El Silencio del Cazador: conflitos e rivalidades viscerais | Crítica
O primeiro longa estrangeiro exibido na versão “em casa” do 48º Festival de Cinema de Gramado foi o argentino “El Silencio del Cazador”, na noite do dia 18 de setembro. A história aponta para um típico conflito de cidade interior, onde dois homens, com diferentes perfis, se relacionam com uma mulher. Numa ideia de tríplice fronteira entre Argentina, Paraguai e Brasil, temos o cenário que mescla grandes fazendeiros (donos da cidade) caçadores, guardas-florestais e comunidades indígenas (explorados por esses “patrões”), somos apresentados a uma realidade quase que comum no contexto dos países desse eixo da América Latina, criando um contexto de coronelismo, afeto, mas acima de tudo rivalidade. E entre os homens (e a mulher em questão), um pano de fundo que aponta para um grande felino que estaria acabando com rebanhos de fazendeiros pobres e ricos.
A direção é de Martin Desalvo, que mantém uma carreira expressiva entre filmes e séries de TV. No elenco temos dois rostos bem conhecidos. Um deles para os fãs de Narcos, com Alberto Ammann (que interpreta Pacho Herrera na série da Netflix) e outro é César Bordon (de Relatos Selvagens), que aqui faz uma ponta. Em El Silencio del Cazador, Ammann é o antagonista Venneck, que vai bater de frente com o guarda-florestal Guzmán (Pablo Echarri). Guzmán, por sua vez, é casado com a médica rural Sara (Mora Recalde), uma profissional comprometida com as comunidades carentes que atende.
O longa de cara coloca as cartas na mesa. Guzmán aparece prendendo caçadores em sua área protegida, enquanto Venneck aparece incentivando crianças a atirar em animais silvestres, ao mesmo tempo que Sara está tratando problemas em um povo que sofre as consequências de um pesado trabalho de campo para os patrões da família do “playboy rural” Venneck. A aparição de vacas e outros animais da fazenda mortos com sinais de cortes e mandíbulas fica como pano de fundo a todo o conflito que será estabelecido entre o protetor florestal, o fazendeiro e a médica.
As conexões entre eles se estabelecem de forma bem didática, de forma que podemos aos poucos prever tudo que vai se desenhar: a guerra entre os homens, a aldeia atordoada, e o amor que já existiu entre Sara e Venneck. Enquanto Guzmán tenta fazer com que a polícia barre de vez a caça irregular e o porte ilegal de armas do fazendeiro, algumas jogadas levam Sara dos braços de Guzmán para o bad-boy interpretado por Ammann – entre elas uma morte em família. Tudo se desenha para um grande embate dentro da floresta. E é realmente o que acontece, cabendo ao espectador aguardar de que forma a cortinda da história, a mítica do grande felino, vai se cruzar com o conflito dos homens. E quando isso acontece, é realmente bonito de ver.
Você pode acompanhar toda a programação do 48º Festival de Cinema de Gramado pelo Canal Brasil.