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Sexy por Acidente: sem graça de propósito | Crítica

É interessante iniciar essa crítica dizendo que, pessoalmente, não entendo qual é o “lance” da Amy Schumer e do tipo de comédia que ela faz. Se você que é fã dela está lendo isso, comente, por favor, me explicando porque ela faz o tipo de filme que ela faz, ou qual é o “lance” dela. Vai ver eu não entendo essa linha de comédia. Tudo é possível.

Sexy por Acidente traz uma realidade escrachada já bem conhecida: Renée (Amy Schumer) é uma mulher fora dos padrões e que sofre para poder se adequar. Até que um dia, um acidente acontece e muda tudo. O filme dirigido por Abby Kohn e Marc Silverstein (de ‘Ele não está tão a fim de você’ e ‘Como ser solteira’) chega aos cinemas brasileiros no dia 28 de junho.

O filme trata de vários padrões de beleza e veste Renée como se tivesse saído de As Patricinhas de Beverly Hills

Renée trabalha para uma grande empresa cosmética, porém, ao invés de estar no prédio principal na 5ª Avenida, ela fica em um porão em Chinatown, cuidando do site da empresa. Quando por um acaso ela precisa chegar até a sede, é como se um novo mundo se abrisse, cheio de mulheres incríveis, lindas, magras, vestidas e maquiadas para uma das semanas de moda internacional. Nesse momento, Renée descobre que há uma vaga para recepcionista e assim sua vida começa a mudar.

O filme todo é bem básico, simples e, um tanto quanto raso. As cenas seguem um jogo de câmera comum e mesmo o longa se passando em Nova Iorque, pouco se vê da cidade. A trilha sonora segue a linha pop chiclete que era bem usada no início dos anos 2000, usando, inclusive, a música Me Too, de Meghan Trainor. Casualmente, essa música ficou famosa não por ser muito boa, mas porque Meghan Trainor foi emagrecida digitalmente para o clipe e “não concordou” com a edição, pedindo para lançarem o original, sem edições.

A melhor parte dessa cena é Naomi Campbell. A outra parte muito boa é que essa cena acaba.

Tudo isso faz com que o sucesso de todo o filme dependa do humor, o que é uma falha sem precedentes. Ainda há uma parte da população que ri do humor que detona e oprime certos grupos sociais. Há quem ria de piadas com negros e negras, mulheres, gordos e gordas… É certo? Não. Mas ainda existe.

Amy Schumer faz um tipo de comédia pastelão que não tem o menor sentido. Uma das cenas mais ridículas de todo o longa é logo após o tombo que muda a vida de Renée. Ela acorda deitada no vestiário da academia e “começa a se ver com o corpo perfeito”. A recepcionista da academia apenas olha e ri, enquanto Renée, que continua absolutamente igual, se vangloria sobre como é bonita, como sua barriga é lisa, como suas pernas são definidas. É uma cena triste, sem graça alguma. Uma menina magra rindo de uma menina gorda que se acha bonita é um clichê tão gigantesco que chega a ser chocante ainda usarem. Estamos em 2018 e Sexy por Acidente traz piadas com pessoas fazendo cocô, tombos e características imutáveis, como no diálogo que há entre Renée e sua chefe Avery LeClaire (Michelle Williams), sobre como ela não se sente confiante para falar em público por causa de sua voz.

Nem a parte em que Renée se ama e se sente segura consegue salvar a produção, e só acaba reforçando a ideia de que “é bonito quem compra e você PRECISA DESSE PRODUTO para se sentir bonita”. É deprimente ver que um longa dirigido por uma mulher, com uma protagonista mulher e que retrataria a realidade de uma mulher possa trazer um discurso tão retrógrado. Um desses discursos usados é o de que mulheres que são confiantes se transformam em pessoas ridículas, diminuindo amigas, só se preocupando com a aparência e sendo “piedosas” com “amigas feias”, dividindo a atenção misericordiosamente. Mulheres seguras de si elevam outras mulheres, não diminuem elas. Competição feminina, gordofobia, pressão estética, discurso opressivo… Foi a primeira vez que chorei de raiva no cinema, pois não conseguia acreditar que aquele tipo de filme estaria nas salas do Brasil inteiro.

Sério, qual é o “lance” da Amy Schumer?

Se alguém assistir o filme e disser que ele é empoderador, sugiro que assistam de novo, pois com certeza você perdeu o ponto central, que é “você só pode ser meramente feliz se você comprar os produtos de beleza de segunda linha feitos para as conhecidas mulheres de verdade”. Infelizmente, não foi dessa vez que o humor conseguiu ser engraçado sem precisar destruir alguém. Se você estiver interessado, um outro filme que fica na mesma linha é O amor é cego (2001). É importante também deixar um aviso: não recomendo o filme para meninos e meninas que sejam sensíveis em relação a questões corporais.

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