinema e escutar a música África, do Toto. Os efeitos sonoros são bons e conseguem levantar um pouco do restante do filme. 

Como já diria Marcelo Dourado no BBB10, se referindo à 2012, “esse filme mudou meu conceito de horrível”. Se ele assistisse Moonfall – Ameaça Lunar, teria que atualizar novamente seu vernáculo de conceitos.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *