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Venom: a adaptação que não muda nada | Crítica

Acalme-se fã de quadrinhos. Venom estreia no Brasil no dia 4 de outubro, longe de ser a catástrofe de Mulher-Gato (Pitof, 2004) com a estrela Halle Barry, ou mesmo a releitura de Quarteto Fantástico (2015), que fez Josh Trank tretar com o estúdio por operarem o seu corte final. Dito isso, também não vale qualquer epifânia. Venom é um filme que adapta uma origem de um dos mais icônicos inimigos do Homem-Aranha, no entanto, por questões contratuais, sem qualquer menção ao aracnídeo mais amado dos quadrinhos. E isso tira toda a graça de existir do simbionte alienígena que encontra no repórter Eddie Brock (Tom Hardy) o hospedeiro mais adequado para sua sobrevivência na Terra. Mas, está feito.

O diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia) e as estrelas Tom Hardy e Michelle Williams se arriscaram no projeto que não renova e não traz nada de novo para o vasto universo de adaptações de quadrinhos para as telonas. Logo nos créditos iniciais, a frase “em sociedade com a Marvel” já serve como um amparo: você não está em uma produção com dedicação total da Marvel Studios. Mesmo assim, Venom pode servir como um blockbuster “ok” para o mais desavisado frequentador de cinema.

Vale lembrar ainda que Venom foi criado nos anos 80, tendo sua origem vinculada a uma das maiores sagas do Universo Marvel. Após voltar do espaço com um traje renovado em Guerras Secretas, o Homem-Aranha sente-se mais forte e mais poderoso que nunca. Ele não sabia que o fato de ter trocado de roupa em um ambiente espacial lhe traria tanta desgraça. Foi assim que Todd McFarlane e David Michelinie, tempos depois, ligaram o aracnídeo a um simbionte alienígena. Em Venom, o filme, o perigo também veio do espaço, assim como contado no desenho do Cartoon Network dos anos 90, quando o filho de J. Jonah Jameson volta da lua com o ser em sua nave. Foi assim também no cinema em 2007, em Homem-Aranha 3 (Sam Raimi, 2007). E agora, ameaça alienígena chega logo nas primeiras cenas, ligando uma espaçonave que bateu em um cometa (oi?) e passou a ser afetada pelos tais simbiontes alienígenas. Fica difícil comprar algum senso de ameaça, e os créditos iniciais não são lá os melhores momentos do filme.

Michelle Williams se esforça, mas com Tom Hardy não deu muito certo

Já a ambientação de Eddie Brock como um repórter, de certa forma até funciona, mas parece que Tom Hardy não nasceu para atuar em ambientes urbanos contemporâneos. Seus piores momentos são quando ele está se relacionando com outras pessoas (forte não?), e principalmente com a namorada Anne Weying (Michelle Williams). Logo de cara não compramos aquele relacionamento e a atuação de Hardy incomoda. Essa sensação chega ao ápice negativo logo após sua vinculação ao simbionte. Mas, de certa forma, passada metade do tempo, as coisas parecem melhorar. Hardy se sai melhor contracenando com ele mesmo do que com os demais.

O vilão fica por parte de Riz Ahmed (Rogue One: Uma história Star Wars). Ele faz o cientista Carlton Drake, dono da Fundação que trouxe os seres espaciais, e responsável pela derrocada do o repórter sem noção (Eddie Brock). Tudo porque Brock vasculhou  documentos no computador da namorada, e acredita que pode transformar uma pauta em benefício da Fundação Vida em uma grande denúncia mundial. No jargão jornalístico, ele queria transformar uma pauta 500 (matéria paga ou feita para falar bem de algo ou alguém) em uma pauta policial. E num mundo corporativo, isso nunca funciona. Além disso, Drake quer usar suas peças espaciais em cobaias humanas e faz as clássicas escolhas do cientista sem escrúpulos.

Riz Ahmed faz o vilão clichê e o equivalente “do mal” de Venom

Colocadas as peças no tabuleiro, vemos que o roteiro tem alguns furos temporais e Venom não entrega nada parecido com o gênero de terror, algo que parecia vender nos trailers. Pelo contrário, alguns respiros cômicos nos lembram que estamos em um blockbuster corriqueiro com mocinho, bandido, par romântico e … quem diria, uma ameaça global. Outra coisa que pode incomodar também é o fato de termos inúmeras mortes, decapitações e pasmem, nenhuma gota de sangue. Tudo pra não ganhar censura para maiores. Junto do roteiro meia-boca, temos também diálogos que não funcionam e clichês que chegam a doer no ouvido. De bom, os efeitos especiais, as cenas de ação – se um filme é gravado em San Francisco, sempre se tem uma perseguição pelas ruas cenográficas – e o ritmo fácil, que de certa forma flui bem. E como em todo o filme de origem da Marvel (mas aqui nem chega a ser culpa da Marvel Studios) temos um personagem que rivaliza com alguém que é seu equivalente “do mal”. O fato de que os simbiontes “possuem” alguns personagens e outros não também vai incomodar bastante.

Eddie Brock fala com seu novo amigo

Com tudo que já vimos no mundo Marvel e adaptações, também é de se esperar por cenas pós-créditos e a participação de Stan Lee. E claro, o pacote está completo. A primeira surpresa final revela o personagem de Woody Harrelson (mais um personagem ligado ao simbionte nos quadrinhos) e dá o clássico gancho para a continuidade. Já a segunda, será algo que surpreendentemente vai aquecer seu coração. E vai fazer você sair mais feliz do cinema. Estratégia rasteira da Sony para melhorar a sensação ao final de tudo. Mas fique tranquilo, não temos o novo Quarteto Fantástico, nem a tragédia que foi Mulher-Gato. Apenas um filme que não muda nada.

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