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Benzinho | Crítica

Benzinho, filme de Gustavo Pizzi, que assina o roteiro, em parceria com Karine Teles, trouxe a família de uma forma leve, descontraída, e ao mesmo tempo, profunda e sincera, à tela de cinema na noite de sábado, dia 18 de agosto, no 46º Festival de Cinema de Gramado. O Palácio dos Festivais recebeu o filme protagonizado por Karine Teles, Irene, mãe de Fernando (Konstantinos Sarris), Rodrigo (Luan Teles), e dos gêmeos Fabiano e Matheus (Francisco e Arthur Teles Pizzi), que precisa lidar com a síndrome do ninho vazio (mesmo que ainda cheio), quando Fernando, seu filho mais velho, recebe uma proposta para jogar handebol na Alemanha.

Contudo, Benzinho e a própria Irene são muito mais do que essa premissa básica. Irene é uma mulher cheia de nuances. Uma mulher brasileira das mais clássicas. Ela batalha o tempo todo. Gerencia dois filhos gêmeos pequenos, um filho mais velho que joga handebol e o do meio que decidiu tocar tuba (isso mesmo!) na banda da escola. Enquanto isso, faz supletivo para terminar o Ensino Médio, se vira para prover a família, já que a livraria do marido, Klaus (Otávio Muller) não anda vendendo bem.

Durante os 95 minutos de filme, podemos dizer que vemos nossas mães em diversas situações e diálogos. Irene compra roupa que os filhos não gostam, passa as roupas de um dos meninos para os outros, faz janta, fica gritando o nome do filho até ele descer para comer, e, como não podia ser diferente, faz os filhos adolescentes passarem aquela vergonha alheia que só nossas mães conseguem fazer. E no final, assim em Como Nossos Pais, só queríamos dar um abraço nas nossas mães no final da sessão.

E é de forma sutil que percebemos, cena após cena, que vemos a carga mental que Irene carrega. Afinal, se ela não organiza o jantar, os filhos não comem. Se ela não compra roupa, ninguém se veste. Se ela não fala quantas gotas do remédio precisa ser dada para o filho mais novo, ele não é medicado. E por aí vai. Quando vemos um rompante (catarse) dela escutando música no MP3 de Fernando e comendo todas as “porcarias” que ela não daria aos filhos, vemos nitidamente um pedido de socorro. Um socorro de quem carrega o seu mundo nas costas.

Em Benzinho, também tivemos a presença marcante de Adriana Esteves. A atriz global foi uma coadjuvante que brilhou sem apagar o brilho de Karine Teles, e complementou de uma forma grandiosa, vivendo Sônia, a irmã de Irene, que sofre violência doméstica. Ela também se refugia na casa da protagonista, junto com o filho, e os dois se tornam membros do núcleo familiar. Outra vez, de forma sutil, temos um debate importante. Sônia procura a família, denuncia a violência que sofreu e ganha todo o apoio da irmã e do cunhado.

As irmãs que nos emocionaram!

Outras personagens que fazem parte desse mundo de Irene e sua família são as casas. Afinal, a casa onde eles moram, onde eles construíram a família deles, está se despedaçando. Na primeira cena, a porta trava e não abre mais, depois a torneira estoura e por fim, a parede que eles usam para entrar e sair cai. Ao mesmo tempo, eles possuem uma casa em construção, que está parada por falta de dinheiro e a casa de veraneio em Araruama, que Klaus insiste que deve ser vendida, para terminar a outra. A metáfora das casas são, sem sombra de dúvida, a representação do ciclo em que a família está passando. Em que um precisa ser encerrado, já que não está funcionando mais, para outro começar.

E com, uma cena derradeira, em que Irene mostra quem ela é definitivamente: o núcleo duro e quem impulsiona a família para frente. Ela vê um filho ir embora, chora e sofre um pouco, mas, logo precisa se recuperar para ver outro vencendo, trazendo o clímax de “Benzinho”.

Com relações familiares tão lindas e próximas, com a representação da mulher com essa carga mental, pedindo socorro, mas tocando a vida, sempre em frente, e sempre enfrentando tudo o que a vida coloca na sua frente, Irene e seus benzinhos fecharam, de uma forma linda, o segundo dia de exibições no Festival de Cinema de Gramado.

Benzinho pode ser conferido nos cinemas a partir de 23 de agosto. A Vigília recomenda.

Veredito da Vigilia

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