“Tia Virgínia” diverte e arranca aplausos em Gramado
Tia Virgínia. Anote esse nome. O segundo longa da mostra competitiva dos filmes do 51º Festival de Cinema foi uma grande experiência coletiva, com direito a aplausos por três vezes mesmo antes de subirem os créditos. Tudo por causa de seu grande elenco de mulheres, e mais especificamente Vera Holtz. Ela é a Tia Virgínia, e é a grande atração do longa dirigido por Fabio Meira (As Duas Irenes), brilhantemente acompanhada de Arlete Sales e Louise Cardoso.
Tia Virgínia é um filme que lembra muito a escola uruguaia e argentina de cinema. O longa se passa todo em uma casa e retrata Virgínia (Vera Holtz). A tia solteirona que “sobrou” para cuidar da mãe, já muito idosa e que necessita de vários cuidados especiais. O filme todo se passa em um dia. Na véspera do Natal, Virgínia e sua mãe (interpretada por Vera Valdez) sempre acamada recebem as irmãs Valquíria (Louise Cardoso) e Vania (Arlete Salles), além de dois sobrinhos e Tavares, o marido de Vânia, em uma excelente ponta de Antonio Pitanga.
A partir das visitas, as relações vão se apresentando. As minúcias vão aparecendo, o passado sendo cutucado (e junto dele feridas não cicatrizadas) e o que pareciam três irmãs muito unidas vão se transformando no oposto. Tudo sempre amparado em grandes interpretações, que igualmente vão subindo de tom conforme as situações aparecem. E muitas delas são situações corriqueiras de família. Qualquer um pode se conectar. A irmã que não comparece aos aniversários, o ranço com quem não foi no velório do próprio pai. A insatisfação com o cuidado da casa em que a matriarca vive. Tudo que muitas famílias com certeza já passaram (ou ainda vão passar) em determinada fase da vida. Sobretudo a parte final da vida adulta antes da chegada da melhor idade.
Acontece que em Tia Virgínia, o início parece se amparar bem na comédia, que aos poucos vai acrescentando mais drama. Assistir em uma sessão lotada teve suas peculiaridades positivas. O público respondia às piadas e situações constrangedoras, relembrando sua força de ser sempre (ou deveria ser) uma experiência coletiva. O Palácio dos Festivais vibrou com a relação das irmãs, que começam a suspeitar que Virgínia está ficando louca.
A partir da descoberta de Virgínia sob a suspeita das irmãs, ela colabora ainda mais para que essa suspeição aumente. Na periferia da casa, Tavares já com o mental bem debilitado, e o sobrinho Bernardo (Iuri Saraiva) também aprontam das suas. Tudo com sua devida consequência. Falando em casa, ela é também um dos personagens do longa, assim como determinados objetos que farão parte de bons diálogos.
E toda a construção e os relacionamentos servem como uma grande mola propulsora. Um grande palco para Vera Holtz roubar a cena a cada aparição. Ela chama a responsabilidade e parece se divertir a todo momento, transbordando seu drama, humor e situações pitorescas da tela. Foi provavelmente uma das sessões mais divertidas que já presenciei durante todos os anos de cobertura da Vigília Nerd no Festival de Gramado.
Agora Vera, é só esperar pelo seu merecido Kikito.