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Beastars – O Lobo Bom lutando contra o seu lado Mau | Crítica da 1ª Temporada

O anime Beastars – O Lobo Bom, que estreou em março na Netflix, pode ser resumido em um termo: autoconhecimento. Essa reflexão se aplica não somente a Legoshi, o tal lobo bom, mas também a todos os protagonistas da série. O programa, que estreou originalmente em 2019 no Japão, é bem adulto, uma vez que mostra bastante sangue, morte e fala de sexo de maneira bem aberta. Todos esses motivos justificam a sua classificação 16 anos. 

Um dos momentos mais impactantes do anime

Na história, inspirada no mangá de Paru Itagaki, temos aquele famoso cenário High School, de tantas e tantas séries. Porém, aqui os personagens são animais antropomórficos, ou seja, com aparência humanoide. Esses seres vivem em um internato que separa os dormitórios em herbívoros e carnívoros. E é nesse contexto que acontece o que todos temiam: um herbívoro é devorado por um carnívoro. Após o ocorrido, as atenções e tensões ficam a mil no internato, acirrando ainda mais a disputa entre os dois grupos. É sobre essa disputa que está a grande sacada do anime, fazendo diversas analogias entre as relações humanas, que se fossem retratadas entre indivíduos de cores, gêneros, ideologias ou religiões diferentes, seria bem mais “delicado” de se apresentar na telinha. 

O convívio entre os animais nem sempre é harmonioso

Não bastasse tudo isso, nosso lobo-cinzento Legoshi se apaixona pela coelha-anã Haru, ou seja, um casal formado por uma predador e uma presa. Essa vibe meio Romeu e Julieta se estende por toda a temporada, não nos deixando felizes com a resolução, pois, sabendo que teremos a segunda temporada, essa “covardia” (ou seria enrolação?) pode durar muito mais. 

Romeu e Julieta versão animal

Por mais óbvios que sejam os arquétipos dos personagens de Beastars, são neles que o anime acerta em cheio, já que os temas são abordados de maneira bem-sucedida, de forma  muito “humana”, apesar da aparência de seus atores.

Falando nos atores, o primeiro deles é Legoshi, que luta literalmente contra a sua sombra. Aquilo que temos em nosso interior, mas teimamos em esconder ou relutamos em assumir. Esse debate é relembrado durante a maioria dos episódios, fazendo com que sua interação com comedores de carne ou de vegetais e afins sejam sempre reflexivas. Sobre a sua personalidade, o jovem de 17 anos, anda sempre cabisbaixo e possui poucos amigos no colégio, sendo a maioria deles seus colegas do grupo de teatro. Porém, ele é verdadeiro com todos, e também muito valente quando necessário. Seu jeito cativante, atrai os mais variados olhares de outros personagens. 

Um deles é o alce vermelho Louis, o típico popularzão da escola, que é a paixão de todas as garotas, e o astro no grupo de teatro, sempre interpretando o mocinho. É ele que faz a primeira referência ao nome da série, revelando que o Beastars é o animal que recebe esse título dentro do colégio, quase como um presidente do Grêmio Estudantil, por isso, o cargo é bem disputado. Louis é o oposto de Legoshi, e isso o irrita, já que ele procura sempre parecer forte, mesmo estando ferido ou assustado. Acredita que por ser um herbívoro, ele precisa estar se provando a todo momento e vê todos os carnívoros como uma ameaça, motivo esse que será revelado mais para frente na história. No final das contas vemos que sua ambição em ser o Beastars é mais forte do que qualquer sentimento.  

Louis com o seu ar de superior

Mas temos uma personagem feminina bem presente na história. A coelhinha já citada nesse texto, a baixinha Haru, possui um gênio forte, que não se abala mesmo com o bullying que ela sofre das outras garotas do internato. Muito menos quando sua vida está por um fio. Haru é solitária e busca preencher esse vazio com outros machos, provocando a ira de outras fêmeas (por isso o bullying). No entanto, nos é revelado que no fundo, ela sempre buscou ser tratada com igualdade pelos outros, que a enxergavam como um ser frágil e indefeso. O jeito como Legoshi a trata, a faz repensar muitas coisas sobre o andamento de sua vida. Se tivéssemos uma humana a interpretando, seria bem mais polêmico. Aliás, outras personagens femininas são retratadas de maneiras um pouco machistas, como quando colocam duas fêmeas brigando por um mesmo macho ou como lembram a cada momento, que a loba-cinzenta Juno é linda. Claro, se pararmos para pensar que são animais, as vezes podemos interpretar cenas assim como a parte instintiva desses seres falando mais alto.  

“Eu vi ele primeiro, Honey”

Obviamente outros personagens também enchem os olhos e os animais escolhidos para os retratarem são encaixes perfeitos com as personalidades propostas. Porém, do meio para o final, a série muda um pouco o foco, mas sem perder o debate principal, que é a relação entre carnívoros e herbívoros e a cadeia alimentar. Sempre na metáfora, é claro.

Os clichês também fazem o anime perder um pouco o brilho, com os típicos personagens vistos em uma série High School: o mocinho invisível e tímido gosta da garota que namora o cara mais popular do colégio; esse cara popular no fundo é uma pessoa legal; temos também o escroto do colégio que leva uma surra do mocinho; um aluno é assassinado no início da temporada; adolescentes procuram resolver crimes sem a ajuda das autoridades e uma garota entra no meio da trama para gostar do mocinho, só para fazer ciúmes. Nada disso é novidade. Sem falar nos momentos de Deus Ex-Machina, que são manjados. 

Aposto que esse panda fez essa besta com o que sobrou da janta dele

No final das contas Beastars conseguiu retratar o comportamento humano com animais muito melhor do que se tivesse utilizado o próprio Homo Sapiens. Seu traço é muito bonito, com mudanças no estilo de animação em momentos específicos (como a abertura em Stop Motion). Vale ressaltar que o anime é perfeitamente maratonável, fluindo muito bem. Contudo, seu mistério inicial não desvendado (mais meio óbvio) e a trama final um tanto forçada (mas necessária para mostrar algumas coisas e resolver outras) fazem a obra toda perder um pouco da empolgação criada inicialmente. 

Veredito da Vigilia

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