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“9”: futebol, sonho e projeção

Muitas vezes, pais projetam ou esperam coisas que os filhos não querem ou não podem entregar. É isso que acontece em “9”, filme que é uma parceria entre Uruguai e Argentina exibido na Mostra Competitiva de Longas Estrangeiros no Festival de Cinema de Gramado.

Dirigido por Martín Barrenechea e Nicolás Branca, o filme conta a história de Christian (Enzo Vogrincic), um jovem jogador da Seleção Uruguaia que agride outro jogador da Colômbia. Ele é expulso e ganha uma punição.

E é durante esse tempo da punição que Christian começa a questionar o que realmente quer para a vida dele. Será que ele gosta mesmo de futebol ou essa é uma projeção de seu pai, Óscar (Rafael Spregelburd)? Desde o início, vemos que para Óscar, seu filho é um número e um retorno e investimento financeiro. Ele precisa jogar futebol para que os dois possam continuar levando a vida que levam, no condomínio de alto padrão.

Tudo muda quando Christian conhece Belén (Sofía Lara), uma menina que joga tênis em seu condomínio. Belén mostra para o jogador um mundo totalmente novo e começa a provocar questionamentos em relação às escolhas do garoto.

Belén (Sofía Lara) provoca Christian (Enzo Vogrincic) para viver uma vida comum
Belén (Sofía Lara) provoca Christian (Enzo Vogrincic) para viver uma vida comum

Belén, na verdade, faz um papel muito maior que de amiga ou namorada para Christian. Ela mostra que ele pode ter uma vida normal, fazendo coisas de jovem normalmente e se desprendendo das garras do seu pai.

Enzo e Rafael vão muito bem em seus papéis. O iniciante Enzo surpreende fazendo um Christian palpável e crível. Temos a certeza que já vimos esses dilemas antes. A química entre os dois, como dupla de pai e filho funciona bem e faz sentido no todo. A construção dos seus personagens é muito interessante.

Com uma boa fotografia e uma trilha sonora que abraça o filme, “9” leva ao espectador bons momentos em suas camadas. O filme se resolve se você estiver prestando atenção em tudo o que está sendo apresentado em conjunto. Afinal, a junção de imagens e diálogos faz uma narrativa muito interessante.

No final das contas, “9” é sobre um jovem descobrindo quem ele pode ser depois de viver tanto tempo nas garras de seu pai. A projeção paterna, a necessidade do filho ser o provedor da família, o futebol, as festas e tudo que podemos lembrar dos grandes craques da América Latina está ali. A tabelinha entre Uruguai e Argentina resulta em um filme importante, bem feito e que conta com boas atuações.

Veredito da Vigilia

Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto

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