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Colônia: nova série do Canal Brasil relembra os horrores de Barbacena

Existe uma passagem muito triste do Brasil, conhecida como o Holocausto Brasileiro, em que pessoas que não se enquadravam na sociedade patriarcal eram colocadas em hospitais psiquiátricos que não tinham a mínima preocupação em cuidar de alguém. Colônia, a nova série do Canal Brasil, que estreia na sexta-feira, dia 25 de junho e tem exibições todas as sextas, às 21h30, apresenta esses horrores de forma intensa, como se fosse um thriller psicológico.

Em Colônia, acompanhamos a história de Elisa (Fernanda Marques), uma jovem na casa dos seus 20 anos que chega ao Hospital no começo dos anos 70. Quem a manda para lá é o próprio pai, já que a jovem está grávida de sua paixão de adolescência e isso estragaria os planos de realizar um casamento arranjado com o vizinho, um senhor da mesma idade que ele, mas dono de terras. 

Fernanda Marques fez um ótimo trabalho em Colônia
Fernanda Marques fez um ótimo trabalho em Colônia

Elisa não apresenta nenhum sintoma de doença psiquiátrica, mas chega lá com um laudo de esquizofrenia. Além dela, outras pessoas chegam ou já estão na Colônia da mesma forma que a menina. Gilberto (Arlindo Lopes) foi enviado para lá por um conselho do padre da igreja que sua mãe frequentava, para “curar” a sua homossexualidade, Raimundo (Bukassa Kabengele) chega lá por ser alcóolatra, Valeska (Andréia Horta) é prostituta e amante de um prefeito, que a interna depois dela ameaçar entregar tudo para a esposa dele e dona Wanda (Rejane Faria), que chegou lá há mais de 30 anos com o mesmo “problema” de Eliza.

Os acontecimentos e abusos são tantos e tão fortes que, em algumas partes, fica quase difícil de assistir. Mas isso é um elogio à série e à produção, que deram veracidade às cenas. A escolha do criador, André Ristum (de A Voz do Silêncio), em apostar na estética em preto e branco deu à série uma perspectiva muito diferente. É como se aquelas histórias mortas, esquecidas, ganhassem vida.

Em cada início de episódio, recebemos um aviso: “As personagens desta série são fictícias. Os fatos aconteceram realmente”. Por si só, isso dói na carne. Assistir os horrores que aconteciam lá e imaginar que tudo aquilo foi real, que tudo aconteceu, que todos eram coniventes com aquilo, assusta, horroriza e choca.

Andréia Horta emocionou como Valeska na série Colônia
Andréia Horta emocionou como Valeska

É impossível não pensar como uma mãe, um pai, um marido, toda uma comunidade tem coragem de colocar uma pessoa no “Trem dos Loucos”, como chamava Guimarães Rosa, e encaminhá-los direto para aquele inferno. Todos sabiam o que acontecia lá, ninguém fazia nada para mudar. Colônia claramente servia para alojar pessoas invisíveis, (falamos disso também em Manhãs de Setembro) em um local para serem definitivamente esquecidas.

Depois de assistir a série, dificilmente você não vai procurar mais sobre esse local e ficar ainda mais chocado. E acho que esse choque é um grande trunfo de Colônia que consegue colocar no centro do debate a luta antimanicomial e trazer esse passado horrível para uma nova reflexão.

Du Moscovis (Bom dia Verônica) fez uma participação especial em Colônia
Du Moscovis (Bom dia Verônica) fez uma participação especial em Colônia

O trabalho é muito bem feito. As atrizes e atores estão excelentes, com destaque para Fernanda Marques e Rejane Faria. A produção torna tudo crível e intenso. Existem alguns pequenos errinhos de caracterização, com alguns objetos, óculos e vestimentas que parecem não se encaixar na época, mas isso não minimiza a grandiosidade da série.

Colônia é uma série que precisa ser vista e compartilhada. É uma série forte, impactante e que pode assustar. Sua trilha sonora e as imagens em preto e branco podem dar um ar de thriller de suspense. O mais difícil será esperar todos os episódios serem divulgados no Canal Brasil.

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