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Críticas rasas e reviravoltas aleatórias marcam The Voyeurs, novo filme do Prime Video

Em The Voyeurs um jovem casal se muda para um grande apartamento onde a visão privilegiada os leva a stalkear de forma bem bizarra um outro (belo) e jovem casal do prédio ao lado. Por lá, os observados parecem fazer questão de chamar a atenção, entregando um entretenimento de primeira nessa época de espiadinhas, muitas telas (pagas) e uma quase obsessão por fatos que possam gerar comentários. A metáfora com as redes sociais na internet, a superexposição e a busca por sucesso a qualquer custo – sem ler os Termos de Adesão, por exemplo – não são coincidências no filme de Michael Mohan (da série Everything Sucks), que entrega um bom entretenimento na maioria do tempo. O longa estreou dia 10 de setembro no Prime Video.

A apresentação dos personagens, dos fatos e as pimentas jogadas na trama fazem de The Voyeurs um filme bem atraente. Afinal, até onde pode chegar a curiosidade e a quase obsessão por vigiar território alheio? A grama do vizinho sempre parece mais verde, não é mesmo? É nessa curiosidade – que move boa parte da humanidade atualmente – que o filme se apoia, até que as barreiras da razoabilidade começam a se romper. Nesse quatrilho temos Pippa (Sydney Sweeney, de Euphoria) e Thomas (Justice Smith, de Genera+ion e Jurassic World) como observadores, além de ‘Seb’ (Ben Hardy, de Bohemian Rhapsody) e Julia (Natasha Liu Bordizzo, de Atentado ao Hotel Taj Mahal, The Society) como o casal observado (mas sempre provocador). O elenco consegue dar a carga necessária para o desenrolar dos fatos e cada um entrega muito bem o que a trama precisa. Pippa é quem começa a esquentar o clima com o fato de ver os vizinhos, normalmente em situações sexuais, enquanto Thomas é quem começa a questionar a “legalidade” das ações. Seb é o sex symbol e um verdadeiro galanteador, e Julia faz o papel da moça traída. Todas as peças são facilmente reconhecíveis no tabuleiro.

justice smith e sydney sweeney em the voyeurs
Sydney Sweeney e Justice Smith estão em The Voyeurs

Mas, como se pode imaginar, a curiosidade e os limites serão absurdamente quebrados. O fato de não sabermos o que vai acontecer é realmente instigante. Emulando um Janela Indiscreta (mas somente pelo fato de termos janelas e observadores, o comparativo com o mestre Alfred Hitchcock termina aqui), The Voyeurs apela para algumas situações bem aleatórias e que realmente nos fazem torcer o nariz quando são concretizadas. Principalmente quando o casal de observadores emula equipamentos dignos de um 007 para dar ainda mais profundidade ao seu vício de observar os vizinhos. A explicação do roteiro para que o filme chegue em seu clímax pode até passar pelo mais descrente, mas o que vem depois acaba dobrando a aposta, e aí sim fica difícil de comprar as novas reviravoltas e resoluções. O “all-in” do diretor tropeça em sua própria audácia.

the voyeurs
The Voyeurs: Ben Hardy sendo isca para os stalkers

Detalhar essas reviravoltas por aqui seria um desserviço a quem for assistir. É melhor ter as surpresas boas – e depois as ruins – com o desenrolar do filme, que, no frigir dos ovos, acaba sendo uma boa distração para o seu cinema em casa.

The Voyeurs chama bastante atenção por sua apresentação e conflitos. Tem seu ápice após algumas decisões aleatórias e bem discutíveis, e, tem seu maior problema no desfecho. As principais reviravoltas são pouco (ou quase nada) críveis, jogando aquele balde de água fria no expectador. Não conformado com essas viradas de roteiros bem problemáticas, diretor e roteirista (no caso, a mesma pessoa), ainda apela para uma sequência de vinganças dignas de gênios do crime, sepultando de vez o bom primeiro ato e todo o suspense que foi construído. E todas essas definições colocam The Voyeurs em um patamar de filme do “Supercine” (para usar um comparativo bem popular), que tem apelo, tem mídia, mas não tem tanto valor como obra completa. As propositais críticas sociais são jogadas e expositivas demais, fazendo com que os vilões praticamente desenhem ela na tela, sendo quase uma confissão de culpa, afinal, o filme está acabando e isso não tinha ficado claro com tudo que foi mostrado. Como cereja do bolo, temos um final clichê e quase risível, mais parecido com um final de videoclipe, ou mesmo um trailer, do que propriamente um filme.

Veredito da Vigilia

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