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Las Herederas (As Herdeiras): linearidade sem apelos | Crítica

O primeiro filme da mostra estrangeira do 46º Festival de Cinema de Gramado foi “Las Herederas” (que ganhou seu nome oficial após a exibição, passando a ser As Herdeiras). Com uma proposta muito linear de narrativa, o diretor Marcelo Martinessi trouxe para o festival a história de um casal que na terceira idade percebe da pior maneira que as heranças de suas famílias não foram o suficiente para viver. E isso pode impactar de formas improváveis suas já consolidadas vidas no Paraguai. Ao final do festival, o filme abocanhou as principais premiações. As Herdeiras ganhou os Kikitos de Melhor Roteiro, Melhor Atriz, Melhor Filme do Júri Popular, Melhor Direção e Melhor Filme pela Crítica. Confira todos os vencedores aqui.

Chela (Ana Brun) e Chiquita (Margarita Irún) vivem um relacionamento amoroso de décadas, mas suas características são diferentes. Enquanto uma é extrovertida e espontânea, outra é mais introvertida e tranquila, o que lhe impossibilita algumas ações. As dívidas estão tomando conta da vida delas, que começam uma triste rotina de desapego de antiguidades, móveis e utensílios de suas famílias (anteriormente abastadas). Pouco a pouco vemos a casa se esvaziando, em vários aspectos. Tudo contado sem pressa.

Elenco de Las Herederas (As Herdeiras), primeiro longa-metragem estrangeiro do Festival de Gramado de 2018. Foto: Edison Vara/Pressphoto

Porém, sem saber muito o que fazer – um dos desafios da terceira idade que não tem um amparo com outros parentes que possam lhe trazer mais informações e até mesmo uma atualização com o mundo exterior – Chiquita acaba sendo presa por suas contas que não foram pagas (uma sonegação de imposto por puro desconhecimento). O limite impõe uma triste rotina para Chela, que se amparava muito na força da companheira. Entre um móvel e outro que sai da casa, ela vai tentando levar a vida e passa a dirigir para amigas mais ricas (mesmo que tenha perdido a carteira de habilitação). É onde conhece outra mulher. Angy (Ana Ivanova) é outra mulher decidida, consciente de sua liberdade, seja qual for o contexto. E vai mexer com os sentimentos de Chela.

Entre uma volta e outra como motorista, visitas ao presídio e vendas das heranças e o envolvimento com Angy, Martinessi vai sublinhando dúvidas e contextos na vida de Chela. Ainda que conte uma história que traz um âmbito dramático, alguns temas talvez pudessem ser sublinhados de forma enfática. Ao mesmo tempo que mostra um relacionamento leve entre duas senhoras, que, como pessoas que são, têm ambições e desejos, ele não se arrisca tanto no tema quanto poderia, assim como no desfecho do filme, que mantém a regularidade vagarosa de toda a história sem surpreender.

As Herdeiras (Las Herederas) estreia em todo o Brasil no dia 30 de agosto.

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