El Camino, o evento para matar a saudade de Breaking Bad | Crítica
Com a devida atenção dos fãs de uma das melhores e mais bem finalizadas séries da cultura pop contemporânea, a Netflix jogou em seu catálogo “El Camino – A Breaking Bad Film”, no dia 11 de outubro de 2019. A produção traz o roteiro e direção de Vince Gilligan, criador de Breaking Bad, e boa parte do elenco que nos deixou em 2013. E mesmo com tudo isso novamente reunido, El Camino não chega a ser aquela obra que os próprios idealizadores nos fizeram acreditar. Aquela obra que era necessária ser contada, “pois jamais mexeríamos na série se não fosse algo realmente impactante”. A verdade é que El Camino acaba sendo no máximo um bom e longo episódio da série, mas nada equivalente ao seu desfecho ou mesmo aos melhores momentos na penúltima temporada. Um exercício interessante é também pensar: Será que El Camino funciona bem para quem nunca assistiu Breaking Bad? Se você é uma dessas pessoas e por acaso chegou até aqui, por favor, deixe sua opinião nos comentários.
A celebração de 10 anos de Breaking Bad na San Diego Comic Con em 2018 mostrou que os fabricantes de metanfetaminas continuam com tudo. Mas desde sempre soubemos que a dobradinha favorita Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) dificilmente repetiriam a dose. Principalmente sabendo que El Camino é basicamente o dia após o desfecho de Breaking Bad, no episódio Felina, que foi ao ar no dia 23 de setembro de 2013.
E é assim que tudo começa. Jesse está tentando colocar a vida nos eixos (se é que isso é possível) após todas as desgraças. Para isso, Vince Gilligan cozinha o espectador em fogo baixo por quase uma hora, com takes lentos e uma narrativa que vai e vem no tempo. O fã mais atento vai notar que algumas coisas acabam ficando bem estranhas, como o fato de termos um Jesse Pinkman seis anos mais velho e com um porte físico bem diferente, e que acaba “dando corpo” inclusive para o Jesse desses mesmos seis anos atrás. A diferença fica bem evidente. E fica também para os outros personagens que vão aparecer por ali, entre eles o próprio Bryan Cranston, Todd (Jesse Plemons) e Jane (Krysten Ritter). Também joga contra o fato de que nem todo mundo vai lembrar de todas as referências. Afinal, a série encerrou há muito tempo, e desde então você provavelmente já viu muitas outras. Ao mesmo tempo é interessante o exercício de relembrar todo esse universo.
Com Jesse precisando organizar as coisas, ele vai acabar lidando com a perseguição da polícia, o envolvimento de terceiros e interessados nos rastros lucrativos deixados por ele e por Walter, a dupla responsável pelo maior esquema de tráfico de anfetaminas de toda a história dos Estados Unidos. As passagens marcantes da série estão todas em El Camino. O checklist começa com takes no deserto de Albuquerque, trips diversas pelo cenário seco e sem vida (e até alguma cantoria durante essas trips), o submundo do crime e personagens que circularam na vida de Jesse. Como cereja do bolo, é claro, temos flashbacks para deixar os fãs ainda mais saudosos. E claro, temos as cenas tensas que nos seguraram tão fortemente em Breaking Bad.
Tudo isso entrega um bom telefilme, um bom episódio de Breaking Bad. Ainda assim, longe de ser uma das maiores passagens de Vince Gilligan por Albuquerque e seus personagens. Vale pela nostalgia.