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Elvis, de Baz Luhrmann, é um deleite musical e de grandes atuações

“If you’re looking for trouble / You came to the right place / If you’re looking for trouble / Just look right in my face”. Com um trecho de Trouble decido abrir este texto. Porque Trouble, ou Problema, talvez é uma das músicas que melhor pode definir Elvis Presley. Mas, após encará-lo durante duas horas e quarenta minutos de filme, você se afeiçoa ao problema. Elvis, do diretor Baz Luhrmann (O Grande Gatsby e Moulin Rouge) faz até aqueles que não são grandes fãs do cantor, saírem em êxtase. Estamos, queridos leitores e queridas leitoras, em frente ao primeiro grande filme do Oscar 2023.

Com pré-estreia prevista para 13 de julho, Dia do Rock, o filme do imortal Elvis vai fazer com que você saia com a discografia na cabeça. Minha rádio mental toca Suspicious Minds desde o momento que saí da cabine de imprensa.

Baz Luhrmann traz sua assinatura autoral e característica à obra. Música, cores, sofrimento e muito amor. Assim, como em Moulin Rouge, a história é contada com a costura das músicas. É um filme musicado, não um musical. O encaixe de tudo parece funcionar como uma grande engrenagem lubrificada. O primeiro ato é um misto de muito rápido com muito devagar. Você precisa de uns minutos para entender exatamente aquilo que está acontecendo. Quando entra no ritmo, o deleite vem.

Atuações excelentes marcam Elvis

Com uma decisão ousada de roteiro, de explorar a relação entre Tom Parker (Tom Hanks) e Elvis Presley (Austin Butler), criador e criatura, mentor e mentorado, professor e aluno, foi acertada. Abordar apenas a vida e a carreira de Elvis poderiam deixar o filme comum. E Elvis não é. É um filme que será lembrado principalmente, na noite de premiação da estatueta mais cobiçada do mundo.

Austin Butler é a grande surpresa positiva. O ator, que veio do Disney Channel, conhecido como um Disney Star e que participou de Era Uma Vez em… Hollywood e Shanara Chronicles conseguiu fazer jus ao grande “Trouble” que se enfiou. Afinal, temos certeza que você jamais vai esquecer da atuação de Rami Malek no controverso Bohemian Rapsody. Mas Austin Butler canta, dança e convence muito com seu primeiro grande protagonista. Tenho certeza que ouviremos muito falar o nome dele.

Você terá medo de Tom Hanks em Elvis
Você terá medo de Tom Hanks em Elvis

E chegar às telonas com todo este destaque, interpretando um nome com uma legião de fãs e contracenando com Tom Hanks deve ter sido uma tarefa quase inglória. Mas ele vai bem. Assim como seu parceiro de cena. Tom Hanks é ele. Tom Hanks. Um ator que consegue superar suas próprias atuações. Do início ao fim do filme, ele desperta emoções horríveis no espectador. Sim. Você terá raiva. Medo. Nojo. Asco dele. Todos esses sentimentos misturados. E vai querer defender Elvis. Contudo, preciso parar por aqui.

Baz Luhrmann conseguiu grandes feitos no filme. Criou uma atmosfera convincente das décadas em que a história se passa. Colocou as cores e a música para trabalhar para ele. E conseguindo escrever duas subtramas importantíssimas no filme.

A primeira, que permeou a vida de Elvis é a questão do apartheid e da música que ele cantava. Elvis cresceu em um bairro de pessoas negras em uma época onde era contravenção brancos e negros se misturarem. Toda a sua raiz e formação musical do ritmo considerado negro. Unia-se a isso seu jeito de requebrar e aí vamos para o segundo ponto. Elvis provocava em seu público, majoritariamente feminino, um prazer praticamente sexual, o que era muito reprimido na época. Em uma das grandes cenas sutis do filme, vemos um grito de libertação de uma das suas fãs. É como se ela gritasse por todas as mulheres que não querem viver em uma repressão sexual, que enfrentamos até hoje. 

Austin Butler vai muito bem no papel de Elvis
Austin Butler vai muito bem no papel de Elvis

E aí, nosso Trouble boy vai começar a criar problema. E o resto é história. Uma bela história. Que vai valer cada centavo do ingresso e vai te fazer sorrir, chorar, viver intensamente as quase 3 horas de filme que, da forma em que foi construído, nem parece tanto.

Veredito da Vigilia

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