Space Jam: Um Novo Legado aposta em LeBron James para resgatar personagens que não funcionam mais
Os novinhos há mais tempo como eu, certamente se lembram da febre que foi Space Jam, nos idos de 1996, quando a Warner teve a boa ideia de colar Pernalonga e sua turma ao maior jogador de basquete de todos os tempos, Michael “Air” Jordan, no auge de sua carreira. A ideia (na época) funcionou muito bem, casando de uma forma divertida os personagens tresloucados dos Looney Tunes com suas possibilidades em uma partida de basquete praticamente sem regras. Agora, a fórmula se atualiza, tirando uma trama de um planeta distante e a jogando para o mundo virtual. E, claro, com uma nova estrela do ramo, o extraordinário LeBron James, que muitos dizem rivalizar à altura com Jordan. A opção de quem é melhor, eu deixo com vocês. O que importa é que com tudo isso, chegamos em Space Jam: Um Novo Legado, que estreia dia 15 de julho nos cinemas brasileiros.
Embora seja realmente uma figurinha repetida e sem graça para quem assistiu ao filme de 1996, Space Jam: Um Novo Legado pode interessar as novas gerações. Não é à toa que a Warner encampou o projeto, já que é cíclica a sua necessidade de atualizar seus Looney Tunes para as crianças de agora. Mas é fato também, que Pernalonga, Patolino, Gaguinho, Frajola, Piu-piu, Taz e companhia também já não possuem mais grandes apelos, apesar de serem icônicos. E a história é praticamente igual, mas parece sem a vibração dos anos 90. A trama tenta conectar gerações, com LeBron e seu filho Dom (o estreante Cedric Joe). O astro do basquete projeta um novo jogador no caçula, que, na verdade, tem o talento para a criação de games, nos levando para o clássico conflito entre o desejo do pai e o talento verdadeiro do filho.
Com isso, ao receber uma proposta de carreira na Warner – o filme é muito auto referente, jogando basicamente todas as propriedades intelectuais famosas do estúdio na tela -, o “Algoritmo” da empresa acaba sequestrando Dom e o levando para o mundo virtual, um cenário de faz de contas dentro dos servidores e conexões da Warner Bros. Pictures, onde tudo é possível. Certamente essa é a condição ideal para se criar piadas com o que quiserem dentro do “Multiverso” (para usar uma palavra da moda) do estúdio da caixa d’água. O Al G. Ritmo (um claro trocadilho) é interpretado por Don Cheadle (Vingadores, Falcão e o Soldado Invernal). E sua ânsia por sucesso leva ao evidente jogo de basquete, onde os Looneys e LeBron precisarão vencer para: 1- voltar pra casa, 2- evitar que os Looneys sejam deletados, e 3- pai e filho nos ensinem uma óbvia lição de moral.
O problema todo é que Space Jam: Um Novo Legado parece realmente uma grande desculpa para jogar milhões de easter-eggs e focar na aparição de personagens de Game of Thrones, Batman e Liga da Justiça, IT, Gigante de Ferro, King-Kong em um mesmo filme, se esquecendo de deixar a trama com um pouco mais de substância. Vale lembrar que LEGO Batman fez isso com muito sucesso. LeBron, apesar do carisma, é visivelmente um peixe fora d’água, e os Looneys pouco agregam na graça do filme, sempre aparecendo com seus bordões clássicos e quase esquecidos ao longo do tempo. Para se ter uma ideia, o filme acaba tendo somente uma boa e grande piada, mas que é bem possível que as crianças sequer a entendam. Talvez nem mesmo os adultos terão bagagem para sacar todo o seu potencial. Requer um prévio conhecimento histórico de basquete e cinema.
O vilão de Don Cheadle é o clássico clichê de filmes infantis e basicamente serve para que as coisas aconteçam da forma que já sabemos que irão acontecer. É tudo realmente muito óbvio no andamento do filme. Nem mesmo a trilha sonora, tão marcante do filme original parece fazer jus ao legado de LeBron e Pernalonga, desperdiçando a música-tema clássica de 1996.
Por fim, Space Jam: Um Novo Legado pode até agradar bastante o público norte-americano, por todo o contexto do basquete e de um dos maiores estúdios de cinema do mundo, mas parece não ter o mesmo espírito e originalidade de outros tempos. O comparativo dos elencos com o filme de 1996 também acaba sendo quase uma covardia. O filme é um esforço compreensível, mas que não traz atualizações narrativas para além da troca de gerações e o visual renovado.