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Cavaleiros do Zodíaco – remake | Crítica da 1ª parte

Logo que as primeiras imagens, trailers e materiais do remake em 3D dos Cavaleiros do Zodíaco pela Netflix foram divulgados, os fãs (principalmente os mais fervorosos) torceram o nariz com as inúmeras mudanças que a série traria. Mas, se serve de consolo, a primeira parte, que estreou no dia 19 de julho, não é das piores. Os seis episódios (que não são de meia hora como havia sido divulgado, mas sim de 23 minutos) são “maratonáveis” de um jeito bem fácil.

Caso você não tenha assistido ainda, ou está pensando em rever a primeira parte, uma coisa deve ficar bem clara: o público alvo dessa produção. A começar pelo idioma original, que está disponível na Netflix, que é o Inglês. Sim, uma produção feita pela Toei Animation, criada por Masami Kurumada e com dezenas de spin-offs, com tudo envolvendo o japonês como língua mãe, assim como seus contextos, agora está sendo direcionada para outro público. Isso explica o Seiya skatista, que se desentende com uma gangue em um beco; um líder militar louco com muito poder bélico; lutas no deserto; Seiya de sombrero (?), atravessando uma fronteira e os nomes trocados dos personagens. Para o telespectador que acompanha a franquia desde o tempo da extinta Rede Manchete vai soar estranho.

Os gráficos estão bem mais infantis

Agora, se você assistir a Cavaleiros do Zodíaco em Português, o estranhamento vai ser menor. A dublagem realizada no estúdio VoxMundi Audiovisual, sob a direção de Francisco Bretas (o Hyoga de Cisne) fez questão de deixar os nomes originais, ao invés de seguir o que fez a Netflix, transformando Saori em Sienna, Shiryu em Long, Hyoga em Magnus, Ikki em Nero, e por aí vai. Até mesmo Shun de Andrômeda -que nesta versão mudou de sexo – , na versão brasileira não foi chamado de Shaun. Talvez para manter a nostalgia do público em nosso país, para atender aos mais velhos, e colocar até mesmo algumas gírias atuais para contemplar a garotada.

Em relação a história, por mais que temos essas adições de personagens, como é o caso do vilão Vander Guraad, ex-sócio de Mitsumasa Kido, e que deseja eliminar Atena com seu exército para evitar uma tal profecia, o restante da trama é bem fiel, puxando muito mais para o mangá. A cronologia, por mais acelerada que seja, está lá: Seiya é afastado de sua irmã; consegue a armadura de Pégaso disputando-a com Cassios; ruma para o Japão para participar da Guerra Galática; Ikki rouba a armadura de ouro de Sagitário; os Cavaleiros de Bronze lutam contra os Cavaleiros Negros (boa sacada não fazê-los iguais a Seiya e companhia, já que isso nunca fez sentido) e, por fim, o cavaleiro de Pégaso vence graças a ajuda de seus companheiros de bronze.

Seiya derrota Ikki com a ajuda dos seus companheiros

Uma prova de que estamos muito mais perto do mangá do que do anime, é a presença de Shaka de Virgem na Ilha da Rainha da Morte, logo após Ikki conquistar a sua armadura. Essa cena não é vista no anime. Aliás, o último episódio é o melhor de todos, e por incrível que pareça, o mais violento, pois, assim como já havíamos previsto em nossas teorias, o sangue e a pancadaria seriam diminuídos, e muito, em comparação ao material original. O gancho para a segunda parte, presente ainda neste episódio, talvez revele que a nova série está seguindo muito mais o mangá.

Ainda sobre as alterações, o que pode nos preocupar um pouco são os links que tínhamos com futuros personagens, e que poderão descaracterizá-los no futuro. Mú de Áries, por exemplo. Na trama original, Mú é apresentado quando Shiryu precisa reconstruir as armaduras de Pégaso e Dragão. Aqui, ele simplesmente aparece em um diálogo com o Mestre Ancião (que já tem o seu nome divulgado logo de cara, e não na Saga de Hades). Claro, por se tratar de um anime feito para um público mais infantil, colocar uma pessoa derramando a metade de todo o seu sangue para consertar as armaduras seria meio impactante. Talvez seja por isso que nenhuma delas foi danificada nos seis primeiros episódios, o que ainda deixa a dúvida no ar sobre o visual delas serem alteradas para futuras temporadas.

Pequenos arranhões são o máximo que as armaduras sofrem

Outra mudança significativa é a de que temos um vilão (Guraad), que está por trás de todos os embates, diferente do Grande Mestre, que planejava matar Atena em segredo no anime e mangá. Será que com isso a dupla personalidade de Saga de Gêmeos não será explorada no futuro? E Cassios, que agora é um Cavaleiro Negro, voltará a aparecer na história e ajudará Seiya a vencer Aiolia de Leão? Questões que talvez só serão respondidas em uma terceira temporada, já que a segunda parte irá focar nos Cavaleiros de Prata.

Mas vamos para a tão falada polêmica: Shun mulher. Bom, até o momento, esse personagem se mostrou tão poderoso quanto a sua versão masculina e até importantíssimos na luta contra os Cavaleiros Negros. A questão que poderá incomodar (Ikki sendo o seu Deus Ex-Machina) ainda não nos foi mostrado, então não podemos tirar uma conclusão antecipada. Talvez a decisão de manter o nome Shun no personagem feminina deixe algumas pessoas desgostosas (já que mudou de sexo, então poderia mudar de nome mesmo). Mas sejamos francos, isso com o contexto do personagem, essa mudança em quase nada afeta a nova história.

Shun/Shaun: a polêmica do novo anime

Ainda dentro dessa questão, temos a segunda polêmica, a da máscara nas amazonas. Até o momento, a única que a utiliza é Marin de Águia (que pelo que vimos, reforçará a nossa tese de que ela é a irmã de Seiya), enquanto Shina de Cobra, ou Ofiúco, utiliza apenas uma pintura de guerra no rosto, igual a da sua máscara na história original. Está mais do que evidente que o voto das amazonas amarem ou matarem quem as vê com o rosto descoberto estará descartado aqui. Provavelmente Marin só use a máscara para não saberem que ela é Seika, na verdade. 

Shina também está com o seu rosto descoberto, mas usa uma pintura no rosto igual a de sua máscara

Só para não passar em branco, precisamos falar sobre o humor na série. As piadas com a tampa de bueiro falante são completamente desnecessárias. Temos outros momentos, principalmente com Seiya sendo um alívio cômico muitas vezes, mas a maioria das piadas não encaixou.

Cavaleiros do Zodíaco na Netflix agradará o público raiz pelos seus fan services (por mais que de maneira corrida) e as novas gerações pelo apelo visual, que nada mais é um novo motivo para vender bonecos. Com uma história fácil de acompanhar, e uma animação que não chega a ser tão ruim assim como especulávamos, ela poderá trazer novos fãs para este universo, que consegue se manter por mais de três décadas até hoje, e que não se cansa de produzir materiais novos.

Veredito da Vigilia

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