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A Voz do Silêncio: um mosaico de histórias | Crítica

A Voz do Silêncio, de André Ristum, é um mosaico de histórias entrelaçadas de forma orgânica. O filme teve sua première no dia 17 de agosto, durante a abertura da Mostra Oficial do 46º Festival de Cinema de Gramado, dando um bom início à principal vitrine do cinema latino-americano. Com um elenco competente, o filme é uma saga urbana que traz diferentes personagens e narrativas, culminando no mesmo instante de um grande eclipse lunar.

A Voz do Silêncio é um daqueles dramas que o Brasil faz com certa maestria. É intenso e aquele filme que o sofrimento nos é transferido. Os respiros são poucos, tudo graças a grande selva de pedras e a sociedade contemporânea das metrópoles. As pessoas não se importam umas com as outras, todo lugar é frio e hostil, e todos são prejudicados por contextos políticos e sociais, pela falta de relação, e claro, pelas suas próprias escolhas. A classe baixa é esmagada, famílias têm relacionamentos conturbados e ganhar a vida é bem complicado. Um resumo de várias camadas reais de São Paulo.

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Entre as diferentes personalidades temos uma mãe alcoólatra que vive ao redor da televisão (Marieta Severo); um operador de telemarketing (Arlindo Lopes); uma mãe argentina que tenta criar o filho; o seu pai, um locutor que está na fase final da vida (Ricardo Merkins); um retirante que trabalha em três turnos para pagar a faculdade (Claudio Jaborandy); uma bailarina que sofre uma crise repentina; uma aspirante a cantora que ganha a vida dançando em um Night Club (Stephanie de Jongh), um administrador abusador, e um dono de restaurante viciado

Todas essas histórias vão sendo contadas aos poucos. Ristum vai dando pistas de como cada um está envolvido com o outro, e com ajuda de recursos como a música, a televisão (com programas do estilo missa na TV com inserções do pastor interpretado por Augusto Madeira) e ligações telefônicas, vai fazendo a narrativa andar. Mas sempre com drama e sofrimento. Ao mesmo tempo, vamos sendo informados do grande evento da natureza que é o eclipse lunar.

Como uma babel mais focada em São Paulo, o cenário vai se mostrando e as conexões vão se explicando. Algumas vezes até exagera na forma que lhe revela algumas situações, para que ninguém perca a referência. Ao mesmo tempo que faz uma bela costura narrativa, a preparação para o paralelo com o fenômeno da lua sangrenta acaba ficando devendo. Após uma enorme preparação, ela acontece de forma tímida, sem trazer um grande momento climático ao filme, que encerra com a mesma perspicácia em que começou, e deixando aquele sentimento sofrido no expectador. Mas, aparentemente, era exatamente essa proposta.

A Vigília Recomenda.

 

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